Engraçado como são as coisas. Hoje, minha florzinha me perguntou: "Como Kell? Como resistiu assim, tanto tempo?"
Não resisti, me joguei nas asas do tempo e me deixei levar. Não lutei por mim, quis proteger um outro alguém que eu achava que me queria bem, apenas isso. Quanto tempo durou? Não sei, sei apenas que durou muito, muito, muito tempo e me endureceu um pouco. Fiquei mais insensível, piadista e anti-romântica (logo eu, que sou uma das poucas capricornianas românticas que vagam na terra... Acho que é meu ascendente em algum desses signos sentimentais...)!
E agora me pergunto: "Como Kell?"
Como se deixou levar pelas asas de um tempo em você não era você, onde palavras ditas em "momentos de euforia" nunca mais eram ditas? Como aconteceu isso, Kell? Porque fez isso com você?
Nem sei.Ou sei.
Eu sempre tive aquilo chamado medo. Medo de ficar sozinha, medo de ser triste, medo de deixar sozinho, medo de fazer triste, medo de magoar o outro. Sempre penso no outro... mesmo sabendo que todo mundo é mau, mas que pode ser bom (e não que todo mundo é bom e pode ser mau, todo mundo é mau mesmo!)... Bobinha Kell... sempre bobinha né.
Mas eu não sou a única nesse barco furado. Minha companhia de hoje a tarde é "que nem eu": sonhadora, inconstante, ambígua, nervosa, tensa e desequilibrada. Tudo bem que esses adjetivos tem mais a ver comigo do que com ela, mas tudo bem. Não vou falar muito para não revelar a identidade, rs.
Mesmo depois de tantas perguntas que eu não conseguia responder, ainda tentava me justificar dizendo que eu simplesmente não conseguia. Mas porquê não conseguia me livrar de grilhões assim?Porquê eu me sentia responsável pelo o outro. Parecia que tudo havia sido construído em cima de mim, eu que carregava tudo... Sobre mim descia o peso do mundo. Estava acorrentada, como Prometeu, com um abutre comendo meu fígado. Só que o fígado regenera mais fácil, muito mais fácil que o coração...

O coração tem o tempo que é só dele para se regenerar. O meu havia morrido há muito tempo e o que fazia era apenas observar o tempo e o vento, deixando a alma largada pra lá. Não tinha esperança de mais nada, apenas caminhava sem inspiração. Muitas vezes me pergutavam: "Te faço triste?" Não, não fazia. Quem poderia me fazer triste se não eu mesma?
Fui muito covarde, fui muito fria, fui muito passiva, fui.Hoje já não consigo ser. Deixo de lado minha armadura e mostro meu lado mais frágil, encaro agora de peito aberto. A vida é muito curta pra gente ir "levando", pra gente deixar a alma se arrastando, pra gente querer fazer apenas um dos lados sorrir. Os dois lados precisam sorrir.
E eu descobri isso em uma chuvosa tarde de dezembro, quando já não tinha nem um pingo de esperança no coração. Lá se foi meu olhar penoso, cansado e triste vagando, vagando, até que viu uma nuvenzinha passando... meu olhar seguiu a nuvenzinha até onde não mais podia, e aquele coração morto, quase enterrado, sentiu uma levíssima palpitação. No fundo sabia que ele não estava morto.

Mas mesmo assim, deixei ele trancafiado em seu mausóleu durante tempos, onde apenas pela pequena gretinha entrava um mísero raio de sol que o aquecia lenta e gradualmente. Foi assim que consegui me livrar do abutre que me dilacerava. O abutre era minha mente corrosiva que me guiava para caminhos errados, que me tornava insensível e terrivelmente triste, fazendo todo mundo ao meu redor pior, e não fazendo o bem, como achava que fazia.
Libertei minha alma e ela conseguiu, enfim, abrir as portas daquele maldito mausóleu e trazer para fora meu coração tão morto e fadigado. O susto foi grande quando me deparei com um coração inteiro, vistoso, pronto para se jogar novamente nas asas de uma borboleta em chamas.
Me assustei!
Como, se eu o havia enterrado? Não percebi, no meu martírio cotidiano, os míseros raios de sol que entravam pela gretinha da porta do gélido local.
Quando minha alma tocou meu coração, aquilo tudo o que eu era, voltou: a inspiração, a vontade de se jogar e voar, a vontade de ter o coração queimando e o estômago revirando e os olhos se contorcendo, e as mãos tremendo e os pés dormentes...
Foi lindo o reencontro da minha melhor parte, da minha parte, da minha alma com meu músculo pensante, com meu coração tão leve e cheio de vontade de rever de forma inteira os raios que o mantiveram vivo.Muitos raios entraram pela gretinha. Várias paixões platônicas. Nenhum amor, porque ele ainda estava confuso demais. Mas uma paixãozinha ficou martelando nele, o deixando inquieto. E minha alma hoje busca essa errante irmã por aí. Já a encontrei, mas a perdi!
Espero que minha irmã de alma não tenha se perdido de mim pra sempre, pois se ela anda por aí distraída, ela pode se esquecer de mim... pouco tempo e longas distâncias... mas meu coração é prova viva e fiel de que pequenos raios de sol salvam qualquer um de situações adversas.
Espero sim pela minha irmã de alma, pois eu preciso muito dessa parte que me aceite como eu sou. Que me deixe ser o melhor de mim e não o pior que posso ser...E enquanto penso e repenso minha conversa de hoje a tarde, lembro que anda por aí uma alma que tem poder sobre a minha... justamente porque não consegui enxergar além e isso me causa certo calor, mesmo sem ter os raios de sol em meu coração...
Calor esse, que me aquece em noites frias como a de hoje. Posso nem ser a alma irmã daquela que vaga por aí, mas só de saber que posso ser, já me acalenta a alma e aquece bem aquecido o coração...
Nenhum comentário:
Postar um comentário