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"O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove." Fernando Sabino

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Das incertezas do cotidiano...


Quando a gente ta meio esquisito, amuado, sozinho, a gente acaba se perdendo em velhos caminhos conhecidos, tropeçando em velhos vestígios e relembrando coisas que, de tão antigas, já estão envoltas em brumas negras. A memória é algo fantástico! É ativada de forma insuspeita, de forma involuntária por uma música, por um cheiro, por um gosto... Refazer velhos caminhos cotidianos trás de vez em quando, esse sentimento, essas lembranças. Caio Fernando Abreu dizia algo semelhante, dizia que a dor não existia, apenas a cicatriz, que latejava loucamente em dias de chuva. Os velhos caminhos não se desmancham, eles continuam sólidos como as mais queridas lembranças. Há aqueles que se negam a esquecê-las e as idolatram como o melhor período da vida. Já outros, buscam esquecê-las porque elas não lhe fazem bem. Eu, ao contrário, deixo-as guardadinhas, minha memória nunca foi uma coisa assim, astuta, memória mesmo. Minha memória é catatônica, é oca, é eternamente aprendiz das incertezas do caminho. Outro dia, uma amiga minha me disse que quanto mais velho ficamos, mais duros nos tornamos. De certa maneira sim, mas eu não consigo endurecer esse velho músculo pulsante, eu não consigo esquecer as boas coisas que cada caminho me leva a conhecer, as cicatrizes não latejam loucamente em dias de chuva, elas são apenas uma lembrança envolta em brumas negras, cor de rosa, azuis, brancas... Sou um paradoxo ambulante, eu sei. Cada caminho descaminhado me leva a algo novo, surpreendentemente novo. Tenho problemas de memória, talvez desvio de atenção, porque não guardo muito bem as coisas... talvez eu só guarde mesmo aquelas palavrinhas (mal)ditas... Mas isso tem a ver com meu signo... Capricórnio não é um ser mitológico que esquece os maus - tratos... Ele remói. Eu remoeria se tivesse a memória mais forte... Porém, há algo em mim que destoa de signos, de tempo e de memória... mesmo eu querendo remoer algo ruim, pra fazer a cicatriz latejar doidamente em dias de sol, de chuva, de brumas, logo a lembrança é substituída por coisas boas, legais, imaginação... Acho que minha imaginação é mais forte que a memória, por isso eu vivo nas incertezas do cotidiano, mesmo tendo aprendido mil vezes a mesma lição. Se me deparo novamente com algo semelhante, caio na mesma armadilha, caio no mesmo encantamento, caio na mesma alegria. Afinal, a vida é feita de incertezas, de memórias e de caminhos. Caminhos que refazemos sempre, seja sozinho, acompanhado, triste ou feliz, se tornam novos caminhos. Vá sozinho, vá acompanhado, mas vá. Caminhos incertos do cotidiano acabam se tornando os caminhos certos da antimonotonia. Fica a dica.

"Caminho conduzindopara High Grass" c 1875, Musée d'Orsay, Paris.

Um comentário:

  1. Ótimo texto, Kell.
    A memória é involuntária... isso é lindo demais!

    "Acho que minha imaginação é mais forte que a memória"... Bendita seja! :)

    Shakespeare já dizia: "somos mestres em cometer os mesmos "erros". (grifo meu). Vamos caminhando e cantando... a história não se repete, e erros não são necessariamente ruins: com eles também adquirimos sabedoria, maturidade, e nos tornamos mais humanos.

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