Breve histórico...

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"O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove." Fernando Sabino

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Uma pausa para a sétima arte

  
Durante o ano de 2013, tive a oportunidade de assistir quatro filmes incríveis, que entraram na minha lista de “melhores filmes pra assistir sempre”. Primeiro quero falar sobre Django Livre. Com a estética própria de Tarantino, o filme simplesmente arrebenta. Confesso que dormi durante o filme, mas não porque ele era ruim e sim porque era tarde e eu não estava no clima. Contudo, quando o vi de verdade, percebi a força daquela narrativa. Pra quem não assistiu, não sabe o que perdeu. Para mim, que gosta de filmes de Western, o filme é um prato cheio, além da narrativa bem costurada. Escrevendo, revejo as cenas finais de Bastardos Inglórios, e automaticamente penso em compará-los. Não há como compará-los, justamente porque lembro a sensação de quando assisti Bastardos no cinema: “poha, isso não aconteceu, mas essa cena é do caralho!!!”. No filme sobre Hitler e Cia. Ltda., a história é manipulada, há aquilo que eu chamo de “licença poética”, contudo é chamado pelos críticos de “suspensão de descrença”. Eu não tive essa suspensão na minha primeira reação com o Bastardos Inglórios, diferente do que aconteceu quando assisti Django Livre. Por isso acho o Western de Tarantino de 2013, um filmaço pra aplaudir de pé no cinema, na sala de casa, em qualquer lugar em que ele esteja sendo exibido. Muito foda.



O segundo filme que eu assisti, nessa seqüência foda de filmes que eu gostei, listo A Viagem. Um filme difícil de compreender e muito longo de se assistir (nada comparado ao Senhor dos Anéis), entretanto, cada minuto sentadinho vale a pena. O tema do filme sempre me chamou atenção: vidas que se cruzam, vida após a morte, reencarnação... Tudo isso com uma pitada daquilo que não curto muito: ficção cientifica. Confesso (mais uma confissão, meu Deus), que  não estava muito empolgada para assistir, fui convencida (e que bom) pelo meu querido e amado companheiro, Guil (Já falei sobre ele no post do futebol). Não temos o mesmo gosto para filmes, contudo, gostamos muito de cinema, e esse elo é forte o suficiente para confiarmos no gosto um do outro. Nem sempre com sucesso, mas sempre na esperança de uma grande sessão. Voltando ao filme, acabei de rever o filme, e me senti mais a vontade em falar sobre ele, e percebi que ele, A Viagem, acabou sendo sim, o filme mais foda do ano de 2013, superando o meu querido amado idolatrado filme Pacific Rim – Círculo de fogo e do fodástico super super Gravidade. O filme dos diretores de Matrix me surpreendeu porque soube tratar com suavidade, beleza e pitadas de humor, um tema que atormenta a humanidade. O conteúdo filosófico/místico/ religioso casaram bem com a ficção cientifica e com a primorosa maquiagem dos personagens. Outro detalhe que gostei, foi a marca de nascença que pertencia aos personagens, como elos que os uniam no tempo e no espaço: um sinal de nascença em forma de cometa que aparecia em várias partes do corpo. Me senti ligada, porque sempre gostei muito do meu sinal no ombro, e sempre pensei que ele era mais que uma “simples manchinha”. Se tenho elos com outros “personagens” desse mundão, ainda não sei, mas o Guil também tem um sinal quase no ombro. Seria um sinal?


O terceiro que assisti e que quase ficou em primeiro lugar, é o MARAVILHOSO PODEROSO INCRÍVEL PACIFIC RIM- CÍRCULO DE FOGO. Porque eu gostei? Porque simplesmente o filme tem robôs gigantes e tem os monstros japoneses que saem da grande fenda do pacífico. Poha gente! É tudo o que a gente curtia na infância! Os Power Rangers lutando contra aqueles bichanos, ou  Evangelion com seus robôs super Mara! Para ficar mais perfeito, o filme tem HISTÓRIA! Não é um Transformers  da vida, que tem a magia dos Autobots, mas que não tem uma história concisa e que faça sentido para dar sentido à narrativa. Guilhermo Del Toro continua figurando entre os meus “diretores queridinhos” e vai continuar por muito tempo, justamente porque ele é FODA. O Cara é foda. E daí que ele tem medo de Anões? Ele fez alguns dos melhores filmes da minha lista, como A espinha do diabo  e o Labirinto do Fauno, além de contribuir com os filmes baseados no livro foda do Tolkien, O Hobbit. SÓ POSSO DIZER UMA COISA: ASSISTAM PACIFIC RIM! Showwwwwwwwwwwwwwwwwwww!


Na lista dos “The Best movie of 2013”, não podia faltar outro diretor de língua latina: Alfonso Cuarón, seu lindo, você arrasou com o Gravidade! Outro filme que EU NÃO TAVA TÃO AFIM DE VER, porque novamente entra aquele gênero que eu não gosto: Ficção. Mas acho que os filmes de ficção que estou vendo estão sendo tão mara, que vou acabar mudando de opinião ou então defendendo a minha premissa de que “não importa o gênero do filme, se ele for bom, ele vai ser bom mesmo (Tá, não faz sentido). Gravidade tem uma estética linda, os atores estão ótimos, e aqui parabéns pra Sandra Bullock, que finalmente se encaixou bem no drama e não é só mais uma mocinha chorona de comédias românticas. Não posso falar muito do filme, aliás de filme nenhum, porque sempre dou spoilers, contudo, posso dizer que depois de assistirem Gravidaade, procurem pelo curta metragem do filho do Cuarón, que dá sequencia a uma das cenas mais emocionantes do filme. É lindo, eu chorei de verdade (novidadeee). O nome do curta é “Aningaaq” e é realmente sensacional. MAS só ASSISTAM depois de GRAVIDADE! PLEASE!

 Ia encerar aqui a lista, mas me lembrei de um filme muito bom, de um diretor foda, mas que pra outros é apenas um diretor que não se preocupa em “preparar” um filme, porque faz dois filmes por ano. Estou falando do Woody Allen e de seu fabuloso (sim, fabuloso) Blue Jasmine. Assisti esse filme no avião que ia de BH para Lisboa e graças a ele, consegui me distrair e perder o medo maldito que tenho de voar. Cate Blanchett simplesmente ARRASA! Que atriz, que ATRIZ!!! Se essa Cate não ganhar o Oscar desse ano, eu juro que será injusto. Ela trás com ela toda a carga de emoção necessária aos filmes de Allen. É como se toda aquela carga emocional que ficou um pouco esquecida pelo diretor em Você vai conhecer o homem dos seus sonhos  e Meia-noite em Paris estivesse de volta. É simplesmente um filme para ver e rever sempre.



Espero que minha listinha ajude. Escolhi os melhores do ano na minha concepção e na forma como eles realmente me tocaram. Gosto de filmes para pensar, gosto de filmes que me tocam e me deixam “fora do ar” por dias, semanas, meses...

Esse, acho, será o último post de 2013. Talvez eu volte para um balanço, mas não garanto.

 

#BjoMestiçagem

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

UMA RESENHA POR FAVOR!

Dizem que somos loucos da cabeça.
Somos loucos da cabeça porque amamos o Cruzeiro e é isso que interessa. O ano de 2013 começou de forma muito desfavorável para o Grande Cruzeiro. Apesar da campanha brilhante no Campeonato Mineiro, perdemos para o Atlético-MG, ajudando a consagrar o “mito” do estádio Independência. No Mineirão, o Atlético não agüentou a força azul que começava a emanar das arquibancadas do Gigante da Pampulha, mas mesmo assim, o resultado não foi suficiente para que o Cruzeiro conseguisse o Campeonato Mineiro. Foi duro, foi triste, entretanto, foi ali que nasceu a força necessária para vencer o ano de 2013.
Enquanto o Atlético-MG abusava da sorte ( e hoje eu posso dizer isso de forma segura) e contava com as mais diversas ajudas do plano espiritual (afinal, foram promessas, mandingas, orações, oferendas das mais diversas), o Cruzeiro ia, aos pouquinhos montando o seu time. Aqui eu preciso confessar que durante boa parte do primeiro semestre eu queria a saída do Marcelo Oliveira e que achava o presidente um cara muito “gente boa” para ser presidente de um clube como o Cruzeiro. Quis a vida (e graças a Deus e a Allah, quis a vida) me dar um belo tapa na cara, tapa que gostei tanto, que agora dou a outra face pra apanhar mais: Marcelo Oliveira mitou.
O Atlético-MG revertia todos os jogos no Horto, “Caiu no Horto, ta morto” nunca fez tanto sentido como na campanha brilhante do clube alvinegro na Libertadores. Sempre acho que a confiança nascida de bons resultados é aquela alavanca para times que não são excepcionais darem show. Vi isso com o Atlético-MG e vi isso com o Cruzeiro.
Sim, o time do Cruzeiro não tinha nenhuma estrela internacional em campo. Montillo havia sido vendido para o Santos e o Alexandre Mattos contratava nobres desconhecidos. Contudo, chegou o mito. Dedé veio para salvar uma zaga  completamente deficiente há anos. Depois chegou Dagoberto, o Dagol que tanto deu trabalho pra gente. Everton Ribeiro veio como um ilustre desconhecido para o lugar de Montillo e Júlio Baptista chegou num carro forte. Antes deles, Nilton, Bruno Rodrigo, Diego Souza  e Ricardo Goulart chegaram de forma a sacudir o outro lado. Os atelticanos diziam que 2013 seria o ano do rebaixamento, de uma campanha fraca do Cruzeiro, que esses nomes eram nomes falidos.
Se não deu certo, vai embora. Alexandre Mattos, o outro mito do Cruzeiro trocou um fraco Diego Souza, que não conseguia se encaixar no elenco, por um Willian. Willianquem? Respeita o moço!
E fomos vencendo. Começou o Campeonato Brasileiro e fomos. Quando o Cruzeiro perdeu para o Grêmio, ainda no turno, pensei que seria mais um ano para “disputar uma vaguinha na Liberta”. Mas não. Me enganei de novo e que bom que me enganei! O Cruzeiro começou uma arrancada maravilhosa, histórica, histérica para os atleticanos e chocante para o resto do Brasil. Marcelo Oliveira montou um time redondinho, com peças de substituição e uma união de tirar o chapéu.
Vieram os pontos, vieram os jogos, vieram as contas. Como eu sempre digo, para ser Campeão Brasileiro, qualquer time que não seja do eixo Rio-São Paulo tem que disparar. Tem que fazer melhor que a campanha marco do Cruzeiro de 2003. Quantas vezes fomos garfados? Tanto Cruzeiro quanto Atlético, porque lutávamos ali, páreo a páreo com os líderes? 2010 que o diga...
E esse ano eu tive dois grandes companheiros de luta e de glória. Dois conquistadores! Um é meu irmão, meu parceiro, meu querido Guilherme Couto. O outro é meu melhor amigo, meu companheiro, meu amante, meu amor Guilherme Nascimento. O primeiro chamo de Gui, o segundo de Guil. O Gui conseguia ingressos pra gente ir pro Mineirão. O Guil me convenceu a comprar uma promoção maluca pra ter certeza que estaríamos em todos os jogos.
Os dois Guilhermes foram os melhores companheiros de Mineirão. Foi com eles que levei meu pai de volta ao Gigante da Pampulha naquele jogo emocionante contra o Botafogo. Naquele jogo, o grande Seedorf tremeu. Tremeu com a força da China Azul, tremeu com a força que emanava daquele Mineirão. E tremeu tanto, que depois daquele jogo, Botafogo foi ladeira abaixo.
Aquela foi a primeira final. A segunda e grande final eu não vi. Meu amor não viu. Mas meu irmão estava lá! Firme e forte, como um baluarte. Com ele no Mineirão é certeza de jogo ganho. Eu e Guil voltávamos de Lisboa. Ansiedade total, eu embrulhada na bandeira do Cruzeiro ia reconhecendo guerreiros e guerreiras que estavam como nós, com o coração a flor da pele. E lá no alto, sobrevoando o oceano, eis a noticia: Cruzeiro 3 x 0 Gremio! O gritou ecoou no meio do vôo! Outros reconheceram o grito de campeão e foi a viagem de volta mais tranqüila que tive. Ainda faltavam mais 3h:30min para chegar em BH e saber se o Cruzeiro era campeão ou se tinha que esperar mais uma rodada.
No meu íntimo eu torci para que o Cruzeiro não tivesse sido campeão e que esperasse a próxima rodada. Eu queria estar em BH, eu queria ver, eu queria sentir! Dentro de um avião não dava! E assim foi, e assim foi.
“Não é mole não, o tri vai ser no Barradão”. E foi. E o Cruzeiro foi campeão com 4 rodadas de antecedência. Coração acelerado, choro mais livre do que nunca, tremedeira dos pés a cabeça. TRI CAMPEÃO! Mas como a felicidade incomoda, os queridos atleticanos queria tripudiar sobre nossa vitória. Além de plagiarem nossa música com uma versão terrível de “Pro Marrocos sou quem vou”, plagiaram a bafonica Valesca Popuzada, dizendo assim: “Buzina mais alto que do Marrocos eu não te escuto”.
E de novo, desenterraram a praga de 2009. E piadas com Estudiantes, Verón e até piadinha sem graça do presidente Kaiu veio no Estado de Minas. Mas futebol é um dos esportes mais vingativos de todos. O futebol não gosta de soberba, não gosta de mimimi, não gosta de “já ganhou”. E se pro Marrocos eles foram, não deu tempo nem de andar de camelo, porque Allah os despachou de volta.
Nunca, em meus dias mais otimistas, eu pensava que um time marroquino desclassificaria o todo-poderoso Atlético Mineiro (todo poderoso pro Kaiu ne, gte). Meu pai passou a seguir as noticias do Bayern de Munique, e todos os dias me ligava pra dizer que não ia dar, que o Atlético ia ser campeão mundial e que a nossa paz estava no fim.
Sim, nossa paz. Porque atleticano tem um problema gravíssimo: como nunca joga nada, não sabe como se portar perante a zuação alheia. A vida inteira a alegria deles era a derrota do time azul. Gozaram anos com o pau alheio, eram a torcida arco-íris do Brasil. Se eles ganhassem o Mundial, título que, infelizmente não temos, a chatice ia ser homérica. Eles, que não tem história, iam tripudiar, da mesma forma que o Diego Tardeli fez com a vitória maravilhosa do Cruzeiro no campeonato Brasileiro. Como já disse por aí, não sou vingativa, mas a vida cobra caro por tudo que fazemos, e a conta do Atlético-MG foi paga e muito bem paga no dia 18/12/2013.
“Raja Casablanca? Que time é esse? Seca mariada! Monterrey vai ser cozido que nem Tijuana”. Mas a história não mente, jamais vai mudar. Time grande respeita os adversários, time grande sabe aceitar a derrota, torcedor (to falando de torcedor e não de gente que tem bosta no lugar de cérebro) sabe brincar e aceitar quando a brincadeira é inversa. O Atlético-MG precisa aprender mais humildade. Acho que essa foi a lição dada pelo simpático time marroquino: HUMILDADE.
Jogaram com raça, jogaram contra o ídolo deles, o Ronaldinho Gaúcho. Jogaram por suas famílias, por seus torcedores, por Allah. Jogaram com um propósito: o de vencer para a sua torcida, para o seu país. Qual era o propósito do Atlético-MG? “Ganhar para acabar com o Cruzeiro. Ganhar para humilhar a mariada”. Por ultimo era ganhar para dar alegria a tal massa. Kalil, meu querido, você e nem ninguém vai destruir o Cruzeiro. Sabemos muito bem que esse é seu grande sonho, você mesmo já disse. Um clube com a grandeza do Cruzeiro não se ergue da noite para o dia. Vocês já passaram dos cem anos e ao primeiro Mundial que vão, dão vexame. Antes a vergonha era a nível nacional, agora é internacional. O Ronaldinho Gaúcho ajudou a “abrilhantar” a pequenez do clube. Nem ele, o grande Ronaldinho endeusado pelos marroquinhos pôde salvar o Galo de perder pra si mesmo.
A arrogância, eu sempre disse isso para meu pai, sempre foi o problema do Atlético-MG. A arrogância de seus jogadores, de seus torcedores. Amigos, a humildade é algo precioso na vida e muito mais no futebol. Jogo é dentro de campo, aprendam isso.
Só faço essa resenha gigantesca falando do Altético-MG, porque hoje vi o quanto há torcedores que não aceitam o outro lado. Eles nos zoam, nos brincamos, mas se nos os zoamos nos transformamos em “cruzeirenses ignorantes”, como escreveu uma amiga minha. Tudo bem agüentar um ano inteiro a zoação de vocês, mas a gente não pode NE? Ta serto.


Contudo, devo dizer que estou felicíssima com ano do futebol mineiro. Sou cruzeirense mas fiquei feliz sim com o titulo do Atlético. Fiquei feliz porque sei separar a minha paixão da razão. Sei que para Minas Gerais e para o próprio futebol brasileiro, dois times de fora do eixo Rio-São Paulo ganharem as duas mais importantes competições da América é um bom sinal. Sinal de que o futebol brasileiro não está sendo “espanholizado”. 
E obrigada Allah, meu bom Allah! Obrigada meu Deus, meu bom Deus! Obrigada aos meus santos, anjos, orixás, guias e minha Nossa Senhora pelo ano bom, pelo ano maravilhoso! Obrigada por me protegeram das ações dos idiotas sem cérebro que vão ao estádio para brigar, quebrar, roubar, matar... Obrigada por me guiarem pela mão, na alegria da vitória ou na tristeza da derrota. Mais um ano se acaba, que 2014 as emoções sejam em triplo!!!
 SALAMALEICO!






















segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O preconceito nosso de cada dia.

Vou ser sincera, destruíram minha auto-estima ainda quando era adolescente. Destruíram da pior maneira e, até hoje, sinto as reverberações do desmoronamento daquilo que eu gostava de ser.
Mas vou ser mais sincera ainda: sobrevivi e sou muito feliz como eu sou. Do desmoronamento, eu construí um reino lindo, colorido e com unicórnios, rá!
Brincadeiras a parte, acabei de ler um texto de uma adolescente negra que se intitula "Não nasci pra ser bonita: a autoestima da mulher negra". A jovem de 16 anos soube lidar melhor do que eu com 16, com as coisas desse mundo preconceituoso em que vivemos.
Diferente da jovem Thaís Vieira, não foi um médico que quis me ensinar como eu deveria me vestir, ou usar o meu cabelo. No meu caso foi pior, bem pior, porque o tal do Bullying vinha daqueles que eu achava que eram meus amigos, que gostavam de mim.
No meu caso, o que incomodava era o meu cabelo. O cabelo que não se enquadrava no estilo das minhas coleguinhas de escola, que eram todos lisos. Sim, lisos, nada daquilo que hoje é chamado “ondulado Gisele”. Esse ondulado era abominável para minhas coleguinhas, que viam a chapinha como a melhor amiga.
Só que eu gostava do meu cabelo. Ele era rebelde, era chato, mas era meu e eu gostava dele. Gostava muito de colocar borboletinhas, florzinhas, laços no cabelo. Só que as pessoas me fulminavam, chegava, até mesmo, a me humilhar com comentários desestimulantes e racistas, coisa que na época, eu não percebia, julgava que eu era o problema.
O problema não era eu, era o que eu representava. Aquilo diferente, aquilo que batia na cara deles como algo fora do padrão. Hoje consigo perceber isso, eu era uma afronta. E meio que inconscientemente eu me mantive no meu padrão. Não alisei o meu cabelo como as minhas amigas queriam, não parei de usar meus lacinhos coloridos. E se pensam que isso são coisa de criança e adolescente, até hoje sofro com perguntas do tipo “porque você não escova o seu cabelo? Ele deve ficar tão mais bonito...” ou “porque vc usa essas coisas no cabelo?”
Aliso quando eu quero e não porque querem. Não gosto de padrões porque sofri com esse enquadramento todos os anos da minha adolescência. E esses momentos de agonia ainda me assombram. Já pensei em procurar psicanalista, mas depois penso que esse problema é do outro, não meu. Eu não sou a racista ou machista ou homofóbica ou o Diabo dessa bagaça.
Repassando memórias, acabo de me lembrar de mais uma cena, e lembro exatamente de como me senti. A memória é algo incrível, com um estimulo conseguimos nos lembrar de todos os detalhes de algo que estava guardado no mais profundo lugar de nosso imenso guarda-roupa cerebral.
Era intervalo e estava na fila da cantina e uma coleguinha minha, morena também, com uma pele linda de herança indígena, olhou pra mim e disse: “você não tem vergonha dessa sua cor encardida?” Eita que isso foi uma bigorna gigante caindo sobre mim. Não lembro de uma reação sentimental, lembro de uma reação prática: peguei meu braço e colei no braço dela e falei: “uai, mas são quase da mesma cor”. Ela deu de ombros dizendo que eu tava doida. E eu continuei insistindo, “ei, a nossa cor é parecida!” O que me incomodava naquele momento, hoje eu consigo perceber, não era o fato dela me chamar de encardida, era o fato dela não se enxergar também como tal.
O preconceito é assim. A gente enxerga no outro, aponta no outro, aquilo que a gente odeia na gente. E quer ver o outro sofrer da mesma forma que sofre. A menina ter me chamado de encardida me deixou triste porque realmente eu não tinha uma cor bonita, eu não era dourada, eu não era bronzeada o tanto que EU queria. É engraçado, que olhando para esse passado, eu vejo que eu me forjei buscando a diferença, diferença que era apontada como algo negativo. Pelo menos consegui transformar algo que destrói uma pessoa em algo positivo.
Todo mundo sente falta da época da escola. Incrível como eu não sinto nenhuma. Não sinto nenhuma porque as pessoas que eu, na época, julgava como amigos eram aquelas que mais me afundavam, que mais me denegriam. Claro que não generalizo, tenho amigos de infância e adolescência que são eternos, apesar de alguns terem orgulho demais para atravessar a ponte... mas isso não vem ao caso agora.
O que vem ao caso é que admiro demais a moça linda que escreveu esse artigo e fez aflorar em mim várias lembranças que eu já havia esquecido. Há casos piores que o meu, com certeza. Todos os dias cometemos o racismo nosso de cada dia. Do machismo impregnado em nossos comentários à homofobia em nossos jogos de futebol...

Quando vamos parar de magoar o outro pra sanar nossas falhas pessoais? Porque o que odiamos é aquilo que mais está dentro de nós.


Kellen C. Silva, mestra em História pela Universidade Federal de São João Del Rei & Kellen C. Silva, sonhando em ser paquita. Não realizou porque as paquitas da Xuxa eram padronizadas no loiro médio e platinado.

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

#agosto

Sinto-me comida pelo vento de agosto. Mesmo vento que senti há anos atrás quando você se despediu de mim e disse que nós não poderíamos ser um par. O mesmo vento frio que cuspiu na minha cara, me abraçou e consolou, enquanto ria das lágrimas que caiam lentamente do meu rosto. Eu havia feito um poema para você. Um poema que falava de amor, do amor que estava disposta a doar e você só teria que abrir os braços e receber, receber, receber... e você fechou a porta e trancou a janela. Seus olhos castanhos, que eu queria tanto seguir, se tornaram olhos de distância, de medo, de pena. Sinto agora mesmo a dor que aquele vento, o mesmo que me toca agora, me causou. A turbulência, o soluço, a água quente do chuveiro caindo sobre meu corpo humilhado... Tudo isso era real e eu não via um caminho para redenção, só o vento de agosto me tomava pela mão e cortava e recortava minha face, minhas mãos, minha alma.
Hoje sinto esse vento de agosto, tão cortante e mordaz, que trás de volta a página virada para ser relida e sentida. Hoje você me ama, me quer como par. Tento não pensar nas batalhas perdidas, na estratégia de guerra, nas noites de prazer seguidas de agonia e insônia. Mas agosto me trás o gosto que quero esquecer, me trás as palavras malditas que você jogou ao vento... Jogou ao vento palavras inteiras, frases inteiras, sentimentos inteiros.
E eu tentei buscá-las para mim. Juntei uma a uma e formulei minhas verdades: você não me queria porque tinha medo de ser feliz, de amar e ser amado da forma como nunca foi. Criei verdades enquanto chorava lágrimas de agosto.
Hoje você me ama, hoje você diz que me ama, mas demorou muito para chegar a esse veredicto. E enquanto eu contava meus sentimentos, você apenas ouvia calado. E novamente eu sentia o vento de agosto me cortando a alma, dilacerando cada pedaço do meu corpo quente de mulher. Sinto-me comida pelo vento de agosto. Sentirei-me assim por todos os dias da minha vida, enquanto houver agostos existirá em meu peito essa cicatriz dura e profunda que você me causou com suas ausências. Hoje você me ama, diz que me ama, e me faz muito bem! Hoje me senti comida pelo vento de agosto e meu coração se sobressaltou de agonia, de medo, de solidão. Você que tanto me negou e que me ama, hoje está longe de mim e dentro de mim, mora em mim com uma força que nenhum homem antes de você me fez sentir. E eu tenho medo. Medo do vento de agosto me trazer lágrimas que não poderei suportar, porque você pode até querer ir embora de mim, mas não pode querer ir embora do mundo nosso de cada dia, do cotidiano, da sua própria vida. Não pode me deixar para trás, logo agora que tanto diz que me ama.
Agosto, seu mês bobo, passe logo, passe longe, vade retro.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Camuflagem

Saturada de saudade,
me encontro jogada sobre a cama dura de pedra maciça e eterna.
Saturada de sonhos,
me jogo da última janela do andar de cima da árvore amarela.
Assim triste, assim bamba,
caminho o caminho da dor,
refaço velhos ditados em trocadilhos
e já não sinto mais a alegria antiga.
A Terra do Nunca morreu.
Se não fosse todos os meus acertos,
erros, memórias, tristezas e glórias,
estaria sentada no mesmo banco a olhar a lagoa verde
cheia de capivaras e mariposas tristes.

Sim, estou saturada de tanto sal no meu rosto,
de tanta ausência em meu olhar.
Aquela alegria inerente saltou, caiu, machucou,
meus olhos já não são olhos inteiros e minha alma já não sabe onde vai parar.
Queria um amor eterno, amigos eternos, sonhos eternos,
mas a realidade me fuzilou na parede de Hayez...
Sou o que sou no quadro da parede...

Ando triste, ando cabisbaixa e sem esperança.
Ando chorosa e saturada de todos os sonhos do mundo.
A minha dor é dor de amor, de saudade, de agonia!
Tenho medo do futuro e não quero mais o passado...
O presente não é presente, é um fardo!
E mesmo sem esperança ouço aquela voz lá longe a me chamar,
dizendo que a calma existe para colocar tudo em seu lugar!
A voz castanha que tem o universo inteiro é a mesma
daquele moço que tem poder sobre mim,
poder de acalmar minha alma e trazer consigo a alegria de sonhar!

Novamente abro os olhos para a dura realidade,
se eu não sonhar e me erguer,
terei perdido o presente divino do agora,
meu passado será inútil e meu futuro, uma lápide!
Eis que acordo mais malemolente para a vida,
vida linda, vida feia, simplesmente vida.


Gustave Doré - Descidas no inferno de Dante na obra Divina Comédia

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Carta aberta para você


Amor, que saudade! Saudade virou clichê quando penso em você. Algo como uma repetição inútil que deseja a presença do corpo. Tenho a sua alma e sua voz, mas não tenho seu corpo e seu cheiro. Não tenho o seu olhar no meu olhar. Isso dói, apesar de saber que mesmo em qualquer distancia eu posso te amar. Posso te amar perto, posso te amar longe, posso te amar dentro e fora de mim. Porque sei que posso te amar assim? Simplesmente porque me acalmo ao seu lado, me acalmo na distancia da sua voz ao telefone. Já disse que você tem poder sobre mim. Sempre teve, desde a primeira vez que nos beijamos. Há uma sensibilidade altíssima em mim e como acredito em destino, almas gêmeas e amores eternos, capto a essência do olhar. No começo você me quis ardentemente, eu sempre soube. Seus olhos nunca me enganaram. Conheço pouco de você, mas por esse pouco pauto meus sentimentos. Sua sinceridade me agride a alma desacreditada em verdades. Mas logo aquele desejo sumiu de seus olhos e você se tornou duro, frio, distante. Eu procurava pelo olhar que me encarou quando tudo começou e não o encontrava. Entretanto, de nada adiantaria caras feias, olhares frios. No fundo eu já sabia que eu seria só sua e que você se renderia a mim. Sabia, mas desconfiei do que sabia. Sabia, mesmo quando chorava desesperadamente quando não tinha nenhuma noticia. Sabia quando não sabia. Estava você longe e eu com saudade. Uma saudade feita de fel, não a saudade que tenho comigo que repito como repetimos os clichês. Você foi embora, você voltou. E eu continuei a sua espera, como aquelas mulheres que esperavam a beira-mar os navegantes voltarem. Você voltou e se esquivou. E confesso que não via aquela beleza que vi nos primeiros dias contigo. Pensei que estava errada e estava. Foram poucos dias de tormenta, mas foram dias de tormenta inacabáveis. Soube que esses dias estavam no fim quando novamente encarei seus olhos. Você não se apaixonou por mim a primeira vista e muito menos foi aquele que batalhou para me ter ao lado e nem correu atrás de mim, diferentemente de tudo o que já havia me acontecido. Você me deu trabalho demais. Você me machucou demais. Por isso eu sei que te amo demais, por isso eu sei que posso te amar para sempre. Passei por diversas barreiras para te ter comigo... É incrível como são as coisas dessa vida. Acho bonita toda essa história no papel, mas não consigo me dar bem com ela na realidade. Porque na realidade eu ainda vou guardar certas palavras que foram pronunciadas de forma equivocada. Porque na realidade estou enfadada de tanta batalha contra meu ego ferido. Você me perguntou se eu ia continuar repetindo e repetindo coisas que já não existem mais. E eu disse que sim, sim e sim. Não porque eu queira, simplesmente repito porque não consigo esquecer. Quando iniciei a batalha, no fundo eu desconfiava da minha fragilidade, da minha fraqueza. Meu defeito é guardar palavras, guardar palavras sem contexto. Palavras e ações. Aquela noite, aquele quarto, aquele olhar e aquelas palavras não vão morrer tão cedo. Infelizmente não vão a lugar nenhum. Vão continuar a me atormentar sempre que eu olhar para os seus olhos, porque eu sempre lembro que não fui especial. E sempre me pergunto por que isso tem tanta importância.  Não sei por que isso tem tanta importância, pois mesmo sabendo que hoje você me ama, não consigo esquecer aquelas palavras. E não há como fugir da história, da memória, do passado. Eles estão presentes, estão vivos, são partes do agora. Você foi o mais difícil dos amores e a história de amor mais bonita da minha vida. Você é o meu clichê romântico, você é a minha saudade colorida, você é o amor da minha vida e nossa história apenas começou e vai durar para sempre.

Certeza.
Uma beleza de história não tem final infeliz.

Meu amor pode durar para sempre, só depende da intensidade do seu.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Eleanor


Ando por cidades antigas,
E meu coração parece relembrar
De vidas que nunca tive,
De sonhos que nunca sonhei.
Estou sozinha em um devaneio
Que não tem inicio e nem fim,
Apenas o meio.
Quantas almas eu tenho?!
Uma ou mil?
Acho que minha alma é tão velha
Que já dividiu terra com muita gente...
Uma parte de mim é riso frouxo,
Outra é choro intenso.
Não sei desvencilhar da alma sentimentalidades mesquinhas.
Sou como sou,
Pedra cascalho lapidada como diamante.
Pra quem merece sou diamante,
Bela e dura,
Pra quem merece sou cascalho,
Comum e maleável.
Posso ser um pouco dos dois,
Diamante cascalho,
Bela e maleável,
Comum e dura.
Depende de como você vai me encontrar,
E se vai me encontrar...
Sou poeta e sou vazia,
Tenho dias de trovador
E dias de trovão.
Não sei quantas almas tenho,
E nem quantas vidas vivi,
Mas sou apenas o que me resta no espelho,
Um retrato moreno de cachos castanhos
E olhar sorrateiro de noite de lua cheia...


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