Sinto-me comida pelo vento de agosto. Mesmo vento que senti há anos atrás quando você se despediu de mim e disse que nós não poderíamos ser um par. O mesmo vento frio que cuspiu na minha cara, me abraçou e consolou, enquanto ria das lágrimas que caiam lentamente do meu rosto. Eu havia feito um poema para você. Um poema que falava de amor, do amor que estava disposta a doar e você só teria que abrir os braços e receber, receber, receber... e você fechou a porta e trancou a janela. Seus olhos castanhos, que eu queria tanto seguir, se tornaram olhos de distância, de medo, de pena. Sinto agora mesmo a dor que aquele vento, o mesmo que me toca agora, me causou. A turbulência, o soluço, a água quente do chuveiro caindo sobre meu corpo humilhado... Tudo isso era real e eu não via um caminho para redenção, só o vento de agosto me tomava pela mão e cortava e recortava minha face, minhas mãos, minha alma.
Hoje sinto esse vento de agosto, tão cortante e mordaz, que trás de volta a página virada para ser relida e sentida. Hoje você me ama, me quer como par. Tento não pensar nas batalhas perdidas, na estratégia de guerra, nas noites de prazer seguidas de agonia e insônia. Mas agosto me trás o gosto que quero esquecer, me trás as palavras malditas que você jogou ao vento... Jogou ao vento palavras inteiras, frases inteiras, sentimentos inteiros.
E eu tentei buscá-las para mim. Juntei uma a uma e formulei minhas verdades: você não me queria porque tinha medo de ser feliz, de amar e ser amado da forma como nunca foi. Criei verdades enquanto chorava lágrimas de agosto.
Hoje você me ama, hoje você diz que me ama, mas demorou muito para chegar a esse veredicto. E enquanto eu contava meus sentimentos, você apenas ouvia calado. E novamente eu sentia o vento de agosto me cortando a alma, dilacerando cada pedaço do meu corpo quente de mulher. Sinto-me comida pelo vento de agosto. Sentirei-me assim por todos os dias da minha vida, enquanto houver agostos existirá em meu peito essa cicatriz dura e profunda que você me causou com suas ausências. Hoje você me ama, diz que me ama, e me faz muito bem! Hoje me senti comida pelo vento de agosto e meu coração se sobressaltou de agonia, de medo, de solidão. Você que tanto me negou e que me ama, hoje está longe de mim e dentro de mim, mora em mim com uma força que nenhum homem antes de você me fez sentir. E eu tenho medo. Medo do vento de agosto me trazer lágrimas que não poderei suportar, porque você pode até querer ir embora de mim, mas não pode querer ir embora do mundo nosso de cada dia, do cotidiano, da sua própria vida. Não pode me deixar para trás, logo agora que tanto diz que me ama.
Agosto, seu mês bobo, passe logo, passe longe, vade retro.
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