Já recebi cartas de amor, cartões, mensagens, bilhetinhos,
todos cheios de sentimento verdadeiro. Sim, de um sentimento que brotava no
mais fundo da alma e transbordava aos montes para todos os lados. Em cada
cantinho do papel existia um pingo de amor, de carinho, de admiração.
Guardo essas cartas, cartões, mensagens, bilhetinhos. Guardo
com muito carinho, porque foram sinceras aquelas palavras. Talvez as palavras
mais bonitas que eu já recebi em toda a minha vida. E tem dias assim que você se
pergunta se aquelas palavras não estão te fazendo falta. E você corre lá, e lê
uma por uma, as cartas de amor mais bonitas que você podia ter recebido de alguém.
E ta tudo ali, no preto e branco do papel e da tinta, nos
detalhes de cada palavra, no simbolismo de cada papelzinho rasgado, recortado e
colado. E você lê coisas e se lembra de como você era. De como você era
admirada e amada. Não são apenas palavras soltas no papel, são sentimentos únicos
guardados ali, sentimentos que podem até não mais existir, mas está ali como um
documento, como uma prova de sua existência.
Cada pessoa é de uma forma e cada sentimento se manifesta de
uma maneira. Hoje não há mais cartas de amor, porque o amor não existe como
existia...
Hoje, quando vou pegar minha caixinha de lembranças, não
encontro lembranças bonitas. Há palavras tão duras e uma sinceridade enorme me
mostrando que todo o esforço foi meu, que todas as palavras de carinho e admiração
partiram de mim, sem retorno.
Não há amor nessas lembranças. Há desdém, medo, comodismo. E
eu sofro. Sofro porque eu tenho a consciência do amor que eu sinto. Sofro porque
eu realmente sinto um amor muito mais bonito do que aquele que reli nas belas
cartas. Mas sou eu que sinto isso. Não há retribuição desse sentimento, como
existia naquelas cartas.
Não sei dizer qual o problema, mas reler essas cartas tão lindas
me fez enxergar que eu não tenho nem a metade do que eu tinha, e ando
sorridente por ai. Mas reler essas cartas tão lindas, me fez perceber que talvez
eu tenha me acostumado a tão pouco.
Não me certifiquei do amor alheio quando me lancei em nova
empreitada. Na verdade, fui avisada diversas vezes, mas fui teimosa. Agora só
me restam lembranças bonitas dentro de uma caixa lilás surrada. Só me restam àquelas
lindas cartas de amor, que hoje me fizeram chorar, simplesmente porque me
lembraram de como é bom ser amado em retribuição.
E se me perguntarem qual a carta de amor mais bonita que eu
já recebi, não saberei responder, porque ainda espero por ela. Ainda espero. Não
sei por quanto tempo, mas ainda espero essa carta chegar...
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Renoir, 1891. |
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