Já sei,
não posso mais fazer nada...
O meu coração é aquele que rege meus passos tão espaçados
e nesse jardim eu já me cansei de perder.
Mas não posso mais fazer nada...
Porque são aqueles oblíquos olhos que me guiam,
e aquele rosto em preto e branco
é como uma placa que indica a direção para o paraíso.
Ah... quantas voltas ainda tenho que dar,
quantos dragões poderão me ajudar
a chegar ao meu real lugar?
Já não são tempos de fantasia,
o real é como o grande apocalipse de João,
e eu não consigo deixar para trás pequenas coisas...
E corro o risco de ser lançada as chamas pecaminosas
dos homens reais.
Não posso fazer mais nada,
meu coração está completamente envolvido
pelo moço tímido de olhos oblíquos,
aquele mesmo moço que tem poder sobre minha alma,
e que consegue atormentar meus pensamentos...
Ah, que tormento delicioso...
Os sonhos são tão reais e eu acordo sempre extasiada...
Mas os sonhos correm o risco da morte dos deuses...
O tempo da fantasia acabou,
agora o real ameaça,
nem os dragões mais existem!
Todos viraram fumaça! E eu?
Eu insisto em ver tudo com os mesmos olhos,
olhos de criança com uma pitada de malícia adulta.
Não há mais o que fazer,
o apocalipse já tomou minha visão...
Idílica visão do amor,
paradoxal versão da paixão,
entre corpos entrelaçados e almas perdidas,
não consigo parar para raciocinar meu caminho.
Aqueles olhos oblíquos me dominam
e eu não consigo desvencilhar de seu poder.
E nem desejo, por enquanto.
Enquanto isso vou vivendo em um caminho perdido
no jardim da minha casa,
onde a face em preto e branco me tem inteira,
e como um passe de mágica,
domina meus sentidos.
Não consigo esquecer certas mágoas
e sofro.
Não consigo dominar meus desejos
e isso causa dores.
Sou como Cérbero,
um cão demoníaco, maldoso, poderoso,
que demonstra amabilidade a qualquer ser
que consiga dominá-lo com amor.
Sou como Cérbero que espera
pelo verdadeiro domador de demônios,
que espera pelo dom do domador de almas.
Espero que ele não desista de se aproximar de mim...
Essa carapuça que visto é pesada demais,
e preciso ter confiança para arrancá-la.
E já não há mais nada que eu possa fazer,
apenas torcer para que o domador não desista de mim,
como eu não desisti.
Mas ninguém é igual a ninguém e eu sei
que o Cérbero em mim não é um animal fácil...
Nem mil dragões me dominam,
apenas aqueles olhos oblíquos conseguem
trazer um pouco de paz....
Psiqué alimentando Cérbero com pão.