Noite passada fui enlaçada por outros braços, braços que não eram os seus. A boca do outro me sugou, aquelas mãos me apertaram, e o corpo de outro se chegou contra o meu. Todo o flerte foi maravilhoso, os olhos no olhos, o sorriso de lado, algo meio setecentista me tornava alguém que estava feliz por ter aquele moço estranho me encarando com olhinhos de desejo e curiosidade. Venceu a timidez, veio conversar comigo, misturamos gelo, morangos e chocolates, risos altos, besteirinhas de futebol, correria do dia-a-dia, desejos profissionais e sonhos pessoais. Demorou algum bom tempo até aquela boca juntar-se a minha. Nem pensei muito, deixe-me levar pela música e pelos morangos gelados com o chocolate quente. Fechei os olhos com um sorriso de lado, sorriso de conquista realizada.
Mas durou apenas alguns segundos.
Quando a boca do outro me sugou, meu coração parou, minhas mãos se soltaram, meus olhos crispados deixaram rolar algumas lágrimas pequenas. Não era a boca que queria, o cheiro não era o cheiro que tanto conhecia, as mãos não eram as mãos que me tocavam em sintonia com tudo o que mais desejo. O gosto, o gosto não era o mesmo e nem se aproximava do ideal da minha alma. Por mais alguns segundos quis correr, mas não conseguia porque o abraço se tornava mais apertado, mais rude, gostoso até, mas não era onde eu queria estar, não queria mais estar ali, com aquele estranho me olhando fundo, me tocando o rosto com gesto de carinho e eu não queria que ele me tocasse assim. Estranho. Poderia estar em qualquer lugar do mundo e com o homem mais interessante deles, poderia beijá-lo, mas o gosto, o cheiro e toque não seriam aqueles que eu tanto desejo.
Soltou-me, olhei bem nos seus olhos e disse que precisava mesmo ir. Perguntou porque, porque ir embora tão cedo, a festa nem tinha começado direito... mas em mim havia algo que queria sair correndo, abrir os braços sobre um céu estrelado e olhar a lua distante, tão distante quanto aquele coração que não se abre, daquele coração que se guarda, daquela voz que não fala. Fui embora, não sabia pra onde ir, mas fui embora.
Por enquanto não quero pensar, gostar, sentir outro alguém. Por enquanto prefiro a companhia doce da lua, os caminhos malogrados da vida. Por enquanto prefiro esperar, vou esperar mais um pouquinho. Nunca se sabe o que o outro pensa, o que o outro quer. Apesar de você deixar claro que tem o coração ocupado por amores do passado, acho que também tem medo. Medo de se envolver tanto que volte a ter o coração machucado.
Mas é a vida. Se não houver coisas do tipo, não há beleza no caminho. Pensei que poderia beijar o moço e não me lembrar de você. Mas me lembrei. Queria não ser assim, tão sentimental. Não posso fazer nada. Por enquanto não posso fazer nada, por enquanto não quero fazer nada. Por enquanto só quero ter você, porque em cada cheiro que sinto, procuro o seu cheiro, porque quando olho pro céu, só consigo ver três pontinhos em forma de um triangulo tão sensual quanto a beleza dos seus braços. Vou esquecer o que sinto por você, não de você. Mas não quero agora. Na hora que eu quiser, esqueço. Hoje não esqueço porque quero entrar no seu coração. Vou entrar, não vou machucar ou quebrar nada. Vou apenas me assentar ali, esperando pelo seu bem-querer...