[um bom poema leva anos]
um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto
Paulo Leminski
Se um bom poema leva anos, quiçá uma dissertação...
Confesso! Ando muito mais nervosa, tensa e desequilibrada do que antes. Se meus passos já eram milimetricamente calculados, agora a conta se perdeu de vez! Gostava de planejar cada coisinha da minha vida profissional - porque a pessoal eu deixo pro destino, nunca deu certo mesmo planejar - cada passo a ser dado, quando e onde.
Esses passos foram calculados de forma concreta e certeira até eu entrar no mestrado. Consegui alcançar minhas metas, e novamente calculei: Dois anos certinho, mestrado.
Tenho algumas metas traçadas, objetivos para serem alcançados até determinado período, dessa forma foco naquilo e vou. Hoje, porém, eu confesso, que o destino - o destino que tanto aprecio - fudeu com meus cálculos, metas e planos objetivamente traçados. Há que se dizer também que gosto de fazer as coisas da melhor forma possível e só sossego quando tenho certeza que fiz o meu melhor. Se o que ando fazendo é uma bela porcaria, sou a primeira a atirar a primeira pedra.
Eu atirei, atiraram em mim, e eu cai.
Já era planos perfeitos, metas, foco. Foi o que eu pensei. Quando vi que tudo o que tinha planejado entrava em colapso, pirei. Crise de nervos, manchas vermelhas pelo corpo, enxaqueca, tremedeira, febre, corpo moído. A crise que se abateu sobre mim foi séria. Pensei em correr muito, pensei em me jogar da ponte, pensei em brincar com meus cachorros... pensei muito e chorei. Vi o quanto falhei.
Dormir, não dormia, pesadelos terríveis com banco de dados, professores discutindo, alminhas queimando no purgatório, sessão espírita com o espírito destruindo minhas hipóteses... Eis um sincretismo do desespero. Nem fome andei sentindo, nem chocolate me alegrava, concentração não tinha...
Mas não eram as questões do mestrado que me matavam, era ter errado o cálculo e sentir a falha. Não gosto de perder tempo. Faço as coisas ponderando ganhar mais coisas - quaisquer coisas - em um prazo mínimo de tempo. Planejamento, foco e trabalho. Tudo o que eu mais prezo, escorrendo pelo ralo.
Dói tanto... e minha cabeça fica zonza só de lembrar essa falha.
Aí eu acordei do pesadelo, levantei da cama e pensei comigo: "Planejamento, foco e trabalho. Ainda posso concretizar meu cronograma. Sei o que se deve fazer e como fazer, não sei porque ando a fazer tanto drama!"
A minha parte racional é simplesmente divina!
Agora que alguns sintomas físicos do meu desespero passou, voltei a minha rotina de trabalho árduo e duro. Meus dias de escravidão foram revividos com glória! Sexta-feira, por exemplo, o regime de trabalho ultrapassou as 8 horas. De 9:30 ás 13h, me dediquei a caça de alminhas administradoras. De 15:00 ás 20:30h, me dediquei exclusivamente as minhas almas da senhora das Mercês. E quando minha cabeça já dava sinais de stafa e minha coluna começava a doer, eis que o livro acabou!
A sensação de meta cumprida é mara!
Metas... Não ouvia isso desde 2008, quando fui alforriada... mas eis que o trabalho necessita de um chicote mais rígido. Se eu quero, pelo menos, alcançar um dos objetivos, é fé em Deus e pé na tábua, acelerada e sem drama!
Fiquei chocada com essa "crise de nervos". De dor de barriga a manchas vermelhas. Nunca fui dessas coisinhas meiguinhas de pessoas frágeis... Pelo menos serviu para me colocar no prumo novamente. Não ligo de ficar no claustro, de perder alguns dias de frio e sol quente, de não ver filmes interessantes ou não poder ler meu livro novinho. A sensação de planejamento não cumprido é algo que me dilacera mais do que amor perdido, não correspondido ou platônico...
Casei com a História... quase pedi o divórcio, mas é amor demais. Acho que merecemos uma segunda chance, com um planejamento melhor arquitetado.
Alcançaremos os objetivos! E não vamos nos deixar abater por palavrinhas vis... O bom chicote é aquele que serve pra te colocar no prumo e não para te matar de vez!
E ACELERA QUE É RETA!