Da mesma maneira que não há sentimento para bonitas cartas
de amor,
não há sensibilidade para compreender a essência de um
Neruda.
Há de saber com quem tu gastas as palavras de Neruda.
Há aqueles que merecem, e por si só, fazem os versos
ganharem forma.
Outros tantos, sequer sabem do que o poeta fala,
porque o poeta fala de sentimentos bonitos
que podem ser transcritos em uma verdadeira carta de amor.
Há aqueles muitos, que até conhecem os sentimentos versados,
mas não merecem recebê-los por minhas mãos.
Da mesma forma que não se deve gastar
os “eu te amo” da vida com pessoas superficiais,
Não devemos distribuir Nerudas ao gosto e ao léu.
Da mesma forma que não há amor,
não se podem haver bonitos Nerudas a enfeitar caixinhas
de correios, tanto reais quanto virtuais.
Deveria saber disso, eu.
Mas ainda insisto em erros.
Nesse nunca mais. Neruda só para aquele que realmente
merecer,
Neruda agora só para aquele que me merecer,
merecer as cerejas e os ipês em flor.
Nada de andar por aí florescendo para quem não sabe sentir,
para quem não sabe demonstrar o sentir.
Nem todas as cartas de amor são ridículas
E nem todos os homens merecem um Neruda.
"Quando não te doeu acostumar-te a mim,
à minha alma solitária e selvagem,
a meu nome que todo afugentam.
Tantas vezes vimos arder o luzeiro
nos beijando os olhos e sobre nossas cabeças
destorcer-se os crepúsculos em girantes abanos.
Sobre ti minhas palavras choveram carícias.
Desde faz tempo amei teu corpo de nácar ensolarado.
Chego a te crer a dona do universo.
Te trarei das montanhas flores alegres,
copihues, avelãs escuras, e cestas silvestres de beijos.
Quero fazer contigo o que a primavera faz com as cerejas."
Pablo Neruda.
Cabe dizer que poucas mulheres merecem um Neruda.
Um dia eu mereci. Espero merecê-lo novamente,
pois florescer assim e fazer florescer é uma dádiva para poucos.