Esbarrei sem querer no passado. Era de manhã, fazia frio e eu não tinha ainda aberto os olhos da forma correta. Tropeçando nos meus próprios pés, para variar, entrei na casa de fora para dar bom dia ao Jack. A calopsita mais humana da face da terra já estava de pé, irritadissímo com a ausência do seu som e com o barulho da natureza. Ao ligar o rádio acabei batendo a cabeça fortemente na estante, tudo balançou e enquanto eu dizia "aiaiai, minha cabeça", algumas caixinhas despencaram. A estante velha de guerra se manteve em pé, mas fez o trabalho de mensageira do tempo (ela e minha cabeça).
No chão, duas caixas de papelão: uma roxa, de sapato, e uma redonda bonitinha, daquelas de bombons. Ao olhar para as duas caixas no chão, um turbilhão de memórias invadiu meu coração. Peguei primeiro a redonda e a abri. Ali dentro as palavras traziam de volta todo um passado, algumas coisas boas, alguns momentos lindos, muitas saudades. Eram cartas trocadas com meus amigos, eram bilhetinhos de romance escondido em sala de aula, eram fofocas, apostas, colas, saudade.
Reli alguns pedaços de papel com um sorriso bobo na face. Outra hora caia uma lagriminha, mas o sentimento era irreal. Era como se eu pudesse voltar. Como se eu pudesse sentir tudo aquilo de novo, mas sem o drama, sem a dúvida, com controle, feliz.
A segunda caixa eu sabia, que era muito especial. A caixa roxa colorida guarda apenas uma história. A história de amor mais bonita, registrada em fotos, cartas, origamis, emails, sms e mensagens no Orkut. Ao abrir a caixa me deparei com uma carta, escrita por mim, mas nunca entregue. Reli. Tudo o que justificava uma vírgula e o ponto final estavam ali. Nuas, bem fundamentadas, bonitas e sem nenhum ódio ou raiva. Fiquei orgulhosa da minha maturidade, afinal já fazem quase quatro anos que as escrevi.
Ao fechar a minha carta, abri o álbum de fotos e revi meus olhinhos de felicidade. Revi meus olhinhos de pesar. A gente sempre diz que não sabe quando o fim de aproxima, mas nossos olhos sempre sabem. Basta olharmos nossas fotografias antigas para detectar os sinais.
Ao observar aquelas fotos, todas muito bonitas (eu era mais jovem e um pouco estranha, só que tinha braços mais bonitos, rs), senti necessidade de reler algumas coisas e sabia que as coisas escritas eram muito mais bonitas que as fotografias antigas.
Reli apenas os emails e os recadinhos do Orkut. Se fosse ler as infinitas cartas, perderia meu dia (ou ganharia, não sei), só que não senti necessidade de reler tudo. O que li me deixou feliz. Vi minha teoria na prática. Essa minha história é o exemplo máximo daquilo que digo para minha jovem amiga apaixonada: Se joga. Não precisa temer o tempo. Tempo é relativo. Já levei apenas cinco dias e já levei um ano para ouvir um "eu te amo", e os dois foram sinceros.
Reler aquelas mensagens me deixou feliz por me lembrar que fui importante na vida de alguém. Que em algum momento eu fiz a diferença. Palavras são tão lindas! Escritas então, elas se eternizam. Atualmente existem outros mecanismos para o relacionamento e todos eles são ótimos e válidos. Do Whatsapp ao Skype. Elas não deixam você se esquecer e te lembram a todo momento que existe, mesmo que longe, alguém muito especial pensando em você.
Mas escrevi mais, não por causa do encontrão com meu passado. Escrevi mais para uma amiga apaixonada. Não se pode controlar tudo, tentamos sempre nos controlar. Mas quando a paixão nos pega, é preciso saber que por ela vale correr todos os riscos. Que a paixão é muito mais que palavras bonitas, é sintonia, é saudade, é esse aperto no peito quando não tem notícia. O tempo é relativo. Cinco dias ou um ano, não importa. O que importa é o rebuliço que isso trás pra alma, e na mesma intensidade desse rebuliço vem a calma, aquela coisa boa que a gente nem sabia que existia.
Medo?
Todos temos. Relacionamentos terminam, começam, terminam. Sofrer? Todos sofremos. Contudo, ficamos mais vivos! A vida passa a ter cor. E mesmo que você caia do voo, só de voar já vale a pena.
Talvez a história termine. Talvez não. E se terminar, que ela tenha valido a pena pra você. Só pra você.
Termino desejando que todos tenham uma caixa dessas em casa...
Da história mais bonita,
guardo numa caixa roxa colorida,
lembranças daquilo que a memória
deixou escapar...
Mas que, sem querer,
me transformaram nessa melodiosa
romântica desesperançada..."
Kell e os Origamis que ganhava de presente. Debaixo deles, a caixa roxa. |
Ahhhh já tô chorando aqui, culpa do romantismo incontrolável dessa minha amiga Kell! Lindas palavras que vou guardar pra sempre, tomara que dentro de uma caixinha colorida de uma bela história! Obrigada por tanto carinho amiga!
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