
Breve histórico...
- kellen silva
- "O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove." Fernando Sabino
terça-feira, 14 de dezembro de 2010
Espelho Retorcido...

quinta-feira, 25 de novembro de 2010
Contos de Fadas... e as relíquias da morte

Fiquei encantada com o porte do pequeno livro.
Esqueçam tudo o que já leram ou viram nos filmes da Disney. Nem sempre os contos de fadas terminam com um final feliz. Foi o que percebi no conto da Pequena Sereia. Nossaaaa, que tristeza que me deu no final do conto. Uma tristeza imensa que não é compartilhada (graças a Deus) nos filmes infantis da Disney.
Confesso que fiquei alguns dias sem dormir o suficiente, pois mergulhei nessa leitura que fazia minha infância retornar. Mas alguns elementos não estavam conectados. Existiam no final dos contos a tal da Moral. Enfim, o que percebi em alguns textos de Perrault foi um certo machismo exacerbado! Ora já se viu que uma mulher se satisfaz apenas com belos vestidos, mesmo sofrendo as mais duras penas? Tudo bem, ficamos sim satisfeitas com uns mimos, mas acho que Pele de Asno se vangloriava de seus tesouros justamente para suportar a realidade tão dura. Pobres homens que não conhecem nem um pouquinho dos tesouros das mulheres... eles acham que nos dobram facilmente com coisas extramente caras e belas. Nada disso tem valor sem sentimento, sem felicidade. Do que vale lindo vestidos sem ter pra quem mostrar, sem tem com quem compartilhar, sem ter onde ir? Pele de Asno sabia disso, mas sabia também que a "sorte pode dar uma viradaaaaa, uma viradaaaaaa". A aposta dela deu certo.
E eu, no que posso dizer que aposto (além de apostar no meu querido Cruzeiro)? Eu aposto em histórias com final feliz. Mas para se chegar ao final feliz, quanto desespero! Quanta dor e humilhação temos que passar! E nesse momento me lembro do conto que li desse livrinho que mais me emocionou, que mais me fez chorar: O patinho feio.
De verdade, Andersen me fez relembrar com seu conto célebres passagens da minha vida! Ô! Juro que todos, um dia, já se sentiram como o pequeno patinho cinza, um pouco fora do univreso, um pouco sem jeitinho, um pouco fora do mundo imposto. E quando li todas as passagens da vida do pequeno feioso até ele se descobrir como um lindo cisne, me lembrei de inúmeros eventos. Foi esse conto que mais me tocou. Não consigo entender porque, posso até entender, mas prefiro não opinar. Só quero compartilhar o prazer de ter lido a descoberta do pequeno feioso em um lindo cisne e dele tomar seu lugar entre os seus iguais. Nós também demoramos encontrar o nosso verdadeiro lugar e, muitas vezes, esse encontro demora... mas vale a pena a busca. Sempre vale.
E ontem acabei em mais lágrimas com a primeira parte do final da Saga Harry Potter. Se minha infância teve a presença dos contos europeus, minha adolescência e fase de "adulta emergente" me pega novamente com as histórias do Velho Mundo. Harry Potter e as Reliquias da Morte é o fim do restante de toda a magia e inocência, a morte se torna uma constante e o medo já faz parte dos sentimentos mais corriqueiros. Ter uma missão, ser o escolhido, carregar um fardo, perder amigos... tudo isso junto. As escolhas que fazemos durante nosso percurso é que nos levam ao final.
E eu levo muito a sério a vida dos meus personagens, eu adoro conviver com eles! cada leitura, cada filme, cada personagem se torna uma parte de mim. Contos e Histórias são partes importantes da minha vida e quero comigo sempre e sempre a nostalgia do fechar do livro, aquele vazio quando termina um filme, aquele coisa martelando na sua cabeça, uma moral para dar sequência a vida, que cada dia imita mais a arte... a arte da vida...
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
Vergonha
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Confusões ...

domingo, 2 de maio de 2010
Triste,

quinta-feira, 18 de março de 2010
Mas não sou nada do que é belo no mundo, sou apenas mais um risco imperfeito da criação.
Se eu pudesse escolher um dia, escolheria aquele que vi seus olhos de universo inteiro pela primeira vez.
Ah... a primeira vez é tão nostálgica quanto sair em uma manhã fria lembrando-se da cama queitinha...
Primeira vez... tão lindo! Momentos tão únicos, o primeiro dia do resto de nossas vidas... A paixão dolorida, o amor (des) eterno e a mente brilhante... o esquecimento rotineiro...
Primeira vez queria voltar, voltar aos seus olhos de universo inteiro e me perder em devaneios eternos de uma noite de chocolate branco e violão, me consumindo por inteiro.
Segunda vez não perde a graça, melhora. O tempo melhora tudo, só estraga o que já nasceu torto, imperfeito.
O tempo, senhor dos nossos caminhos, abre espaço para o pensamento eterno, para o abraço desconexo com a realidade. O ontem já não é e o amanhã um horizonte de expectativa que nunca se alcança e sempre cansa a forma como procuramos. Melhor viver sempre a eterna experiencia, de dias iguais, de noites diferentes e madrugadas eternas.
A ultima vez que vi aqueles olhos de universo inteiro foi a quase duas horas atrás e o mesmo encantamento me acelera o coração e revira minhas entranhas com a esperança de mais um dia, de mais um momento de magia e expectativa. O tempo não deixa um horizonte mais claro, vivemos na ânsia venenosa do amanhã e esquecemos de viver o tempo presente. O passado é passado, mas é sempre revivido no presente. Revivo o passado no presente momento em que encaro aqueles lindos olhos de universo inteiro. O universo inteiro cabe ali. O meu universo inteiro em dois olhinhos castanhos que brilham mais que a lua cheia em sexta-feira da paixão...
Se eu pudesse escolheria ser seu céu, o seu mar, a terra firme por onde anda e o fogo ardente em seu coração. Se eu pudesse voltaria na terceira vez que nossos olhos faiscaram e que você me disse que eu já não seria mais seu horizonte de expectativa. O passado não lhe serve mais como experiência e o presente, pouco importa, empurra.
Se eu pudesse não seria a romântica perdida, a poeta vazia de versos e temporalidades, seria apenas mais uma canção de amor perdida e sentada no cais de porto, esperando e observando o tempo, o vento, a memória...
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
Euforia
E a mente não escuta.
Pra quê mexer com a razão
Se a euforia do amor é absoluta?
Mas com o tempo o coração se cala
E a mente reina na penumbra,
Pois a euforia passa
Assim como passam as multidões...”
Resta-me dizer algumas palavras. Quando a gente ama parece que o mundo inteiro é para aquela pessoa. Todos os dias, todas as horas. Diferente da paixão que te cansa com o passar do tempo, essa comunhão de sentimentos se expande cada dia mais, transformando sua vida em um eterno encontro onde borboletas “saltitam” em seu estômago.
Mas essa euforia passa... me disseram.
Não acredito que isso aconteça, mas hoje ouvi de uma pessoa que eu conheço algo que me deixou a beira de um ataque de nervos. Tal fato era relacionado a “coisas ditas em momentos de euforia”.
Pensar pra falar é raro, cada vez mais raro na sociedade de hoje em dia, mas esse meu amigo me falou que essas “tais coisas” foram ditas em um momento de euforia a dois. Ou seja, meu amigo andou falando mais do que queria pra quem não deveria.
Pergunto-me, se o amor é guiado pelo coração, que nada tem a ver com a razão, por que tais palavras não poderiam ter sido ditas? Podem sim, claro que pode! A verdade mais pura é a verdade eufórica, é a verdade da mesa do bar, por exemplo. Ninguém te pergunta nada daquilo, mas a verdade vem como uma ânsia que não dá pra segurar e se vomita em cima daqueles a sua volta.
Mas no amor…
Acho que esse meu amigo sente medo. É um inseguro. Tem medo de amarras, por isso usa do artifício da euforia. Mas se o que foi dito foi dito em momentos de euforia e hoje já não é mais verdade, das duas uma: ou o que foi dito era balela ou o amor que vivia, definhou.
Amor que é amor não definha e nem morre. Paixão é que morre no passar das batidas comuns das horas, nas pegadas do cotidiano vão se perdendo. O cotidiano se abate e abate a paixão num piscar de olhos. Se a euforia passou, se a depressão chegou, pode saber, o amor se acabou.
E não adianta vir com “panos quentes” dizendo que falou sem pensar nas conseqüências. Muitas vezes o nosso primeiro “eu te amo” sai no meio da euforia, da alegria. Sai porque já se sentia, sai naturalmente na onda de festa porque ele já existia. Agora, não me venha dizer que as palavras ditas se transformaram em um pudim de falsas palavras, pois a minha resposta será apenas uma pergunta: Ainda resta fôlego para o amor?
Se a euforia passou e a depressão chegou, aquela certeza que tinha meu amigo se acabou, pois há incontáveis estrelas no chão, estrelas que não pensaram antes de se jogar no espaço vazio para encontrar o mar. A euforia as fez cair. A euforia as fez morrer. Sentir não resta mais. Quando o amor vira piada é porque a razão chegou e pode ter certeza que aquela euforia do principio, que com o tempo se acabou não era amor, era um sentimento mais baixo. Nem paixão talvez...
Não há mais estrelas brilhantes no céu. Romantismo e alegria não existem mais fora da euforia. Existem agora apenas palavras cercadas e cegas pela razão.
Sinceramente, eu acho que meu amigo se ferrou...
domingo, 24 de janeiro de 2010
O Silmarillion e "O Dom de Ilúvatar"

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
A misteriosa chama da Rainha de Hanna
Retornando ao campo da Teoria da História, podemos nos deparar com Maurice Halbwachs, que trata a memória como interligada a dois tipos: a Memória Individual e a Memória Coletiva. Tal relação se manifesta, por sua vez, no individuo. A formação da Memória Coletiva é recheada de lembranças individuais, porem, elas não se confundem.
Lendo um maravilhoso livro de Umberto Eco intitulado “A misteriosa chama da rainha Loana”, essas questões tão complexas pulularam em minha mente tão desocupada. Juro que tentei fugir um pouco de textos acadêmicos nesse mês de janeiro, mas como eu já afirmei, a História e suas ramificações estão presente em nós, enraizada em nossa própria vivência, que de vez em quando se torna amplamente vazia, mas mesmo assim estão aqui dentro. Tal questão voltava-se para a Memória e a História. Confesso que tenho pouca carga de leitura para esboçar alguma opinião, porém, devo arriscar.
Umberto Eco, em minha opinião, escreveu um livro simplesmente maravilhoso. Ler sua narrativa é como mergulhar na fala de uma pessoa que está a sua frente contando sobre a melhor fase da sua vida: a infância. A memória escolhe eventos que marcam o individuo. Essa é a memória individual. Seria como uma criança, sem nada entender ainda de mundo, que observa de longe os preparativos de um funeral. Ela sabe o que é a morte, mas não sabe por que aquela pessoa morreu. Apenas repara que durante a cerimônia, há a presença da bandeira do Brasil sobre o caixão e isso a marca. Ela não entende o porquê daquele caixão estar com a bandeira da nação enquanto outros que observou durante sua pequena vida, nunca a possuíram. Daqui algum tempo, ele vai descobrir que aquele funeral era de algum soldado da missão de paz que morreu na tragédia do Haiti. Aparentemente, nenhuma grande ligação se forma na mente da criança. Só daqui algum tempo, quando a História lhe mostrar o acontecimento é que o individuo vai saber que esteve no bojo da história, que presenciou seu fragmento.
Bem, voltemos a Umberto e a Memória. De acordo com Halbwachs, a memória individual não se encontra fechada ou isolada do meio em que se encontra inserido. Muitas centenas de vezes, para se recorrer a algum tipo de memória, nós precisamos de um estimulo, como Proust e sua Madeleine. Interessante é quando Halbwachs cita que a nossa memória pode ser ativada também pelas lembranças de outras pessoas. Ao ler o livro de Eco há uma passagem em que Yambo recorre a Gianni para acender a chama de sua memória. Foi em vão para o protagonista de Eco, que perdeu a memória com um AVC, mas não é em vão para nós.
Acontecimentos coletivos causam lembranças individuais. Isso é fato. Mas as lembranças individuais também ajudam a formação de uma memória coletiva que é construída de acordo com o que nós lembramos, pois existem pontos de referencia na própria sociedade. Dessa forma, para Halbwachs, a única memória verdadeira é a coletiva, uma vez que a memória individual é construída a partir de um lugar social, ou seja, devido a influencia do meio. É como um circulo vicioso.
Umberto Eco, em minha opinião, meio que transita nesses dois elementos da Memória.
Na primeira parte do livro, podemos notar que a Memória que Yambo possui é uma memória coletiva, uma memória que não possui nenhum sentimentalismo presente nas lembranças pessoais. O protagonista sente essa falta de ligação sentimental individual, já que ele não consegue estabelecer a relação que Halbwachs afirma: a de que a Memória Individual só pode ser ativada através da Memória Coletiva.
Como Yambo, nas palavras de Eco: “Desculpe. Não consigo dizer nada que me venha do coração. Não tenho sentimentos, só ditos memoráveis.” (p. 24)
Yambo, meu querido protagonista, na primeira fase do livro consegue falar, citar e lembrar fatos presentes na memória coletiva, coisas como Napoleão e a Guerra do Golfo, mas não consegue realizar uma ligação com seu sentimento de lembrança ligado a tais fatos. Não consegue lembrar o porquê de Napoleão o marcar tanto, por exemplo.
Tomemos cuidado em certos pontos. O protagonista de Eco possuía também uma memória intelectual altamente exuberante. Sabia de cor citações de vários autores, vários fatos históricos, era um homem culto e politizado. Mas não sabia fazer relações de tais fatos com sua vida.
Perder a Memória é como perder sua identidade. Não só a identidade individual como a coletiva, já que se rememoram os fatos, mas não o porquê desses fatos serem tão importantes para o individuo.
Resumindo, o enredo do livro de Umberto Eco é uma viagem a infância de Yambo. Uma narrativa tão rica e ilustrada sobre a Itália dos primeiros anos do fascismo até o final da Segunda Guerra mundial. Entrar na memória de Yambo através de Eco é uma viagem maravilhosa pelo tempo, pela História. Fascinada estou. Imagina, enquanto o pequeno herói do romance se deliciava com livros e histórias Cult e em situações de alto risco e de coragem em sua infância, euzinha só sabia ver televisão e comer chocolates...
Piadas a parte, “A misteriosa chama da rainha Loana” realmente mexeu comigo, pois além de suscitar questões relativas a memória, que é complexa, consegue passar um enredo simplesmente emocionante e daqueles que você não consegue desgrudar. Confesso que demorei a ler o livro, mas porque comecei em tempos de aula. Agora nas férias consegui finalizá-lo e sinto uma nostalgia imensa. Parece que o livro de Umberto Eco foi minha Madeleine, pois rememorei inúmeros fatos dos meus melhores anos da infância...
Enquanto para Yambo a rainha que trazia a chama que teria o poder de fazer sua memória reviver era Loana, para mim, Eleanor, aquela que faz a chama da lembrança arder é a Senhora de Hanna, a jovem sacerdotisa das florestas esquecidas que cultivou questões únicas da minha adolescência. Escrever realmente é a melhor forma de se guardar o presente para o futuro, mesmo que esse presente não seja lá uma grande narrativa, será posteriormente uma chave para as lembranças, caso se sofra um AVC e se perca a memória afetiva ligada à memória coletiva...
Enfim, ler “A misteriosa chama da Rainha Loana”, além de se deliciar com um belo romance, aprende-se muito de História e ainda mais sobre a questão da Memória. Essa questão que suscita grandes reviravoltas no mundo...
Por isso escrevo diários e revejo sempre a minha querida Senhora de Hanna. As vezes é necessário lembrar.
domingo, 17 de janeiro de 2010
Sobre poeira e tinta...
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Formei

Discurso de formatura
O encontro com o nosso destino as vezes se dá lá na tenra infância, quando ainda crianças nos deslumbrávamos com as aventuras do arqueólogo Indiana Jones ou com as aventuras de bang bangs de far western que fazia-nos pular da poltrona, ou ainda quando em frente a TV, assistíamos sem entender muito bem o porque de jovens nas ruas com caras pintadas. Mas mesmo sem entender nada do que estava acontecendo, nos sentíamos atraídos por esse mundo tão contínuo e em perpétua mudança.
Fazer história foi uma escolha, que muitos dos nossos amigos, conhecidos, parentes, professores e até mesmo pais não compreenderam muito bem, afinal, no término iríamos nos transformar em professores. E daí sermos professores? Só porque, o salário não é alto, só porque temos que enfrentar uns diabinhos de alunos e também ensinar coisas fascinantes e fazer com que elas se tornem fascinantes é tarefa árdua e nem sempre reconhecida. Mas saibam que não podemos deixar de dizer, prazerosa.
A história tem um enigma que se esconde em cada rosto, em cada linda, em cada objeto. Porém, não se enganem amigos, ao pensar que o historiador volta seus olhos apenas para os vestígios, como artefatos, paisagens ou máquinas. O objeto do historiador é o homem, pois a história é o homem, como diz Lucian Febvre, e as ações são realizadas por eles. Somos caçadores de carne humana, como afirma Marc Bloch.
Nossa jornada pelos meandros da história começou bem antes, muitas vezes ainda na infância, porem o encontro com a nova vida de graduando se deu em 2006, quando muitos de nós tomamos a difícil decisão de partir dos nossos lares, de deixar nossa terra para correr atrás de um sonho, que hoje finalmente se concretiza. Buscamos construir nossa história no bojo da História e podemos dizer que São João Del Rei nunca mais será a mesma sem nós, historiadores de alma e coração e gulosos por opção.
Não podemos deixar de relembrar o primeiro dia de Aula, um encontro com o curso, com os futuros amigos e colegas, veteranos e com o trote. Acho que todos nós passamos a amar um trote engraçado, amigo e consciente, seja ganhar, ou dar. E nos ganhamos um trote inesquecível de se ver, de se sentir, um trote que passamos para nossos calouros, como uma tradição inventada, mas tão profunda, que não conseguimos mais viver sem. Foi graças ao trote, que nos conhecemos, trocamos telefones, trocamos a sensação de insegurança, medo e também compartilhamos o nojo daquele chiclete esquisito verde... enfim, era o nosso rito de entrada.
Durante quatro anos, compartilhamos vocabulários e sotaques diversos. Houveram choques culturais, brigas ideológicas, batatas no labareda, coca-cola no trailer, sorvete a noite em julho, fugas espetaculares de lugares de estágio e trabalho. Trabalhos compartilhados, viagens e programas furados, algumas reprovações, choro, perdas, ganhos, amigos, inimigos, colegas, agonia e êxtase.
Hoje, nosso rito de saída é permeado pela lembrança, pela memória. Espero que ninguém tenha guardado memórias traumáticas do curso, apesar de existir n possibilidades para tal. Como nossa primeira prova de graduação, em Leitura e Produção de texto. Como não se lembrar daquela prova bem ao estilo ensino médio condensada a questões tão acadêmicas! Quanta saudade do ensino médio ainda sentiríamos! E quando fomos apresentar nosso primeiro seminário de graduação?! Não podemos esquecer o medo de errar nas aulas de introdução a sociologia, com a vergonha de falar em público. Afinal, nós éramos ingênuos, crus e calouros!
Descortinou-se para nós experiências da Antiguidade, a simbologia da Idade média, as navegações da Idade Moderna, as Revoluções da contemporaneidade... Como esquecer aquela aula de História Medieval em que o Moisés utilizou de recursos didáticos visuais! Os nossos gritos ecoaram por todo o campus Dom Bosco, principalmente quando olhamos para Carlos Magno e afirmamos: “COMO ASSIM! A TERRA NÃO ERA REDONDA NA IDADE MÉDIA”! A terra nunca deixou de ser redonda caros amigos, mas para os homens daquele tempo, ela era achatada... Descobertas assim nós empolgavam e nos levavam a pensar, a começar a cultivar cada vez mais profundamente uma visão crítica da história, dos homens. Fomos aprendendo e amadurecendo. Já não gritávamos quando algo assim era nos dado pelos nossos mestres. Mesmo que ainda, nos corredores, as provas de Tempo, Memória e Patrimônio, América e Brasil II, III E IV nos tirasse o sono e nos desse uma vontade profunda de gritar SOCORRO, não desistimos, mesmo depois que elas aconteciam, o sentimento de inaptidão só piorava. Como uma amiga me disse, ao se deparar com o Lula na prova sobre Getúlio, só nos restava pular da ponte... Felizmente não pulamos, pois temos a capacidade de nos surpreender. Não sabemos o poder do nosso conhecimento até ele ser avaliado. Bem, Sabemos... Porem a duvida faz parte do aprendizado e o mestre, precisa existir para nos guiar pelos melhores caminhos.
Foram quatro anos de risos, de noites sem dormir, de festas, de choros, de médias perdidas, de provas inacreditavelmente fechadas e zeradas, de descobertas documentais inimagináveis, de encontros e desencontros. Hoje quando nos perguntarem o porque de nossa escolha, não diga simplesmente que foi porque tinha curiosidade em um tema, ou que um professor ou alguém lhe serviu de inspiração, ou ainda o fato de presenciar acontecimentos históricos ou por respirar a história. Diga que a sensação de ser um detetive do passado é a melhor do mundo. Diga que a sensação de compartilhar conhecimento com seus alunos é a mais prazerosa possível. Diga que ler em letras garranchadas do século XVIII aquele nome que procura é um êxtase sem tamanho. Diga que admirar o homem em todas as suas instâncias é tocar um mundo no qual todos nós viemos e estamos inseridos.
Diga que vivemos e que só vivemos bem quando sabemos de onde viemos. Quando mitos são quebrados e a verdade ressurge suja de pó e infestada de traça, podemos dizer enfim, que somos como poetas que escrevem a verdade nua e crua, sem a beleza dos versos. Diga que somos a poética da beleza dos fatos e dos atos e que nossa profissão é a busca pela verdade histórica, mesmo que essa verdade nunca seja completa. Diga que somos quase profetas, diga que Deus não pode mudar o passado, mas que nós Historiadores podemos. Eis o poder de nossa profissão. Eis a responsabilidade que carregamos, caros amigos. Como nosso Paraninfo nos avisou em uma de suas aulas de Teoria da História, nós temos a profissão mais influente do mundo. Somos responsáveis pela vida e, muitas vezes, pela morte. Nós somos responsáveis pelo pensamento crítico. Somos responsáveis pela visão de mundo. Somos teóricos comprometidos com a verdade, e essa verdade precisa ser levada a todos, e nós, como professores que também somos, somos aqueles que influenciam o mundo e temos a formação que muitos gostariam de ter, mas que não tiveram a nossa coragem de buscar a verdade por baixo de camadas de poeira e tinta.
Eis que somos como aquele Indiana Jones de nossa infância. Escavamos a verdade e como ele, temos obrigação de passá-la para nossos alunos, para o mundo. Somos também como os heróis de far westen, porque temos que desbravar terrenos inóspitos e enfrentar desafios para encontrar o nosso tesouro, que é o homem em toda a sua beleza e poesia, porém não apenas em ações do passado. Somos como aqueles jovens de cara pintada, pois tentamos entender o mundo atual, olhando com atenção a História que se escreve em cada segundo. Escolhemos fazer história simplesmente pelo fato de ainda acreditarmos na beleza e poesia da humanidade! O homem não pode ser o lobo do homem, e enquanto pulsar essa esperança em nós, o presente será uma dádiva e o passado não mais um exemplo, mas uma lembrança de como agimos para que existisse um futuro melhor.
Hoje podemos dizer que valeu a pena todas as noites acordados, seja estudando ou farreando. Pois hoje somos historiadores e, sobretudo, arautos da poesia da história, somos professores sim! E com o orgulho de termos a melhor profissão do mundo e a mais legal também.