Breve histórico...

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"O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove." Fernando Sabino

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

"Te trarei das montanhas flores alegres" se alegre tu me fizer.


Da mesma maneira que não há sentimento para bonitas cartas de amor,
não há sensibilidade para compreender a essência de um Neruda.
Há de saber com quem tu gastas as palavras de Neruda.
Há aqueles que merecem, e por si só, fazem os versos ganharem forma.
Outros tantos, sequer sabem do que o poeta fala,
porque o poeta fala de sentimentos bonitos
que podem ser transcritos em uma verdadeira carta de amor.
Há aqueles muitos, que até conhecem os sentimentos versados,
mas não merecem recebê-los por minhas mãos.
Da mesma forma que não se deve gastar
os “eu te amo” da vida com pessoas superficiais,
Não devemos distribuir Nerudas ao gosto e ao léu.
Da mesma forma que não há amor,
não se podem haver bonitos Nerudas a enfeitar caixinhas
de correios, tanto reais quanto virtuais.
Deveria saber disso, eu.
Mas ainda insisto em erros.
Nesse nunca mais. Neruda só para aquele que realmente merecer,
Neruda agora só para aquele que me merecer,
merecer as cerejas e os ipês em flor.
Nada de andar por aí florescendo para quem não sabe sentir,
para quem não sabe demonstrar o sentir.
Nem todas as cartas de amor são ridículas
E nem todos os homens merecem um Neruda.


"Quando não te doeu acostumar-te a mim,

 à minha alma solitária e selvagem, 

 a meu nome que todo afugentam. 

 Tantas vezes vimos arder o luzeiro 

 nos beijando os olhos e sobre nossas cabeças 
 destorcer-se os crepúsculos em girantes abanos. 
 Sobre ti minhas palavras choveram carícias. 
 Desde faz tempo amei teu corpo de nácar ensolarado. 
 Chego a te crer a dona do universo.
 Te trarei das montanhas flores alegres,
 copihues, avelãs escuras, e cestas silvestres de beijos. 
 Quero fazer contigo o que a primavera faz com as cerejas."

Pablo Neruda.



Cabe dizer que poucas mulheres merecem um Neruda.
Um dia eu mereci. Espero merecê-lo novamente,
pois florescer assim e fazer florescer é uma dádiva para poucos.




sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Qual é a carta de amor mais bonita que você já recebeu?


Já recebi cartas de amor, cartões, mensagens, bilhetinhos, todos cheios de sentimento verdadeiro. Sim, de um sentimento que brotava no mais fundo da alma e transbordava aos montes para todos os lados. Em cada cantinho do papel existia um pingo de amor, de carinho, de admiração.
Guardo essas cartas, cartões, mensagens, bilhetinhos. Guardo com muito carinho, porque foram sinceras aquelas palavras. Talvez as palavras mais bonitas que eu já recebi em toda a minha vida. E tem dias assim que você se pergunta se aquelas palavras não estão te fazendo falta. E você corre lá, e lê uma por uma, as cartas de amor mais bonitas que você podia ter recebido de alguém.
E ta tudo ali, no preto e branco do papel e da tinta, nos detalhes de cada palavra, no simbolismo de cada papelzinho rasgado, recortado e colado. E você lê coisas e se lembra de como você era. De como você era admirada e amada. Não são apenas palavras soltas no papel, são sentimentos únicos guardados ali, sentimentos que podem até não mais existir, mas está ali como um documento, como uma prova de sua existência.
Cada pessoa é de uma forma e cada sentimento se manifesta de uma maneira. Hoje não há mais cartas de amor, porque o amor não existe como existia...
Hoje, quando vou pegar minha caixinha de lembranças, não encontro lembranças bonitas. Há palavras tão duras e uma sinceridade enorme me mostrando que todo o esforço foi meu, que todas as palavras de carinho e admiração partiram de mim, sem retorno.
Não há amor nessas lembranças. Há desdém, medo, comodismo. E eu sofro. Sofro porque eu tenho a consciência do amor que eu sinto. Sofro porque eu realmente sinto um amor muito mais bonito do que aquele que reli nas belas cartas. Mas sou eu que sinto isso. Não há retribuição desse sentimento, como existia naquelas cartas.
Não sei dizer qual o problema, mas reler essas cartas tão lindas me fez enxergar que eu não tenho nem a metade do que eu tinha, e ando sorridente por ai. Mas reler essas cartas tão lindas, me fez perceber que talvez eu tenha me acostumado a tão pouco.
Não me certifiquei do amor alheio quando me lancei em nova empreitada. Na verdade, fui avisada diversas vezes, mas fui teimosa. Agora só me restam lembranças bonitas dentro de uma caixa lilás surrada. Só me restam àquelas lindas cartas de amor, que hoje me fizeram chorar, simplesmente porque me lembraram de como é bom ser amado em retribuição.
E se me perguntarem qual a carta de amor mais bonita que eu já recebi, não saberei responder, porque ainda espero por ela. Ainda espero. Não sei por quanto tempo, mas ainda espero essa carta chegar...

Renoir, 1891.


quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Te vejo dentro

Te vejo dentro,
aceito esse peso,
essa delícia de te ter assim,
colado, suado, desnudo.

Me vejo dentro também,
dividindo esse peso,
essa ânsia de vida, de vitória,
e me calo e me iludo com a imaginação.

Dois seres unidos pela carne,
enlaçados pela alma.
Parece que, finalmente,
as almas se acertaram. Acertaram os passos.

Se te vejo,
te sinto inteiro nos teus beijos,
e teus olhos,
encantadores olhos oblíquos,

me tomam a alma,
fazem arrepiar todos os cabelos do corpo
e me lançam ao mais puro gozo.
Onde eu me entrego novamente...

Não te quero apenas porque te quero,
te quero porque além do corpo,
quero tua alma,
sugar tua alma como te sugo o gosto.

Quero as entranhas encantadas de palavras,
quero o cheiro perpetuado em velhas páginas,
quero o olhar de criança para o mundo,
para um mundo onde nossas almas se conhecem

e podem se amar.
Se nossas almas se entrelaçam tão bem...
Eu, eu que te vejo dentro,
não consigo mais conter palavras!

Grito alto, falo baixo, imagino e sonho,
com os dias inteiros ao teu lado,
dividindo proezas, brigando feito irmãos,
e se amando como dois selvagens.

Não há mais nada para ser dito,
eu já disse,
Mas são teus olhos oblíquos e teu cheiro,
aquele cheiro de macho,

Que me dominam,
que me dominam por inteira.
Te vejo dentro, me vejo dentro,
não há mais como fugir.

E eu sei que não há mais como fugir,
porque se eu te deixar,
algo em mim morrerá lentamente,
e eu nem imagino o que será de mim.

Se você me deixar,
perderei o rumo,
e o cinza dominará meu mundo,
e é por isso que sei que te amo.

Mas se você me deixar,
saiba bem que irei chorar,
sofrer, despedaçar,
mas seguirei o caminho,

Sem olhos oblíquos
e sem cheiro de macho.
Segurei o caminho sem corpos suados
e almas entrelaçadas.

Mas te vejo dentro,
e mesmo não sabendo de ti,
Você me devora, eu te devoro,
e vamos ambos, devorando a vida.

Compartilharia uma vida inteira com você,
com chatice e rabugice, 
com encantamentos e alegrias.
compartilharia inteirinha derrotas e vitórias...

Compartilho, vivencio, esqueço.
Te vejo dentro,
Eu vejo os teus olhos nos meus olhos,
e nada mais importa,

Nem o que fomos,
nem o que seremos,
O que somos unidos,
é o que me importa agora...

Bruno Steinbach. ”Transmigração”. Bruno Steinbach. Óleo/duratex, 122,5x91 cm, 1998, Mossoró, Rio Grande do Norte, Brasil. Coleção Particular. Catálogo 96.Parte inferior do formulário


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