Breve histórico...

Minha foto
"O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove." Fernando Sabino

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Uma saudade no céu claro em noite escura

Quem pode dizer que amizade não acontece entre seres diferentes? Acontece. Acontece entre pessoas que não são iguais, entre animais que não são iguai e entre humanos e cachorros. Esse tema pode ter caído no senso comum, mas tudo que cai no senso comum tem seu pezinho na verdade.
A origem dessa amizade é antiga, bem antiga, datando ainda da pré-história, quando os lobos foram domesticados pelos homens como forma de companhia e defesa. Em períodos de grande fome, os animais domesticados acabavam virando o "lanchinho" de nossos ancestrais... o sacrifício da lealdade...
Porém, a aproximação de homem e cão aconteceu e se tornou um dos elos mais significativos do mundo social. O filhote é a expressão mais clara da amabilidade do ser humano com o animal, seja ele qual for, porém, essa amabilidade se torna mais nítida no caso dos mamíferos, sobretudo o cão.
As relações humanas são complexas. E o animal acaba recebendo uma carga maior do que ele mesmo carrega. Por exemplo, o status de santidade, melhor posto, caráter místico e sagrado que, para muitas culturas o animal carrega. No Egito Antigo temos Anúbis, o deus da morte, era representado com cabeça de cão ou de chacal, enquanto os gatos representavam os protetores do submundo. Enquanto na Grécia antiga e Roma, os cães de abandonados seguiam para o sacrificio. Atualmente vemos os mesmos cães abandonados sendo sacrificados nas ruas pelos próprios homens que, um dia, os domesticaram.
E porque os cães, mesmo sabendo da natureza tão brutal do homem, de sua natureza egoísta e tantas vezes maquiavélica, ainda procurava sua companhia? Porque os cães, mesmo aqueles que vivem na completa liberdade, ainda se aproximam de nós? Uma pergunta que foi feita ainda em Roma clássica, pelos homens sensíveis de seu tempo, que enxergavam nesses animais uma qualidade quase humana.
E foi essa qualidade quase humana que levou os cães a serem associados as atrocidades cometidas por nossos antepassados: da caça a tortura, de cobaias a escravos. A relação humana com os cães se deu mais pela aproximação pela exploração do que pelo sentimento de amabilidade que o cão dava aos homens, afinal, os cães são quase humanos.


Com o tempo, esse status do cão foi modificado, pois sempre existiu pessoas que não concordavam com tais atos. Atualmente temos exemplos de associações protetoras de animais que zelam pelo bem dos cães, entre outros bichinhos. Mas mal sabem que essa atitude já é histórica e datada do século XIX na Inglaterra, local da criação da primeira Associação de proteção aos animais, que visava o fim do trabalho de tração realizado pelos cães.

Mas voltando ao assunto principal, a amizade entre seres completamente diferentes. SIM, existe, e o exemplo máximo é o homem e o cachorro (claro que temos outros lindos exemplos, como os gatos, papagaios, entre outros).

Há quem diga que o cão não tem alma. Eu digo que seria uma maldade o cão não ter alma, pois há uma nobreza de alma em cada cão que eu já conheci na minha vida. Há uma lealdade no olhar de cada cão que cruzou meu caminho, um sentimento tão profundo transparece naqueles olhinhos, que chega a ser impensável isso. Fora as personalidades diferentes, os gostos, as formas de demonstrar alegria, descontentamento, medo, aborrecimento... Há algo muito bonito em cada cão que cruzou meu caminho. E sei que no caminho de todo mundo, um cão foi, de certa forma, especial justamente por demonstrar essa alma em determinada situação, em determinado momento.




O segredo de toda convivência é tratar todos iguais de formas diferentes. O animal sabe disso e trata todos iguais, de formas diferentes. Luna fez isso durante seus anos compartilhados comigo.

Cito o exemplo da Luna porque foi o cão mais sincero que eu tive a oportunidade de conhecer e conviver durante lindos e curtos onze anos. Desde pequena sabia o que queria e não media esforços para alcançar seu objetivo. Arteira e sagaz, minha vira-latinha havia herdado de seus ancestrais das mais variadas raças (sua avó paterna era Doberman, seu avó Basset, seus avós maternos eram desconhecidos), e parece que esses genes a transformaram em um cão com as mais variadas qualidades e defeitos.

Todos os dias da sua vida, Luna dormiu debaixo da minha janela, todos os dias me esperava chegar da rua sempre com uma saudação de rabanada e quente lambida. Não tinha dia que me sentasse no sol que ela não estava lá, juntinha de mim para ouvir meus lamúrios e minhas alegrias. Assitia minhas aulas imaginárias, me ouvia falar sobre pintores perdidos, coisas estranhas e sabia, sempre sabia, quando eu mais precisava de apoio, pois era a sua patinha que encontrava minhas mãos e sua cabecinha a deitar sobre minhas pernas.

Não era ciumenta, não era chata. Sabia sua hora de aproximar. Dividia seu espaço, cuidava de quem gostava e de quem não gostava, mantinha distância. Dizem que o cão tem a personalidade do dono, pois bem, Luna era uma verdadeira capricorniana, pois nasceu tres dias antes de mim, em um dezembro chuvoso e inesquecível. Foi a dona do quintal e minha melhor amiga.

Não passo um dia sem me lembrar de seus olhinhos me seguindo, de seu andar languido, de seu sorriso canino quando ganhava um agrado... Sempre quando aparecia a lua no céu mostrava para ela a origem de seu nome, Luna, um devaneio de criança referente a Lua e as heroínas japonesas. Luna, no desenho era uma gatinha preta, linda e inteligente. A minha Luna era um cão preto e branco leal, inteligente e única.

E toda a vez que olho para o céu claro em noite escura, vejo a lua tão linda e já não tenho mais minha Luna para compartilhar a beleza da noite prateada. Na verdade só a saudade que povoa meus pensamentos... e sentimentos. Ela se foi, mas deixou marcado em mim um pedaço de sua alma canina e isso, isso é eterno...

Então, agradeço aos homens pré-históricos que iniciaram essa aproximação com os lobos que vieram a se tornar cães. Agradeço e espero que nós não nos tornemos pessoas cruéis para com os animais, pois eles sentem como nós. A dor que causamos a eles, podemos sentir também. "Nunca faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem a você". Essa máxima da convivência vale muito mais para a relação homem-animal do que para homem-homem, porque muitas vezes, os animais não sabem se defender...


Pense nisso, pense na alma de cada cão que cruzou sua vida em algum momento, é só se lembrar dos olhinhos deles para você, quando pensar em maltratar algum animal, seja ele qual for. São Francisco foi um dos primeiros a notar a beleza dos animais... todos nós podemos também...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

O último tango em Sete Lagoas.





Parafraseando Bertolucci, tenho que confessar que o "último tango" combina extremamente com a situação vivida na última quarta-feira pelos torcedores do Estudiantes de La Plata.
O tango, ritmo melancólico mas ao mesmo tempo cheio de sensualidade e força, não foi a melodia que esteve presente nos ouvidos dos guerreiros azuis, mas se esteve, nossos guerreiros souberam utilizar da força para conseguir uma bela vitória.
Montillo é argentino, e trouxe com ele a força do ritmo sensual, presente no vai e vem de suas pernas, do bailado perfeito de suas jogadas. O último tango dos argentinos precisava de um hermano como maestro. E Montillo foi mais que maestro, foi guerreiro. Além do maestro contamos com os dançarinos que souberam conduzir a dama magistralmente. A dama, no jogo de quarta, era a bola, a senhora do destino daqueles que amam o fubebol. E parecia que aquela dama adorava cair nos pés de Roger, parecia não, era verdade, a bola acariciava as chuteiras do bailarino, tudo o que ele pedia, ela fazia de bom grado! E quando Wallyson a tirou para dançar, a bola apaixonada pelos passos seguia o ritmo imposto pelo jogador: mesmo que a tragetória mudasse, seu destino era o gol, e isso a dama fez de bom grado.

Cinco vezes a dama descansou nas redes, cinco vezes fez a platéia ir a loucura. O último tango entre as sete lagoas fez o torcedor celeste respirar os buenos aires da vitória. Vitória que não tem o gosto de revanche, pq revanche seria uma final, mas um gosto de superação. Nem nos meus melhores dias diria que o Cruzeiro, La bestia negra do continente, iria ganhar do Estudiantes de La Plata por um placar tão elástico. E ganhou, e arrasou, e trucidou o oponente. A torcida, que foi a platéia perfeita justamente porque jogou junto, lado a lado com os guerreiros em campo, foi vital para manter a concetração dos guerreiros e acabar com a do Verón.




A quarta-feira foi digna, foi perfeita para a dança. O último tango em Sete Lagoas vai ser lembrado para sempre nas páginas da história do futebol, porque o Estudiantes NUNCA havia perdido em uma competição internacional por um placar de cinco. Poucos sabem o gostinho que é disputar a Libertadores da América. Para muitos é bobagem, para nós, amantes do futebol, é uma das competições mais marcantes, mais dura e mais melancólica que existe, pois um errinho pode ser fatal.
Mas só aqueles que são guerreiros e humildes reconhecem a derrota, aprendem com ela e com isso, crescem e arrasam com o oponente na próxima oportunidade. Fizemos isso e provamos que para viver uma Libertadores é preciso muito mais do que torcer por um time alheio ao seu, é preciso coragem para enfretar a derrota, assumir seus efeitos, lutar e voltar com tudo. Só sabe o que é uma Libertadores quem realmente vive uma Libertadores ao lado de seus guerreiros. E isso, poucos no Brasil podem definir. E nós, guerreiros e guerreiras azuis sabemos muito bem!

Acelera Cruzeiro, acelera que o continente pode ser seu. E será pela terceira vez, pois La Bestia Negra voltou.




Seguidores