Dos meus olhos lacrimosos, o que tenho mais saudade é daquele sorriso largo, que se abria cada hora que eu falava algo bobo ou de quando, juntos, descobríamos algo novo. Nada disso mais volta, nem o nascer do sol daqueles dias eternos em que eu me sentia unicamente a mulher da vida de alguém.
Anos se passam num piscar de olhos e as lembranças acabam se tornando um bom lugar para revisitar em dias de chuva, de frio ou de passeio de ônibus. Sentir o que já não existe mais, mas que continua em algum canto vivo, é bom. É bom saber que tudo o que se foi, foi bem feito, foi único, acabou bem acabado, mas deixou uma pontinha de saudade.
Tem coisas que não se repetem (e ainda bem que não). Há aqueles amores quentes que amolecem a alma e que quando acabam, não rompem com o coração, pelo contrário, o deixa mais forte para receber o próximo presente da vida. No meu curto espaço de vida tive alguns amores. Alguns partiram meu coração, outros colaram, muitos tantos eu joguei fora. Daqueles que ficaram me ensinaram a ser uma pessoa mais feliz, mais humana e cada vez mais romântica.
Sou uma menina sonhadora e um pouco romântica... tudo na mesma proporção da mulher realista e dura que existe em mim. Na grande maioria do tempo vivo com a pele da mulher dura, difícil, que não acredita mais na humanidade mesquinha. Debaixo da carcaça dura, tem lá aquela moça sonhadora, que acredita que o mundo pode melhorar. Quando essa face vem a tona, assusta e mostra toda a incoerência da minha alma. E esse é um ponto a ser dito: sou incoerente, sou de lua e mudo de opinião quando me dão bons argumentos. Entretanto, não leiam isso como uma personalidade volúvel. A única coisa que sei que não sou.
O romantismo me atrapalha. E a racionalidade também. Parece que nunca estou satisfeita, que sempre há algo que me falta e eu acabo cobrando demais de quem está ao meu redor e, sobretudo, de mim mesma.
Ando pensando muito na vida e nas cobranças que ela me faz, e nas que me faço. Parece que não tenho mais tempo ou que eu tenho todo o tempo do mundo. Acho que a crise dos vinte e poucos anos finalmente me alcançou, trazendo com ele toda a carga vivida nesses vinte e sete anos.
Não me arrependo de nada. Faria tudo novamente. Dos fins aos meios, dos meios ao começo. Não preciso mais me sentir como a única mulher na vida de alguém, pois hoje eu tenho a certeza e as provas mais lindas do mundo. Cada lembrança acumulada deixa marcas. As minhas tem sido boas. Os caminhos tem sido generosos e os sabores, os melhores. Acho que tudo o que vivemos é importante para valorizamos sempre as nossas conquistas, nossas paixões, nossa alma.
As saudades se misturam, as lembranças mudam a cada segundo. A vida é boa, mesmo o mundo sendo tão ruim (nem sempre). Acho que tudo isso é pra dizer que estou feliz por ter em meu coração algumas incertezas gostosas (nem sempre). O ar falta, mas agora não a certeza. A direção que meu coração aponta é para a felicidade. Mesmo nadando contra as marés e deixando olhinhos de decepção para trás. Não dá mais para parar e é isso que me preocupa.
Acho que isso é uma página de diário.
Assim, com carinho, me despeço.
Assinado: Eu.
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