Do ano de 2006, desenterro um pequeno poema escrito na aula de Antropologia de Ivan Velasco. Fico pensando na minha capacidade de abstração total para escrever. E a inspiração, de onde vinha? Sim, sim, vinha de alguns anos atrás. Eu com minha mania de “amores platônicos e paixões camonianas” enfeitava com melancolia os dias da minha vida. Alguns poemas são bons, são sim, mas a maioria dá vontade de rasgar. Só não rasgo porque querendo ou não, nesses papeis e nessas linhas há muito do que eu vivi. E eu pensava que não ia sobreviver. Coisa de bobo pensar isso, não é? Pois é, quem disse que não sou boba? Pois pensava que não sobreviveria. Tsc, tsc, como era boba... ainda bem que certas coisas amadurecem, ganham uma forma melhor. Hoje consigo escrever sem falar muito em “amor”. Porque antigamente era uma coisa com o tal do “amor”. Depois que a gente amadurece e encara de verdade um amor, a gente vê o quanto estávamos errados. Eu estava enormemente errada. Já amei, já apaixonei, já me encantei. Tudo isso já senti e hoje, ainda bem, consigo diferenciar um pouco cada tonalidade das asas das borboletas, apesar de ainda usar da tal da “Licença poética” para descrever meus sentimentos.
“Amor platônico”, já tive. “Paixão Camoniana”, já tive. “Anjo Barroco”, já tive. “Moço loiro”, já tive. “Olhos de ressaca”, já tive. “Amor eterno, príncipe, amor”, já tive. “Olhos oblíquos”, também. Agora espero por nova inspiração. Mas antes disso, uma homenagem a setembro: um retorno ao dia 26 de 2006.
∞
Passadas essas horas mortas,
Desde dia morto e enterrado,
Descansarei sobre os braços amáveis
Da poltrona amarelada e esquecida
Nos cantos da velha casa,
E tentarei em nada pensar,
Nem nos sonhos bons das antigas tardes,
Nem nas tormentas das amenas manhãs.
Passadas essas horas tão cruéis,
Que me seguem a quase duas décadas de quimeras
Desfeitas,
Sentarei na varanda ou a beira de um rio doce
E barulhento, e observarei o mais belo pôr-do-sol
Dos dias frios de minha alma.
Não sou melancólica,
Apenas tenho licença poética
Para falar dessas tormentas que me seguem
Durante todos os dias da minha vida…
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Young girl reading on the floor, Degas, 1889. |
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