Breve histórico...

Minha foto
"O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove." Fernando Sabino

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Espelho Retorcido...

São Jorge em luta contra o dragão - Vittore Carpaccio -1507

Minha alma está em prantos,


parece que alguma coisa está errada...


e o que está errado é o que mais me fascina,


é o que mais me move,


é o que mais me inspira...




Espelho retorcido,


memória falha,


abraços partidos, tudo esquecido,


tudo apagado, tudo no lixo!




Enquanto a moleca não virar mulher de verdade,


vai continuar sofrendo com a realidade,


pois um lado só pensa em virtudes,


o outro só maldades...




Qual dos dois lados terá a sensata verdade?


Não há verdade absoluta,


Não há nada.


No mundo de hoje, leões tem pele de cordeiro...




e nunca diferencio um cordeiro de um leão...


Até diferencio, mas sempre há uma forma de engano.


Espelho retorcido, alma retorcida,


medo, desespero, decepção...




Desilusão, desilusão... chora todos que me ouviram,


choram todos que acreditaram no meu som,


nas minhas palavras de devoção e proteção...


Pois bem, o ditado tá certo:




Quem muito fala dá bom dia a cavalo,


cachorro e passarinho...


mas isso não há mal.


O que há de mal é o racional.




O bem maior é o meu bem maior.


O bem dos outros é secundário,


é bobagem...


afinal o outro é mais forte,


aguenta todas as consequencias do final...




Hoje olhando a janela,


vi o começo de tudo,


mas não presenti o final...


Acho que enquanto caminhar acreditando em Clio,


ela não vai me abandonar...




Haja tanto esforço,


haja tanto folêgo,


pois não quero morrer na praia,


o inóspito não me atrapalha,


inimigos não me tocam.




São Jorge vai comigo,


mesmo sendo um santo mítico,


seu poder vai comigo,


suas armas me vestem,


e nenhum mal me atropelará...




Mesmo olhando pelo espelho retorcido,


de uma janela lateral de uma manhã


sem malícia, sem culpa, sem nada,


o mal não me pegará,


e minha alma não vai desistir,


e minha alma não vai parar...

Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar de São João Del Rei vista pela vidraça de uma casa - Kellen Silva - 14/12/2010

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Contos de Fadas... e as relíquias da morte



Depois de dias perdida na minha revolta futebolística, voltei meus olhos para um pequeno tesouro que conquistei durante a X Semana de História da UFSJ. Um pequeno livro que cheirava a infância. Sim, um livro lindo de ver e como eu sempre digo quando vejo um belo livro, me deu uma vontade de comer! Sim, comer! Comer cada cantinho do pequeno livro que trouxe para mim o conjunto perfeito da nostalgisa da infância e os prazeres do meu mundo adulto acadêmico. Além de trazer as histórias dos Contos de Fadas, de Perrault, dos irmãos Grimm, Andersen, Beaumont entre outros, traz também inúmeras imagens de gravuras narrando os pequenos contos.



Fiquei encantada com o porte do pequeno livro.



Esqueçam tudo o que já leram ou viram nos filmes da Disney. Nem sempre os contos de fadas terminam com um final feliz. Foi o que percebi no conto da Pequena Sereia. Nossaaaa, que tristeza que me deu no final do conto. Uma tristeza imensa que não é compartilhada (graças a Deus) nos filmes infantis da Disney.







Confesso que fiquei alguns dias sem dormir o suficiente, pois mergulhei nessa leitura que fazia minha infância retornar. Mas alguns elementos não estavam conectados. Existiam no final dos contos a tal da Moral. Enfim, o que percebi em alguns textos de Perrault foi um certo machismo exacerbado! Ora já se viu que uma mulher se satisfaz apenas com belos vestidos, mesmo sofrendo as mais duras penas? Tudo bem, ficamos sim satisfeitas com uns mimos, mas acho que Pele de Asno se vangloriava de seus tesouros justamente para suportar a realidade tão dura. Pobres homens que não conhecem nem um pouquinho dos tesouros das mulheres... eles acham que nos dobram facilmente com coisas extramente caras e belas. Nada disso tem valor sem sentimento, sem felicidade. Do que vale lindo vestidos sem ter pra quem mostrar, sem tem com quem compartilhar, sem ter onde ir? Pele de Asno sabia disso, mas sabia também que a "sorte pode dar uma viradaaaaa, uma viradaaaaaa". A aposta dela deu certo.


E eu, no que posso dizer que aposto (além de apostar no meu querido Cruzeiro)? Eu aposto em histórias com final feliz. Mas para se chegar ao final feliz, quanto desespero! Quanta dor e humilhação temos que passar! E nesse momento me lembro do conto que li desse livrinho que mais me emocionou, que mais me fez chorar: O patinho feio.


De verdade, Andersen me fez relembrar com seu conto célebres passagens da minha vida! Ô! Juro que todos, um dia, já se sentiram como o pequeno patinho cinza, um pouco fora do univreso, um pouco sem jeitinho, um pouco fora do mundo imposto. E quando li todas as passagens da vida do pequeno feioso até ele se descobrir como um lindo cisne, me lembrei de inúmeros eventos. Foi esse conto que mais me tocou. Não consigo entender porque, posso até entender, mas prefiro não opinar. Só quero compartilhar o prazer de ter lido a descoberta do pequeno feioso em um lindo cisne e dele tomar seu lugar entre os seus iguais. Nós também demoramos encontrar o nosso verdadeiro lugar e, muitas vezes, esse encontro demora... mas vale a pena a busca. Sempre vale.



E ontem acabei em mais lágrimas com a primeira parte do final da Saga Harry Potter. Se minha infância teve a presença dos contos europeus, minha adolescência e fase de "adulta emergente" me pega novamente com as histórias do Velho Mundo. Harry Potter e as Reliquias da Morte é o fim do restante de toda a magia e inocência, a morte se torna uma constante e o medo já faz parte dos sentimentos mais corriqueiros. Ter uma missão, ser o escolhido, carregar um fardo, perder amigos... tudo isso junto. As escolhas que fazemos durante nosso percurso é que nos levam ao final.

E eu levo muito a sério a vida dos meus personagens, eu adoro conviver com eles! cada leitura, cada filme, cada personagem se torna uma parte de mim. Contos e Histórias são partes importantes da minha vida e quero comigo sempre e sempre a nostalgia do fechar do livro, aquele vazio quando termina um filme, aquele coisa martelando na sua cabeça, uma moral para dar sequência a vida, que cada dia imita mais a arte... a arte da vida...

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Vergonha



Tenho uma vida inteira envolvida com o futebol. Mas não sou jornalista, não sou comentarista, não sou treinadora nem irmã ou filha de jogador de futebol. Sou mais experiente, porque sou torcedor, porque quando é dia de jogo do Cruzeiro eu largo tudo e vou ver. Não importa o que esteja acontecendo, ou é olho no lance ou ouvido no radinho.


E nessa vida de futebol já vi alguns absurdos que nunca concordei. Acho que futebol tem que ser vencido dentro de campo, por isso repudio as falas antes jogo, pós tudo bem, mas antes é desrespeito. Por isso repudio erros crassos na arbitragem. Acho injusto um time que luta durante meses ser prejudicado no apito. E quantas vezes isso aconteceu com times de MINAS GERAIS?


Não estou falando apenas do melhor de minas, o Cruzeiro, mas é uma puta sacanagem o que fazem com o América Mineiro na 2ª divisão. Garfado várias vezes, pode correr o risco de ficar de fora do G4 não por falta de competência, por falta de competência de quem segura o apito e as bandeiras. E por falar em erros crassos, o que dizer o que fazem com o Atlético Mineiro? O time custa a ir em uma final, custa a seguir em um campeonato, pra vim um árbitro despreparado e assinalar um penalti inexistente e destruir um sonho de um trabalho inteiro. Posso ser cruzeirense, mas não gosto de ver os sonhos e esforços de um clube ser jogados por terra como esses árbitros fazem.


Minas é azul em sua maior parte, é sim, mas Minas também é alvinegra e alviverde, tem outros times no estado, e acho uma injustiça essas times serem considerados pequenos e não contarem com o respeito, seja dos torcedores, seja dos times que jogam contra.


Mas o que eu venho dizer aqui é hoje é bem pior. O que fizeram ontem com o Cruzeiro foi o ápice de situações que retiraram de nós vários pontos que seriam importantes nessa reta final. Um gol muda a história inteira de um jogo, e quem entende de futebol vai concordar comigo. Um gol dado, como penaltis mau marcados arruina qualquer esquema tático, arruina qualquer grande jogador, porque acaba com sua motivação.


E o que o Fabrício fez sábado foi a materialização de um sentimento que estava no coração de mais de 8 milhões de torcedores do Cruzeiro. Acho que time inteiro deveria ter tomado aquela atitude, sair de campo e bater palma pro senhor Sandro Meira Ricci - que vc queime no mármore do inferno.


Uma sacanagem, o jogo estava aberto, e apesar dos vários erros contra o Cruzeiro, o jogo permanecia em 0x0 e caminhava pra um empate. Em um campeonato de pontos corridos, jogo fora de casa serve para tirar pontos do adversário, se não for possivel tirar três, que tire ao menos 2. E no sábado, toda a vez que o time do Cruzeiro ia para atacar, as bandeiras eram levantadas. Impedimento? não, "PERIGO DE GOL DO CRUZEIRO".




Enquanto existir pessoas que apoiam essa roubalheira, essa canalhice no futebol brasileiro, como vamos poder cobrar dos nossos políticos decência? como vamos cobrar honestidade, se no fim de semana celebramos essa vergonha chamada de "futebol brasileiro"?


Como disse, já vi erros abomináveis no futebol, mas o de sábado foi tão revoltante por ter estragado um jogo. E meu irmão, jogo pra mim é como um ritual sagrado. NADA deveria atrapalhar. NADA. Nenhum babaca de preto deveria estragar o show do talento dos semi-deuses do futebol. E era um jogo muito bom. Era um jogo digno de um campeonato super concorrido, mas que no final foi manchado pela incompetência de um mortal. Se o cara não tem condições mentais de apitar um jogo - muitos alegaram que jogar no Pacaembu, com a torcida inteira do Corinthians pode ter influenciado - pede pra sair. COMO UM CARA DESSES PODE SER CONSIDERADO O MELHOR ÁRBITRO BRASILEIRO? SÓ SE FOR PRAS NEGA DE SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO.




Estou cansada com o descaso da CBF com o Futebol de Minas Gerais. CHEGA! MINAS GERAIS MERECE RESPEITO! Não é de hoje que isso acontece com a gente. NÃO É JUSTO O QUE FAZEM COM A GENTE, COM NÓS MINEIROS.


Aí vem a CBF na pessoa do RICARDO TEIXEIRA dizer que MINAS não pode ABRIR A COPA. ELES SIMPLESMENTE SE ESQUECEM QUE O MINEIRÃO JÁ ESTA EM REFORMAS, QUE BELO HORIZONTE TEM CONDIÇÕES E MELHORA PRA RECEBER O GRANDE CONTIGENTE DE PESSOAS EM 2014, E OS CARA QUEREM CONSTRUIR - COMEÇAR A CONSTRUIR UM ESTÁDIO EM SÃO PAULO: O FIELZÃO, QUE POR COINCIDENCIA DO DESTINO É DO CORINTHIANS!!!


ME AJUDA CBF!


ME AJUDA BRASIL!




QUE VERGONHA! QUE VERGONHA! Enquanto essa mentalidade do "jeitinho brasileiro" não mudar, o Brasil vai continuar sofrendo. E não me venha dizer que é cultural que isso já sem-vergonhice.


E outra coisa, não vou largar o futebol - AINDA. Tô fechada com o Cruzeiro até o final, até dia 4 de dezembro "tamo junto", porque é o mínimo de respeito e confiança que esse time merece, afinal ele luta, afinal ele não entrega. E não tem culpa de ser prejudicado pelo "SISTEMA".




Kellen Cristina Silva, Cruzeirense e apaixonada pelo futebol.




p.s. Hoje entendo o porque do "bairrismo" do Rio Grande


do Sul. Parabéns.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Confusões ...

Hoje me peguei imaginando como seria viver uma outra vida, retornar ao passado e refazer caminhos, mudar destinos, voltar e "consertar" coisas que hoje vejo que seriam melhores de uma forma diferente...


Será que chegaria hoje a ser quem sou, se eu voltasse ao passado pra mudar cada coisinha que hoje acho errado?


Não é síndrome de "Efeito Borboleta", não. É síndrome de Historiador. Historiador tem o poder de voltar ao passado e se abrir para as possibilidades do caminho. Como Samuel Butler escreveu sabiamente, "Deus não pode mudar o passado, mas os historiadores podem", sigo com essa síndrome de Historiador, a de olhar para o passado procurando possibilidades e analisando os caminhos que EU percorri até chegar ao ponto máximo da minha crise.

CRISE?


Acho que os tempos de leitura e leitura teórica durante as férias conseguiram arruinar meus neuronios normais... Quem me dera relembrar o passado apenas com a nostalgia deliciosa da infância, porém, o que me recordo mais são as memórias "trashs" de dias ruins. Muitos dias ruins...


E isso até que foi bom, justamente porque me tornei uma mulher alegre, engraçada e trágica. Isso é maravilhoso, porque não tomo Rivotril (e nunca tomei)... rsrs


Prefiro utilizar de Butler em outro contexto, no contexto de meus estudos acadêmicos. SIM, quando escrevo os passos dos meus queridos pintores, me sinto uma semi-deusa parida das entranhas de Clio, mudo o passado, recoloco na cena nomes que desapareceram, homens que nunca tiveram sua história contada, uma história que reflete o macro. O reflexo do espelho nem sempre é distorcido...


CRISE?


Kell não está em crise e nem andou revendo "Efeito Borboleta". Me imaginei mudando o "meu passado" justamente por mudar o passado de um Espírito Santo perdido. "Eles" ainda não sabem que o reencontrei e que busco recolocá-lo em sua posição de origem, mas só de reescrever uma parte da história desse homem, me revi sendo analisada por um historiador daqui alguns muitos anos...


A documentação não é o reflexo puro da realidade, meus queridos. A documentação é a imagem que queremos deixar para o futuro. Minhas anotações diárias não refletem com imparcialidade a minha realidade...


Agimos literalmente como semi-deuses. Nas nossas batalhas diárias nos arquivos, não podemos confiar em ninguém. NINGUÉM. Por isso nunca encontramos a verdade pura, é uma luta, uma odisséia sem fim, onde nunca encontraremos nossa Penélope...


Porém, não existe oficio mais fascinante do que descobrir em letras garrafadas do século XIX, XVIII ou XII os anseios, os medos e as tentativas de reflexo para o futuro que homens e mulheres deixaram registrados... registros não apenas em palavras sobre o papel, mas em tinta colorida sobre paredes e forros.


A história é o homem e nos historiadores, compartilhamos do olhar dos deuses... A crítica que está impregnada em nossa essência é o nosso diferencial, a nossa curiosidade aguçada, nosso poder...

Todo historiador é um pouco homem, um pouco deus e um pouco curioso...


Os semi-deuses custam a acreditar no chamado de seu destino, ou por medo ou por desconfiança do caminho a ser seguido. Creio que nós historiadores somos todos escolhidos por Clio, paridos dessa sábia curiosidade e escolhidos para ocuparmos um lugar, que muitas vezes, é desporovidos de valor, mas essencial para a humanidade ...

domingo, 2 de maio de 2010

Triste,






















Sinto-me triste,


parece que tudo o que reunia forças ao meu redor,


caiu,


dissipou o pouco de alegria que me restava dentro do peito.


o esquecimento de alguns é a dor alheia,


e sem querer,


o alheio interfere em nós muito mais do que imaginamos.


Piada pronta,


minha tristeza não é a maior do mundo


só porque é a minha,


mas minha tristeza pode ser sentida


por qualquer pessoa do mundo


que me ouvir,


ou melhor,


por qualquer pessoa que me olhar.


Não consigo entender como um começo feliz


poderia ter sido assim,


tão trágico... naquelas palavras


expressas daquela maneira!


Pra mim o começo foi o mais feliz,


tão contrastante com essa tristeza que sinto.


Acho que o que sinto e falo é bobagem,


besteirinha infantil


de quem ainda não cresceu...


Balelas que me entram pelos ouvidos


e eu, EU, simplesmente deixo ouvir,


não respondo.


Eu que respondo a tudo


e a qualquer coisa que me incomoda,


acato,


como se tomasse aquilo como um elogio.


Covarde.


Sim, me acovardo perante a experiência


de quem me diz o que quer,


mas não está preparado para ouvir,


é muita pressão...


Melhor não dizer nada,


melhor evitar a fadiga,


melhor viver e esquecer da primeira alegria...


Simplesmente deixar passar,


a tristeza não dura para sempre,


mas bem que a alegria podia durar...

quinta-feira, 18 de março de 2010


Queria ser o seu céu, o seu mar, a tua terra e cada pedacinho do fogo que arde em seu coração.

Mas não sou nada do que é belo no mundo, sou apenas mais um risco imperfeito da criação.

Se eu pudesse escolher um dia, escolheria aquele que vi seus olhos de universo inteiro pela primeira vez.

Ah... a primeira vez é tão nostálgica quanto sair em uma manhã fria lembrando-se da cama queitinha...

Primeira vez... tão lindo! Momentos tão únicos, o primeiro dia do resto de nossas vidas... A paixão dolorida, o amor (des) eterno e a mente brilhante... o esquecimento rotineiro...



Primeira vez queria voltar, voltar aos seus olhos de universo inteiro e me perder em devaneios eternos de uma noite de chocolate branco e violão, me consumindo por inteiro.

Segunda vez não perde a graça, melhora. O tempo melhora tudo, só estraga o que já nasceu torto, imperfeito.



O tempo, senhor dos nossos caminhos, abre espaço para o pensamento eterno, para o abraço desconexo com a realidade. O ontem já não é e o amanhã um horizonte de expectativa que nunca se alcança e sempre cansa a forma como procuramos. Melhor viver sempre a eterna experiencia, de dias iguais, de noites diferentes e madrugadas eternas.



A ultima vez que vi aqueles olhos de universo inteiro foi a quase duas horas atrás e o mesmo encantamento me acelera o coração e revira minhas entranhas com a esperança de mais um dia, de mais um momento de magia e expectativa. O tempo não deixa um horizonte mais claro, vivemos na ânsia venenosa do amanhã e esquecemos de viver o tempo presente. O passado é passado, mas é sempre revivido no presente. Revivo o passado no presente momento em que encaro aqueles lindos olhos de universo inteiro. O universo inteiro cabe ali. O meu universo inteiro em dois olhinhos castanhos que brilham mais que a lua cheia em sexta-feira da paixão...



Se eu pudesse escolheria ser seu céu, o seu mar, a terra firme por onde anda e o fogo ardente em seu coração. Se eu pudesse voltaria na terceira vez que nossos olhos faiscaram e que você me disse que eu já não seria mais seu horizonte de expectativa. O passado não lhe serve mais como experiência e o presente, pouco importa, empurra.



Se eu pudesse não seria a romântica perdida, a poeta vazia de versos e temporalidades, seria apenas mais uma canção de amor perdida e sentada no cais de porto, esperando e observando o tempo, o vento, a memória...




quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Euforia

“Tem certas coisas que o coração fala
E a mente não escuta.
Pra quê mexer com a razão
Se a euforia do amor é absoluta?
Mas com o tempo o coração se cala
E a mente reina na penumbra,
Pois a euforia passa
Assim como passam as multidões...”

Resta-me dizer algumas palavras. Quando a gente ama parece que o mundo inteiro é para aquela pessoa. Todos os dias, todas as horas. Diferente da paixão que te cansa com o passar do tempo, essa comunhão de sentimentos se expande cada dia mais, transformando sua vida em um eterno encontro onde borboletas “saltitam” em seu estômago.
Mas essa euforia passa... me disseram.
Não acredito que isso aconteça, mas hoje ouvi de uma pessoa que eu conheço algo que me deixou a beira de um ataque de nervos. Tal fato era relacionado a “coisas ditas em momentos de euforia”.
Pensar pra falar é raro, cada vez mais raro na sociedade de hoje em dia, mas esse meu amigo me falou que essas “tais coisas” foram ditas em um momento de euforia a dois. Ou seja, meu amigo andou falando mais do que queria pra quem não deveria.
Pergunto-me, se o amor é guiado pelo coração, que nada tem a ver com a razão, por que tais palavras não poderiam ter sido ditas? Podem sim, claro que pode! A verdade mais pura é a verdade eufórica, é a verdade da mesa do bar, por exemplo. Ninguém te pergunta nada daquilo, mas a verdade vem como uma ânsia que não dá pra segurar e se vomita em cima daqueles a sua volta.
Mas no amor…
Acho que esse meu amigo sente medo. É um inseguro. Tem medo de amarras, por isso usa do artifício da euforia. Mas se o que foi dito foi dito em momentos de euforia e hoje já não é mais verdade, das duas uma: ou o que foi dito era balela ou o amor que vivia, definhou.
Amor que é amor não definha e nem morre. Paixão é que morre no passar das batidas comuns das horas, nas pegadas do cotidiano vão se perdendo. O cotidiano se abate e abate a paixão num piscar de olhos. Se a euforia passou, se a depressão chegou, pode saber, o amor se acabou.
E não adianta vir com “panos quentes” dizendo que falou sem pensar nas conseqüências. Muitas vezes o nosso primeiro “eu te amo” sai no meio da euforia, da alegria. Sai porque já se sentia, sai naturalmente na onda de festa porque ele já existia. Agora, não me venha dizer que as palavras ditas se transformaram em um pudim de falsas palavras, pois a minha resposta será apenas uma pergunta: Ainda resta fôlego para o amor?
Se a euforia passou e a depressão chegou, aquela certeza que tinha meu amigo se acabou, pois há incontáveis estrelas no chão, estrelas que não pensaram antes de se jogar no espaço vazio para encontrar o mar. A euforia as fez cair. A euforia as fez morrer. Sentir não resta mais. Quando o amor vira piada é porque a razão chegou e pode ter certeza que aquela euforia do principio, que com o tempo se acabou não era amor, era um sentimento mais baixo. Nem paixão talvez...
Não há mais estrelas brilhantes no céu. Romantismo e alegria não existem mais fora da euforia. Existem agora apenas palavras cercadas e cegas pela razão.
Sinceramente, eu acho que meu amigo se ferrou...

domingo, 24 de janeiro de 2010

O Silmarillion e "O Dom de Ilúvatar"


J.R.R. Tolkien surgiu em minha vida por um acaso em 2002, quando fiquei fascinada com um cd room que a America Online distribuía sobre o lançamento de um filme: O Senhor dos Anéis. Imaginem! Em 2002, a jovem que lhes escreve era ainda mais “jovinha”, eu tinha meus queridos e saudosos (ou nem tão saudosos) 15 aninhos, ou seja, querendo ou não, a abstração para o mundo de Tolkien ainda era meio complexa para mim.

Mas me fascinei com Tolkien e toda a beleza e poesia da Terra-Média retratada magistralmente pela equipe de Peter Jackson. Virei fã e corri atrás dos livros da saga. Queria saber em cada detalhe dos livros o que era aquele mundo tão fascinante.

Tudo bem, que com meus tenros 15 anos, eu já lia pra caramba e gostava de assistir uns filminhos de vez em quando. Já possuía um senso critico meio que apurado, pois não curtia os funks que minha melhor amiga curtia. Ou seja, já era de opinião. E era também tida como a “doida varrida” que gostava de universos fantásticos. Coisa que não mudou em mim.


Com Tolkien, muitas coisas boas surgiram na minha vida. Queria escrever como ele, apesar de não entender patavinas do que ele escrevia em algumas partes dos livros do Senhor dos Anéis, porém não desisti, porque aquilo tudo me fascinava, todos aqueles nomes, todas aquelas referencias que tinha fora do livro.... Por um instante, passei a acreditar vivamente na existência de uma Terra-Média antes das grandes civilizações históricas do mundo, que poderia ter desaparecido como Atlântida havia desaparecido. Aliás, Atlântida poderia ser parte da Terra-Média...


Não surtei, apenas me apaixonei por J.R.R Tolkien, que virou uma referencia. Depois de Tolkien uma vontade imensa surgiu em mim: o de também escrever um romance fantástico (nos dois sentidos) como Tolkien havia escrito. Sei que NUNCA vou escrever como o Tolkien, mas foi bom acreditar que poderia. Não queria usar das suas referencias. Queria criar meu mundo, criar meus personagens e meu enredo. Foi graças a essa vontade que consegui sobreviver à adolescência e por isso tenho sempre que agradecer a America Online pelo cd room que mandou para minha casa...


Enfim, em 2003 comecei a escrever meu romance intitulado “O Destino e o Fogo”. Mergulhava em mitologia para tentar criar algo original. Depois, lá para 2004, quando estava para me formar no Ensino Médio, me veio à idéia de me basear em lendas e mitologia da América. O mundo que eu queria criar não poderia ser mais eurocentrista. Parecia que algo me chamava à atenção.

É engraçado lembrar, que nessa época já conhecia J.K. Rowling e seu mundo de Hogwarts com nosso querido Harry Potter. Mas o mundo de Potter era um mundo semelhante ao meu, com apenas pitadas de magia, que deixava tudo, claro, mais fascinante. Tolkien era diferente e é diferente para mim. O mundo de Tolkien é algo palpável a imaginação. Você é levado pela sua mente a imaginar cada ser, cada lugar. Já com Rowling, as coisas são mais palpáveis a nossa realidade, até o quadribol é uma mistura fina de esportes conhecidos...


Mas voltando a Tolkien e a mim. Ontem à noite comecei a ler O Silmarillion, um dos livros mais complexos da saga de O Senhor dos Anéis. Confesso que irei ler “O Hobbit” para meus filhos, daqui alguns anos, se Deus quiser, junto ao Pequeno Príncipe, mas o restante da Saga, só mesmo quando eles já estiverem bem maiores...


O Silmarillion me chamou a atenção simplesmente pela beleza das palavras de Tolkien. Ainda quero ler toda a saga na língua original, mas mesmo assim, a sutileza com que ele fala da morte... Achei fantástico o fato de ele dizer que “Já os filhos dos homens morrem de verdade, e deixam o mundo; motivo pelo qual são chamados hóspedes ou forasteiros. A morte é seu destino, o dom de Ilúvatar, que, com o passar do tempo, até os Poderes hão de invejar. Melkor, porém, lançou sua sombra sobre esse dom, confundindo-o com as trevas; e fez surgir o mal do bem; o medo da esperança.” (p.36)


“A morte é seu destino, o dom de Ilúvatar”. A morte é o nosso destino, a nossa passagem para algo muito superior a nossa imaginação. É o dom de Deus. Morrer não é para poucos, apenas para os escolhidos por Deus. O mal, porém, corrompeu nossa visão de morte e passou a designá-la como algo ruim, algo sem esperança. A morte da esperança... A esperança não morre! O medo não pode matar...


A morte é um tema recorrente em Tolkien, e as formas como julgamos a vida e a morte também se encontra presente. Em O Senhor dos Anéis, há uma passagem em que Gandalf fala a Frodo sobre matar, sobre ter o poder de decidir sobre a vida e a morte: “Muitos que vivem merecem a morte. E alguns que morrem merecem viver. Você pode dar-lhes vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém à morte.”

Parece que ele nos fala de questões óbvias! Tolerância e respeito, ter a capacidade de não julgar é um dos grandes dons que poderíamos receber de nosso criador, seja ele Ilúvatar, Deus, Yahweh, Alá ou Krishna. Tolkien não fala muito de Deus ou da presença divina em O Senhor dos Anéis. Os Hobbits não rezam, e nem precisam. Deus está dentro de nós. Somos sua imagem e semelhança, não? Dessa forma, o simples desejo de conseguir algo é uma oração ao nosso criador.

O mundo da Terra-Média me encanta e continuará a me encantar, mesmo daqui cem anos. Ao ler essa passagem no Silmarillion, sobre a morte ser o nosso dom me deixou um pouco menos aflita. A vida corre para todos nós e a morte é algo que chega e que já está marcada desde o dia em que nascemos. É a nossa única certeza. A morte não é algo ruim, como o mal quer nos fazer acreditar. Morrer é encontrar nosso caminho de volta para casa, para as Terras Imortais...

Porém, Complicado é entender a morte para aqueles que perdem quem amam... Dessa forma, este post nada mais é que chover no molhado. Mas pensar que a morte é um castigo é ser “malzinho” demais...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A misteriosa chama da Rainha de Hanna

Estaria um pouco sensível ao tempo? Acho que não... A memória é algo que impressiona cada um de nós, pois ela pode escorrer entre seus pensamentos nas horas e lugares mais impróprios para tal coisa, basta uma Madeleine como a de Proust, para tudo o que se guardava no mais profundo da sua alma, vir à tona. Todos nós possuímos nossas Madeleines, seja um cheiro de algum perfume, uma música, um nome, um gosto, um gesto, um texto...
Retornando ao campo da Teoria da História, podemos nos deparar com Maurice Halbwachs, que trata a memória como interligada a dois tipos: a Memória Individual e a Memória Coletiva. Tal relação se manifesta, por sua vez, no individuo. A formação da Memória Coletiva é recheada de lembranças individuais, porem, elas não se confundem.
Lendo um maravilhoso livro de Umberto Eco intitulado “A misteriosa chama da rainha Loana”, essas questões tão complexas pulularam em minha mente tão desocupada. Juro que tentei fugir um pouco de textos acadêmicos nesse mês de janeiro, mas como eu já afirmei, a História e suas ramificações estão presente em nós, enraizada em nossa própria vivência, que de vez em quando se torna amplamente vazia, mas mesmo assim estão aqui dentro. Tal questão voltava-se para a Memória e a História. Confesso que tenho pouca carga de leitura para esboçar alguma opinião, porém, devo arriscar.
Umberto Eco, em minha opinião, escreveu um livro simplesmente maravilhoso. Ler sua narrativa é como mergulhar na fala de uma pessoa que está a sua frente contando sobre a melhor fase da sua vida: a infância. A memória escolhe eventos que marcam o individuo. Essa é a memória individual. Seria como uma criança, sem nada entender ainda de mundo, que observa de longe os preparativos de um funeral. Ela sabe o que é a morte, mas não sabe por que aquela pessoa morreu. Apenas repara que durante a cerimônia, há a presença da bandeira do Brasil sobre o caixão e isso a marca. Ela não entende o porquê daquele caixão estar com a bandeira da nação enquanto outros que observou durante sua pequena vida, nunca a possuíram. Daqui algum tempo, ele vai descobrir que aquele funeral era de algum soldado da missão de paz que morreu na tragédia do Haiti. Aparentemente, nenhuma grande ligação se forma na mente da criança. Só daqui algum tempo, quando a História lhe mostrar o acontecimento é que o individuo vai saber que esteve no bojo da história, que presenciou seu fragmento.
Bem, voltemos a Umberto e a Memória. De acordo com Halbwachs, a memória individual não se encontra fechada ou isolada do meio em que se encontra inserido. Muitas centenas de vezes, para se recorrer a algum tipo de memória, nós precisamos de um estimulo, como Proust e sua Madeleine. Interessante é quando Halbwachs cita que a nossa memória pode ser ativada também pelas lembranças de outras pessoas. Ao ler o livro de Eco há uma passagem em que Yambo recorre a Gianni para acender a chama de sua memória. Foi em vão para o protagonista de Eco, que perdeu a memória com um AVC, mas não é em vão para nós.
Acontecimentos coletivos causam lembranças individuais. Isso é fato. Mas as lembranças individuais também ajudam a formação de uma memória coletiva que é construída de acordo com o que nós lembramos, pois existem pontos de referencia na própria sociedade. Dessa forma, para Halbwachs, a única memória verdadeira é a coletiva, uma vez que a memória individual é construída a partir de um lugar social, ou seja, devido a influencia do meio. É como um circulo vicioso.
Umberto Eco, em minha opinião, meio que transita nesses dois elementos da Memória.
Na primeira parte do livro, podemos notar que a Memória que Yambo possui é uma memória coletiva, uma memória que não possui nenhum sentimentalismo presente nas lembranças pessoais. O protagonista sente essa falta de ligação sentimental individual, já que ele não consegue estabelecer a relação que Halbwachs afirma: a de que a Memória Individual só pode ser ativada através da Memória Coletiva.
Como Yambo, nas palavras de Eco: “Desculpe. Não consigo dizer nada que me venha do coração. Não tenho sentimentos, só ditos memoráveis.” (p. 24)
Yambo, meu querido protagonista, na primeira fase do livro consegue falar, citar e lembrar fatos presentes na memória coletiva, coisas como Napoleão e a Guerra do Golfo, mas não consegue realizar uma ligação com seu sentimento de lembrança ligado a tais fatos. Não consegue lembrar o porquê de Napoleão o marcar tanto, por exemplo.
Tomemos cuidado em certos pontos. O protagonista de Eco possuía também uma memória intelectual altamente exuberante. Sabia de cor citações de vários autores, vários fatos históricos, era um homem culto e politizado. Mas não sabia fazer relações de tais fatos com sua vida.
Perder a Memória é como perder sua identidade. Não só a identidade individual como a coletiva, já que se rememoram os fatos, mas não o porquê desses fatos serem tão importantes para o individuo.
Resumindo, o enredo do livro de Umberto Eco é uma viagem a infância de Yambo. Uma narrativa tão rica e ilustrada sobre a Itália dos primeiros anos do fascismo até o final da Segunda Guerra mundial. Entrar na memória de Yambo através de Eco é uma viagem maravilhosa pelo tempo, pela História. Fascinada estou. Imagina, enquanto o pequeno herói do romance se deliciava com livros e histórias Cult e em situações de alto risco e de coragem em sua infância, euzinha só sabia ver televisão e comer chocolates...
Piadas a parte, “A misteriosa chama da rainha Loana” realmente mexeu comigo, pois além de suscitar questões relativas a memória, que é complexa, consegue passar um enredo simplesmente emocionante e daqueles que você não consegue desgrudar. Confesso que demorei a ler o livro, mas porque comecei em tempos de aula. Agora nas férias consegui finalizá-lo e sinto uma nostalgia imensa. Parece que o livro de Umberto Eco foi minha Madeleine, pois rememorei inúmeros fatos dos meus melhores anos da infância...
Enquanto para Yambo a rainha que trazia a chama que teria o poder de fazer sua memória reviver era Loana, para mim, Eleanor, aquela que faz a chama da lembrança arder é a Senhora de Hanna, a jovem sacerdotisa das florestas esquecidas que cultivou questões únicas da minha adolescência. Escrever realmente é a melhor forma de se guardar o presente para o futuro, mesmo que esse presente não seja lá uma grande narrativa, será posteriormente uma chave para as lembranças, caso se sofra um AVC e se perca a memória afetiva ligada à memória coletiva...
Enfim, ler “A misteriosa chama da Rainha Loana”, além de se deliciar com um belo romance, aprende-se muito de História e ainda mais sobre a questão da Memória. Essa questão que suscita grandes reviravoltas no mundo...
Por isso escrevo diários e revejo sempre a minha querida Senhora de Hanna. As vezes é necessário lembrar.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Sobre poeira e tinta...

"Dias assim me acende a lembrança, é como se minha madaleine fosse aquela brisa de fim de tarde entrando pela janela entreaberta do sobrado. Mas o que me acende a lembrança em dias assim, de vento norte, é o cheiro tão característico do incenso de igreja entrando pela janela. Esse cheiro me leva de volta aos anos de 1793, quando passeando pela rua direita me deparei com aquele que seria o amor de uma vida inteira. Não posso deixar de dizer que aquele homem jovem, de cabelos negros como a noite e de olhar penetrante era um homem ideal para se apaixonar. Ao contrário, para mim e para minha condição, era melhor eu nunca me atrever a se quer olhar para ele. Mas como não mandamos em nada, naquela manhã de setembro de 1793, quando os sinos dobravam para a padroeira do dia, Nossa Senhora das Mercês, nossos olhos se cruzaram. Eu era jovem como as primeiras rosas da primavera e ele era um distinto e jovem imigrante português de poses na cidade. Nunca poderia imaginar, porem a magia que emanava daquele incensário, o barulho intermitente dos sinos e a beleza das ruas enfeitadas nos levaram a olhar um para o outro. Dessa forma, nossas almas se entrelaçaram e nunca mais se soltaram, até mesmo quando ele se casou com outra mulher, nossas almas não se separaram. Para aquele tempo, um homem de poses não poderia se casar com uma escrava, mesmo ela já sendo de sua pose por inteiro, tanto de corpo como de alma..."

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Formei


Discurso de formatura

O encontro com o nosso destino as vezes se dá lá na tenra infância, quando ainda crianças nos deslumbrávamos com as aventuras do arqueólogo Indiana Jones ou com as aventuras de bang bangs de far western que fazia-nos pular da poltrona, ou ainda quando em frente a TV, assistíamos sem entender muito bem o porque de jovens nas ruas com caras pintadas. Mas mesmo sem entender nada do que estava acontecendo, nos sentíamos atraídos por esse mundo tão contínuo e em perpétua mudança.
Fazer história foi uma escolha, que muitos dos nossos amigos, conhecidos, parentes, professores e até mesmo pais não compreenderam muito bem, afinal, no término iríamos nos transformar em professores. E daí sermos professores? Só porque, o salário não é alto, só porque temos que enfrentar uns diabinhos de alunos e também ensinar coisas fascinantes e fazer com que elas se tornem fascinantes é tarefa árdua e nem sempre reconhecida. Mas saibam que não podemos deixar de dizer, prazerosa.
A história tem um enigma que se esconde em cada rosto, em cada linda, em cada objeto. Porém, não se enganem amigos, ao pensar que o historiador volta seus olhos apenas para os vestígios, como artefatos, paisagens ou máquinas. O objeto do historiador é o homem, pois a história é o homem, como diz Lucian Febvre, e as ações são realizadas por eles. Somos caçadores de carne humana, como afirma Marc Bloch.
Nossa jornada pelos meandros da história começou bem antes, muitas vezes ainda na infância, porem o encontro com a nova vida de graduando se deu em 2006, quando muitos de nós tomamos a difícil decisão de partir dos nossos lares, de deixar nossa terra para correr atrás de um sonho, que hoje finalmente se concretiza. Buscamos construir nossa história no bojo da História e podemos dizer que São João Del Rei nunca mais será a mesma sem nós, historiadores de alma e coração e gulosos por opção.
Não podemos deixar de relembrar o primeiro dia de Aula, um encontro com o curso, com os futuros amigos e colegas, veteranos e com o trote. Acho que todos nós passamos a amar um trote engraçado, amigo e consciente, seja ganhar, ou dar. E nos ganhamos um trote inesquecível de se ver, de se sentir, um trote que passamos para nossos calouros, como uma tradição inventada, mas tão profunda, que não conseguimos mais viver sem. Foi graças ao trote, que nos conhecemos, trocamos telefones, trocamos a sensação de insegurança, medo e também compartilhamos o nojo daquele chiclete esquisito verde... enfim, era o nosso rito de entrada.
Durante quatro anos, compartilhamos vocabulários e sotaques diversos. Houveram choques culturais, brigas ideológicas, batatas no labareda, coca-cola no trailer, sorvete a noite em julho, fugas espetaculares de lugares de estágio e trabalho. Trabalhos compartilhados, viagens e programas furados, algumas reprovações, choro, perdas, ganhos, amigos, inimigos, colegas, agonia e êxtase.
Hoje, nosso rito de saída é permeado pela lembrança, pela memória. Espero que ninguém tenha guardado memórias traumáticas do curso, apesar de existir n possibilidades para tal. Como nossa primeira prova de graduação, em Leitura e Produção de texto. Como não se lembrar daquela prova bem ao estilo ensino médio condensada a questões tão acadêmicas! Quanta saudade do ensino médio ainda sentiríamos! E quando fomos apresentar nosso primeiro seminário de graduação?! Não podemos esquecer o medo de errar nas aulas de introdução a sociologia, com a vergonha de falar em público. Afinal, nós éramos ingênuos, crus e calouros!
Descortinou-se para nós experiências da Antiguidade, a simbologia da Idade média, as navegações da Idade Moderna, as Revoluções da contemporaneidade... Como esquecer aquela aula de História Medieval em que o Moisés utilizou de recursos didáticos visuais! Os nossos gritos ecoaram por todo o campus Dom Bosco, principalmente quando olhamos para Carlos Magno e afirmamos: “COMO ASSIM! A TERRA NÃO ERA REDONDA NA IDADE MÉDIA”! A terra nunca deixou de ser redonda caros amigos, mas para os homens daquele tempo, ela era achatada... Descobertas assim nós empolgavam e nos levavam a pensar, a começar a cultivar cada vez mais profundamente uma visão crítica da história, dos homens. Fomos aprendendo e amadurecendo. Já não gritávamos quando algo assim era nos dado pelos nossos mestres. Mesmo que ainda, nos corredores, as provas de Tempo, Memória e Patrimônio, América e Brasil II, III E IV nos tirasse o sono e nos desse uma vontade profunda de gritar SOCORRO, não desistimos, mesmo depois que elas aconteciam, o sentimento de inaptidão só piorava. Como uma amiga me disse, ao se deparar com o Lula na prova sobre Getúlio, só nos restava pular da ponte... Felizmente não pulamos, pois temos a capacidade de nos surpreender. Não sabemos o poder do nosso conhecimento até ele ser avaliado. Bem, Sabemos... Porem a duvida faz parte do aprendizado e o mestre, precisa existir para nos guiar pelos melhores caminhos.
Foram quatro anos de risos, de noites sem dormir, de festas, de choros, de médias perdidas, de provas inacreditavelmente fechadas e zeradas, de descobertas documentais inimagináveis, de encontros e desencontros. Hoje quando nos perguntarem o porque de nossa escolha, não diga simplesmente que foi porque tinha curiosidade em um tema, ou que um professor ou alguém lhe serviu de inspiração, ou ainda o fato de presenciar acontecimentos históricos ou por respirar a história. Diga que a sensação de ser um detetive do passado é a melhor do mundo. Diga que a sensação de compartilhar conhecimento com seus alunos é a mais prazerosa possível. Diga que ler em letras garranchadas do século XVIII aquele nome que procura é um êxtase sem tamanho. Diga que admirar o homem em todas as suas instâncias é tocar um mundo no qual todos nós viemos e estamos inseridos.
Diga que vivemos e que só vivemos bem quando sabemos de onde viemos. Quando mitos são quebrados e a verdade ressurge suja de pó e infestada de traça, podemos dizer enfim, que somos como poetas que escrevem a verdade nua e crua, sem a beleza dos versos. Diga que somos a poética da beleza dos fatos e dos atos e que nossa profissão é a busca pela verdade histórica, mesmo que essa verdade nunca seja completa. Diga que somos quase profetas, diga que Deus não pode mudar o passado, mas que nós Historiadores podemos. Eis o poder de nossa profissão. Eis a responsabilidade que carregamos, caros amigos. Como nosso Paraninfo nos avisou em uma de suas aulas de Teoria da História, nós temos a profissão mais influente do mundo. Somos responsáveis pela vida e, muitas vezes, pela morte. Nós somos responsáveis pelo pensamento crítico. Somos responsáveis pela visão de mundo. Somos teóricos comprometidos com a verdade, e essa verdade precisa ser levada a todos, e nós, como professores que também somos, somos aqueles que influenciam o mundo e temos a formação que muitos gostariam de ter, mas que não tiveram a nossa coragem de buscar a verdade por baixo de camadas de poeira e tinta.
Eis que somos como aquele Indiana Jones de nossa infância. Escavamos a verdade e como ele, temos obrigação de passá-la para nossos alunos, para o mundo. Somos também como os heróis de far westen, porque temos que desbravar terrenos inóspitos e enfrentar desafios para encontrar o nosso tesouro, que é o homem em toda a sua beleza e poesia, porém não apenas em ações do passado. Somos como aqueles jovens de cara pintada, pois tentamos entender o mundo atual, olhando com atenção a História que se escreve em cada segundo. Escolhemos fazer história simplesmente pelo fato de ainda acreditarmos na beleza e poesia da humanidade! O homem não pode ser o lobo do homem, e enquanto pulsar essa esperança em nós, o presente será uma dádiva e o passado não mais um exemplo, mas uma lembrança de como agimos para que existisse um futuro melhor.
Hoje podemos dizer que valeu a pena todas as noites acordados, seja estudando ou farreando. Pois hoje somos historiadores e, sobretudo, arautos da poesia da história, somos professores sim! E com o orgulho de termos a melhor profissão do mundo e a mais legal também.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Arautos do Tempo

Primeiro post do novo blog. Acho que finalmente vou conseguir ter um blog e dar continuidade para ele.
O "Arautos do tempo" tem uma finalidade bem simples, que é a de levar a poesia da história a todos. A História é tão preciosa. A minha intenção é simples perto da importância dela para todos nós.
Bem, primeiro post so para inaugurar mesmo!
saudações,

Seguidores