
J.R.R. Tolkien surgiu em minha vida por um acaso em 2002, quando fiquei fascinada com um cd room que a America Online distribuía sobre o lançamento de um filme: O Senhor dos Anéis. Imaginem! Em 2002, a jovem que lhes escreve era ainda mais “jovinha”, eu tinha meus queridos e saudosos (ou nem tão saudosos) 15 aninhos, ou seja, querendo ou não, a abstração para o mundo de Tolkien ainda era meio complexa para mim.
Mas me fascinei com Tolkien e toda a beleza e poesia da Terra-Média retratada magistralmente pela equipe de Peter Jackson. Virei fã e corri atrás dos livros da saga. Queria saber em cada detalhe dos livros o que era aquele mundo tão fascinante.
Tudo bem, que com meus tenros 15 anos, eu já lia pra caramba e gostava de assistir uns filminhos de vez em quando. Já possuía um senso critico meio que apurado, pois não curtia os funks que minha melhor amiga curtia. Ou seja, já era de opinião. E era também tida como a “doida varrida” que gostava de universos fantásticos. Coisa que não mudou em mim.
Com Tolkien, muitas coisas boas surgiram na minha vida. Queria escrever como ele, apesar de não entender patavinas do que ele escrevia em algumas partes dos livros do Senhor dos Anéis, porém não desisti, porque aquilo tudo me fascinava, todos aqueles nomes, todas aquelas referencias que tinha fora do livro.... Por um instante, passei a acreditar vivamente na existência de uma Terra-Média antes das grandes civilizações históricas do mundo, que poderia ter desaparecido como Atlântida havia desaparecido. Aliás, Atlântida poderia ser parte da Terra-Média...
Não surtei, apenas me apaixonei por J.R.R Tolkien, que virou uma referencia. Depois de Tolkien uma vontade imensa surgiu em mim: o de também escrever um romance fantástico (nos dois sentidos) como Tolkien havia escrito. Sei que NUNCA vou escrever como o Tolkien, mas foi bom acreditar que poderia. Não queria usar das suas referencias. Queria criar meu mundo, criar meus personagens e meu enredo. Foi graças a essa vontade que consegui sobreviver à adolescência e por isso tenho sempre que agradecer a America Online pelo cd room que mandou para minha casa...
Enfim, em 2003 comecei a escrever meu romance intitulado “O Destino e o Fogo”. Mergulhava em mitologia para tentar criar algo original. Depois, lá para 2004, quando estava para me formar no Ensino Médio, me veio à idéia de me basear em lendas e mitologia da América. O mundo que eu queria criar não poderia ser mais eurocentrista. Parecia que algo me chamava à atenção.
É engraçado lembrar, que nessa época já conhecia J.K. Rowling e seu mundo de Hogwarts com nosso querido Harry Potter. Mas o mundo de Potter era um mundo semelhante ao meu, com apenas pitadas de magia, que deixava tudo, claro, mais fascinante. Tolkien era diferente e é diferente para mim. O mundo de Tolkien é algo palpável a imaginação. Você é levado pela sua mente a imaginar cada ser, cada lugar. Já com Rowling, as coisas são mais palpáveis a nossa realidade, até o quadribol é uma mistura fina de esportes conhecidos...
Mas voltando a Tolkien e a mim. Ontem à noite comecei a ler O Silmarillion, um dos livros mais complexos da saga de O Senhor dos Anéis. Confesso que irei ler “O Hobbit” para meus filhos, daqui alguns anos, se Deus quiser, junto ao Pequeno Príncipe, mas o restante da Saga, só mesmo quando eles já estiverem bem maiores...
O Silmarillion me chamou a atenção simplesmente pela beleza das palavras de Tolkien. Ainda quero ler toda a saga na língua original, mas mesmo assim, a sutileza com que ele fala da morte... Achei fantástico o fato de ele dizer que “Já os filhos dos homens morrem de verdade, e deixam o mundo; motivo pelo qual são chamados hóspedes ou forasteiros. A morte é seu destino, o dom de Ilúvatar, que, com o passar do tempo, até os Poderes hão de invejar. Melkor, porém, lançou sua sombra sobre esse dom, confundindo-o com as trevas; e fez surgir o mal do bem; o medo da esperança.” (p.36)
“A morte é seu destino, o dom de Ilúvatar”. A morte é o nosso destino, a nossa passagem para algo muito superior a nossa imaginação. É o dom de Deus. Morrer não é para poucos, apenas para os escolhidos por Deus. O mal, porém, corrompeu nossa visão de morte e passou a designá-la como algo ruim, algo sem esperança. A morte da esperança... A esperança não morre! O medo não pode matar...
A morte é um tema recorrente em Tolkien, e as formas como julgamos a vida e a morte também se encontra presente. Em O Senhor dos Anéis, há uma passagem em que Gandalf fala a Frodo sobre matar, sobre ter o poder de decidir sobre a vida e a morte: “Muitos que vivem merecem a morte. E alguns que morrem merecem viver. Você pode dar-lhes vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém à morte.”
Parece que ele nos fala de questões óbvias! Tolerância e respeito, ter a capacidade de não julgar é um dos grandes dons que poderíamos receber de nosso criador, seja ele Ilúvatar, Deus, Yahweh, Alá ou Krishna. Tolkien não fala muito de Deus ou da presença divina em O Senhor dos Anéis. Os Hobbits não rezam, e nem precisam. Deus está dentro de nós. Somos sua imagem e semelhança, não? Dessa forma, o simples desejo de conseguir algo é uma oração ao nosso criador.
O mundo da Terra-Média me encanta e continuará a me encantar, mesmo daqui cem anos. Ao ler essa passagem no Silmarillion, sobre a morte ser o nosso dom me deixou um pouco menos aflita. A vida corre para todos nós e a morte é algo que chega e que já está marcada desde o dia em que nascemos. É a nossa única certeza. A morte não é algo ruim, como o mal quer nos fazer acreditar. Morrer é encontrar nosso caminho de volta para casa, para as Terras Imortais...
Porém, Complicado é entender a morte para aqueles que perdem quem amam... Dessa forma, este post nada mais é que chover no molhado. Mas pensar que a morte é um castigo é ser “malzinho” demais...