A origem dessa amizade é antiga, bem antiga, datando ainda da pré-história, quando os lobos foram domesticados pelos homens como forma de companhia e defesa. Em períodos de grande fome, os animais domesticados acabavam virando o "lanchinho" de nossos ancestrais... o sacrifício da lealdade...


Com o tempo, esse status do cão foi modificado, pois sempre existiu pessoas que não concordavam com tais atos. Atualmente temos exemplos de associações protetoras de animais que zelam pelo bem dos cães, entre outros bichinhos. Mas mal sabem que essa atitude já é histórica e datada do século XIX na Inglaterra, local da criação da primeira Associação de proteção aos animais, que visava o fim do trabalho de tração realizado pelos cães.
Mas voltando ao assunto principal, a amizade entre seres completamente diferentes. SIM, existe, e o exemplo máximo é o homem e o cachorro (claro que temos outros lindos exemplos, como os gatos, papagaios, entre outros).
Há quem diga que o cão não tem alma. Eu digo que seria uma maldade o cão não ter alma, pois há uma nobreza de alma em cada cão que eu já conheci na minha vida. Há uma lealdade no olhar de cada cão que cruzou meu caminho, um sentimento tão profundo transparece naqueles olhinhos, que chega a ser impensável isso. Fora as personalidades diferentes, os gostos, as formas de demonstrar alegria, descontentamento, medo, aborrecimento... Há algo muito bonito em cada cão que cruzou meu caminho. E sei que no caminho de todo mundo, um cão foi, de certa forma, especial justamente por demonstrar essa alma em determinada situação, em determinado momento.
O segredo de toda convivência é tratar todos iguais de formas diferentes. O animal sabe disso e trata todos iguais, de formas diferentes. Luna fez isso durante seus anos compartilhados comigo.
Cito o exemplo da Luna porque foi o cão mais sincero que eu tive a oportunidade de conhecer e conviver durante lindos e curtos onze anos. Desde pequena sabia o que queria e não media esforços para alcançar seu objetivo. Arteira e sagaz, minha vira-latinha havia herdado de seus ancestrais das mais variadas raças (sua avó paterna era Doberman, seu avó Basset, seus avós maternos eram desconhecidos), e parece que esses genes a transformaram em um cão com as mais variadas qualidades e defeitos.
Todos os dias da sua vida, Luna dormiu debaixo da minha janela, todos os dias me esperava chegar da rua sempre com uma saudação de rabanada e quente lambida. Não tinha dia que me sentasse no sol que ela não estava lá, juntinha de mim para ouvir meus lamúrios e minhas alegrias. Assitia minhas aulas imaginárias, me ouvia falar sobre pintores perdidos, coisas estranhas e sabia, sempre sabia, quando eu mais precisava de apoio, pois era a sua patinha que encontrava minhas mãos e sua cabecinha a deitar sobre minhas pernas.
Não era ciumenta, não era chata. Sabia sua hora de aproximar. Dividia seu espaço, cuidava de quem gostava e de quem não gostava, mantinha distância. Dizem que o cão tem a personalidade do dono, pois bem, Luna era uma verdadeira capricorniana, pois nasceu tres dias antes de mim, em um dezembro chuvoso e inesquecível. Foi a dona do quintal e minha melhor amiga.
Não passo um dia sem me lembrar de seus olhinhos me seguindo, de seu andar languido, de seu sorriso canino quando ganhava um agrado... Sempre quando aparecia a lua no céu mostrava para ela a origem de seu nome, Luna, um devaneio de criança referente a Lua e as heroínas japonesas. Luna, no desenho era uma gatinha preta, linda e inteligente. A minha Luna era um cão preto e branco leal, inteligente e única.
E toda a vez que olho para o céu claro em noite escura, vejo a lua tão linda e já não tenho mais minha Luna para compartilhar a beleza da noite prateada. Na verdade só a saudade que povoa meus pensamentos... e sentimentos. Ela se foi, mas deixou marcado em mim um pedaço de sua alma canina e isso, isso é eterno...
Então, agradeço aos homens pré-históricos que iniciaram essa aproximação com os lobos que vieram a se tornar cães. Agradeço e espero que nós não nos tornemos pessoas cruéis para com os animais, pois eles sentem como nós. A dor que causamos a eles, podemos sentir também. "Nunca faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem a você". Essa máxima da convivência vale muito mais para a relação homem-animal do que para homem-homem, porque muitas vezes, os animais não sabem se defender...
Pense nisso, pense na alma de cada cão que cruzou sua vida em algum momento, é só se lembrar dos olhinhos deles para você, quando pensar em maltratar algum animal, seja ele qual for. São Francisco foi um dos primeiros a notar a beleza dos animais... todos nós podemos também...