Breve histórico...

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"O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove." Fernando Sabino

domingo, 24 de janeiro de 2010

O Silmarillion e "O Dom de Ilúvatar"


J.R.R. Tolkien surgiu em minha vida por um acaso em 2002, quando fiquei fascinada com um cd room que a America Online distribuía sobre o lançamento de um filme: O Senhor dos Anéis. Imaginem! Em 2002, a jovem que lhes escreve era ainda mais “jovinha”, eu tinha meus queridos e saudosos (ou nem tão saudosos) 15 aninhos, ou seja, querendo ou não, a abstração para o mundo de Tolkien ainda era meio complexa para mim.

Mas me fascinei com Tolkien e toda a beleza e poesia da Terra-Média retratada magistralmente pela equipe de Peter Jackson. Virei fã e corri atrás dos livros da saga. Queria saber em cada detalhe dos livros o que era aquele mundo tão fascinante.

Tudo bem, que com meus tenros 15 anos, eu já lia pra caramba e gostava de assistir uns filminhos de vez em quando. Já possuía um senso critico meio que apurado, pois não curtia os funks que minha melhor amiga curtia. Ou seja, já era de opinião. E era também tida como a “doida varrida” que gostava de universos fantásticos. Coisa que não mudou em mim.


Com Tolkien, muitas coisas boas surgiram na minha vida. Queria escrever como ele, apesar de não entender patavinas do que ele escrevia em algumas partes dos livros do Senhor dos Anéis, porém não desisti, porque aquilo tudo me fascinava, todos aqueles nomes, todas aquelas referencias que tinha fora do livro.... Por um instante, passei a acreditar vivamente na existência de uma Terra-Média antes das grandes civilizações históricas do mundo, que poderia ter desaparecido como Atlântida havia desaparecido. Aliás, Atlântida poderia ser parte da Terra-Média...


Não surtei, apenas me apaixonei por J.R.R Tolkien, que virou uma referencia. Depois de Tolkien uma vontade imensa surgiu em mim: o de também escrever um romance fantástico (nos dois sentidos) como Tolkien havia escrito. Sei que NUNCA vou escrever como o Tolkien, mas foi bom acreditar que poderia. Não queria usar das suas referencias. Queria criar meu mundo, criar meus personagens e meu enredo. Foi graças a essa vontade que consegui sobreviver à adolescência e por isso tenho sempre que agradecer a America Online pelo cd room que mandou para minha casa...


Enfim, em 2003 comecei a escrever meu romance intitulado “O Destino e o Fogo”. Mergulhava em mitologia para tentar criar algo original. Depois, lá para 2004, quando estava para me formar no Ensino Médio, me veio à idéia de me basear em lendas e mitologia da América. O mundo que eu queria criar não poderia ser mais eurocentrista. Parecia que algo me chamava à atenção.

É engraçado lembrar, que nessa época já conhecia J.K. Rowling e seu mundo de Hogwarts com nosso querido Harry Potter. Mas o mundo de Potter era um mundo semelhante ao meu, com apenas pitadas de magia, que deixava tudo, claro, mais fascinante. Tolkien era diferente e é diferente para mim. O mundo de Tolkien é algo palpável a imaginação. Você é levado pela sua mente a imaginar cada ser, cada lugar. Já com Rowling, as coisas são mais palpáveis a nossa realidade, até o quadribol é uma mistura fina de esportes conhecidos...


Mas voltando a Tolkien e a mim. Ontem à noite comecei a ler O Silmarillion, um dos livros mais complexos da saga de O Senhor dos Anéis. Confesso que irei ler “O Hobbit” para meus filhos, daqui alguns anos, se Deus quiser, junto ao Pequeno Príncipe, mas o restante da Saga, só mesmo quando eles já estiverem bem maiores...


O Silmarillion me chamou a atenção simplesmente pela beleza das palavras de Tolkien. Ainda quero ler toda a saga na língua original, mas mesmo assim, a sutileza com que ele fala da morte... Achei fantástico o fato de ele dizer que “Já os filhos dos homens morrem de verdade, e deixam o mundo; motivo pelo qual são chamados hóspedes ou forasteiros. A morte é seu destino, o dom de Ilúvatar, que, com o passar do tempo, até os Poderes hão de invejar. Melkor, porém, lançou sua sombra sobre esse dom, confundindo-o com as trevas; e fez surgir o mal do bem; o medo da esperança.” (p.36)


“A morte é seu destino, o dom de Ilúvatar”. A morte é o nosso destino, a nossa passagem para algo muito superior a nossa imaginação. É o dom de Deus. Morrer não é para poucos, apenas para os escolhidos por Deus. O mal, porém, corrompeu nossa visão de morte e passou a designá-la como algo ruim, algo sem esperança. A morte da esperança... A esperança não morre! O medo não pode matar...


A morte é um tema recorrente em Tolkien, e as formas como julgamos a vida e a morte também se encontra presente. Em O Senhor dos Anéis, há uma passagem em que Gandalf fala a Frodo sobre matar, sobre ter o poder de decidir sobre a vida e a morte: “Muitos que vivem merecem a morte. E alguns que morrem merecem viver. Você pode dar-lhes vida? Então não seja tão ávido para julgar e condenar alguém à morte.”

Parece que ele nos fala de questões óbvias! Tolerância e respeito, ter a capacidade de não julgar é um dos grandes dons que poderíamos receber de nosso criador, seja ele Ilúvatar, Deus, Yahweh, Alá ou Krishna. Tolkien não fala muito de Deus ou da presença divina em O Senhor dos Anéis. Os Hobbits não rezam, e nem precisam. Deus está dentro de nós. Somos sua imagem e semelhança, não? Dessa forma, o simples desejo de conseguir algo é uma oração ao nosso criador.

O mundo da Terra-Média me encanta e continuará a me encantar, mesmo daqui cem anos. Ao ler essa passagem no Silmarillion, sobre a morte ser o nosso dom me deixou um pouco menos aflita. A vida corre para todos nós e a morte é algo que chega e que já está marcada desde o dia em que nascemos. É a nossa única certeza. A morte não é algo ruim, como o mal quer nos fazer acreditar. Morrer é encontrar nosso caminho de volta para casa, para as Terras Imortais...

Porém, Complicado é entender a morte para aqueles que perdem quem amam... Dessa forma, este post nada mais é que chover no molhado. Mas pensar que a morte é um castigo é ser “malzinho” demais...

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A misteriosa chama da Rainha de Hanna

Estaria um pouco sensível ao tempo? Acho que não... A memória é algo que impressiona cada um de nós, pois ela pode escorrer entre seus pensamentos nas horas e lugares mais impróprios para tal coisa, basta uma Madeleine como a de Proust, para tudo o que se guardava no mais profundo da sua alma, vir à tona. Todos nós possuímos nossas Madeleines, seja um cheiro de algum perfume, uma música, um nome, um gosto, um gesto, um texto...
Retornando ao campo da Teoria da História, podemos nos deparar com Maurice Halbwachs, que trata a memória como interligada a dois tipos: a Memória Individual e a Memória Coletiva. Tal relação se manifesta, por sua vez, no individuo. A formação da Memória Coletiva é recheada de lembranças individuais, porem, elas não se confundem.
Lendo um maravilhoso livro de Umberto Eco intitulado “A misteriosa chama da rainha Loana”, essas questões tão complexas pulularam em minha mente tão desocupada. Juro que tentei fugir um pouco de textos acadêmicos nesse mês de janeiro, mas como eu já afirmei, a História e suas ramificações estão presente em nós, enraizada em nossa própria vivência, que de vez em quando se torna amplamente vazia, mas mesmo assim estão aqui dentro. Tal questão voltava-se para a Memória e a História. Confesso que tenho pouca carga de leitura para esboçar alguma opinião, porém, devo arriscar.
Umberto Eco, em minha opinião, escreveu um livro simplesmente maravilhoso. Ler sua narrativa é como mergulhar na fala de uma pessoa que está a sua frente contando sobre a melhor fase da sua vida: a infância. A memória escolhe eventos que marcam o individuo. Essa é a memória individual. Seria como uma criança, sem nada entender ainda de mundo, que observa de longe os preparativos de um funeral. Ela sabe o que é a morte, mas não sabe por que aquela pessoa morreu. Apenas repara que durante a cerimônia, há a presença da bandeira do Brasil sobre o caixão e isso a marca. Ela não entende o porquê daquele caixão estar com a bandeira da nação enquanto outros que observou durante sua pequena vida, nunca a possuíram. Daqui algum tempo, ele vai descobrir que aquele funeral era de algum soldado da missão de paz que morreu na tragédia do Haiti. Aparentemente, nenhuma grande ligação se forma na mente da criança. Só daqui algum tempo, quando a História lhe mostrar o acontecimento é que o individuo vai saber que esteve no bojo da história, que presenciou seu fragmento.
Bem, voltemos a Umberto e a Memória. De acordo com Halbwachs, a memória individual não se encontra fechada ou isolada do meio em que se encontra inserido. Muitas centenas de vezes, para se recorrer a algum tipo de memória, nós precisamos de um estimulo, como Proust e sua Madeleine. Interessante é quando Halbwachs cita que a nossa memória pode ser ativada também pelas lembranças de outras pessoas. Ao ler o livro de Eco há uma passagem em que Yambo recorre a Gianni para acender a chama de sua memória. Foi em vão para o protagonista de Eco, que perdeu a memória com um AVC, mas não é em vão para nós.
Acontecimentos coletivos causam lembranças individuais. Isso é fato. Mas as lembranças individuais também ajudam a formação de uma memória coletiva que é construída de acordo com o que nós lembramos, pois existem pontos de referencia na própria sociedade. Dessa forma, para Halbwachs, a única memória verdadeira é a coletiva, uma vez que a memória individual é construída a partir de um lugar social, ou seja, devido a influencia do meio. É como um circulo vicioso.
Umberto Eco, em minha opinião, meio que transita nesses dois elementos da Memória.
Na primeira parte do livro, podemos notar que a Memória que Yambo possui é uma memória coletiva, uma memória que não possui nenhum sentimentalismo presente nas lembranças pessoais. O protagonista sente essa falta de ligação sentimental individual, já que ele não consegue estabelecer a relação que Halbwachs afirma: a de que a Memória Individual só pode ser ativada através da Memória Coletiva.
Como Yambo, nas palavras de Eco: “Desculpe. Não consigo dizer nada que me venha do coração. Não tenho sentimentos, só ditos memoráveis.” (p. 24)
Yambo, meu querido protagonista, na primeira fase do livro consegue falar, citar e lembrar fatos presentes na memória coletiva, coisas como Napoleão e a Guerra do Golfo, mas não consegue realizar uma ligação com seu sentimento de lembrança ligado a tais fatos. Não consegue lembrar o porquê de Napoleão o marcar tanto, por exemplo.
Tomemos cuidado em certos pontos. O protagonista de Eco possuía também uma memória intelectual altamente exuberante. Sabia de cor citações de vários autores, vários fatos históricos, era um homem culto e politizado. Mas não sabia fazer relações de tais fatos com sua vida.
Perder a Memória é como perder sua identidade. Não só a identidade individual como a coletiva, já que se rememoram os fatos, mas não o porquê desses fatos serem tão importantes para o individuo.
Resumindo, o enredo do livro de Umberto Eco é uma viagem a infância de Yambo. Uma narrativa tão rica e ilustrada sobre a Itália dos primeiros anos do fascismo até o final da Segunda Guerra mundial. Entrar na memória de Yambo através de Eco é uma viagem maravilhosa pelo tempo, pela História. Fascinada estou. Imagina, enquanto o pequeno herói do romance se deliciava com livros e histórias Cult e em situações de alto risco e de coragem em sua infância, euzinha só sabia ver televisão e comer chocolates...
Piadas a parte, “A misteriosa chama da rainha Loana” realmente mexeu comigo, pois além de suscitar questões relativas a memória, que é complexa, consegue passar um enredo simplesmente emocionante e daqueles que você não consegue desgrudar. Confesso que demorei a ler o livro, mas porque comecei em tempos de aula. Agora nas férias consegui finalizá-lo e sinto uma nostalgia imensa. Parece que o livro de Umberto Eco foi minha Madeleine, pois rememorei inúmeros fatos dos meus melhores anos da infância...
Enquanto para Yambo a rainha que trazia a chama que teria o poder de fazer sua memória reviver era Loana, para mim, Eleanor, aquela que faz a chama da lembrança arder é a Senhora de Hanna, a jovem sacerdotisa das florestas esquecidas que cultivou questões únicas da minha adolescência. Escrever realmente é a melhor forma de se guardar o presente para o futuro, mesmo que esse presente não seja lá uma grande narrativa, será posteriormente uma chave para as lembranças, caso se sofra um AVC e se perca a memória afetiva ligada à memória coletiva...
Enfim, ler “A misteriosa chama da Rainha Loana”, além de se deliciar com um belo romance, aprende-se muito de História e ainda mais sobre a questão da Memória. Essa questão que suscita grandes reviravoltas no mundo...
Por isso escrevo diários e revejo sempre a minha querida Senhora de Hanna. As vezes é necessário lembrar.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Sobre poeira e tinta...

"Dias assim me acende a lembrança, é como se minha madaleine fosse aquela brisa de fim de tarde entrando pela janela entreaberta do sobrado. Mas o que me acende a lembrança em dias assim, de vento norte, é o cheiro tão característico do incenso de igreja entrando pela janela. Esse cheiro me leva de volta aos anos de 1793, quando passeando pela rua direita me deparei com aquele que seria o amor de uma vida inteira. Não posso deixar de dizer que aquele homem jovem, de cabelos negros como a noite e de olhar penetrante era um homem ideal para se apaixonar. Ao contrário, para mim e para minha condição, era melhor eu nunca me atrever a se quer olhar para ele. Mas como não mandamos em nada, naquela manhã de setembro de 1793, quando os sinos dobravam para a padroeira do dia, Nossa Senhora das Mercês, nossos olhos se cruzaram. Eu era jovem como as primeiras rosas da primavera e ele era um distinto e jovem imigrante português de poses na cidade. Nunca poderia imaginar, porem a magia que emanava daquele incensário, o barulho intermitente dos sinos e a beleza das ruas enfeitadas nos levaram a olhar um para o outro. Dessa forma, nossas almas se entrelaçaram e nunca mais se soltaram, até mesmo quando ele se casou com outra mulher, nossas almas não se separaram. Para aquele tempo, um homem de poses não poderia se casar com uma escrava, mesmo ela já sendo de sua pose por inteiro, tanto de corpo como de alma..."

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Formei


Discurso de formatura

O encontro com o nosso destino as vezes se dá lá na tenra infância, quando ainda crianças nos deslumbrávamos com as aventuras do arqueólogo Indiana Jones ou com as aventuras de bang bangs de far western que fazia-nos pular da poltrona, ou ainda quando em frente a TV, assistíamos sem entender muito bem o porque de jovens nas ruas com caras pintadas. Mas mesmo sem entender nada do que estava acontecendo, nos sentíamos atraídos por esse mundo tão contínuo e em perpétua mudança.
Fazer história foi uma escolha, que muitos dos nossos amigos, conhecidos, parentes, professores e até mesmo pais não compreenderam muito bem, afinal, no término iríamos nos transformar em professores. E daí sermos professores? Só porque, o salário não é alto, só porque temos que enfrentar uns diabinhos de alunos e também ensinar coisas fascinantes e fazer com que elas se tornem fascinantes é tarefa árdua e nem sempre reconhecida. Mas saibam que não podemos deixar de dizer, prazerosa.
A história tem um enigma que se esconde em cada rosto, em cada linda, em cada objeto. Porém, não se enganem amigos, ao pensar que o historiador volta seus olhos apenas para os vestígios, como artefatos, paisagens ou máquinas. O objeto do historiador é o homem, pois a história é o homem, como diz Lucian Febvre, e as ações são realizadas por eles. Somos caçadores de carne humana, como afirma Marc Bloch.
Nossa jornada pelos meandros da história começou bem antes, muitas vezes ainda na infância, porem o encontro com a nova vida de graduando se deu em 2006, quando muitos de nós tomamos a difícil decisão de partir dos nossos lares, de deixar nossa terra para correr atrás de um sonho, que hoje finalmente se concretiza. Buscamos construir nossa história no bojo da História e podemos dizer que São João Del Rei nunca mais será a mesma sem nós, historiadores de alma e coração e gulosos por opção.
Não podemos deixar de relembrar o primeiro dia de Aula, um encontro com o curso, com os futuros amigos e colegas, veteranos e com o trote. Acho que todos nós passamos a amar um trote engraçado, amigo e consciente, seja ganhar, ou dar. E nos ganhamos um trote inesquecível de se ver, de se sentir, um trote que passamos para nossos calouros, como uma tradição inventada, mas tão profunda, que não conseguimos mais viver sem. Foi graças ao trote, que nos conhecemos, trocamos telefones, trocamos a sensação de insegurança, medo e também compartilhamos o nojo daquele chiclete esquisito verde... enfim, era o nosso rito de entrada.
Durante quatro anos, compartilhamos vocabulários e sotaques diversos. Houveram choques culturais, brigas ideológicas, batatas no labareda, coca-cola no trailer, sorvete a noite em julho, fugas espetaculares de lugares de estágio e trabalho. Trabalhos compartilhados, viagens e programas furados, algumas reprovações, choro, perdas, ganhos, amigos, inimigos, colegas, agonia e êxtase.
Hoje, nosso rito de saída é permeado pela lembrança, pela memória. Espero que ninguém tenha guardado memórias traumáticas do curso, apesar de existir n possibilidades para tal. Como nossa primeira prova de graduação, em Leitura e Produção de texto. Como não se lembrar daquela prova bem ao estilo ensino médio condensada a questões tão acadêmicas! Quanta saudade do ensino médio ainda sentiríamos! E quando fomos apresentar nosso primeiro seminário de graduação?! Não podemos esquecer o medo de errar nas aulas de introdução a sociologia, com a vergonha de falar em público. Afinal, nós éramos ingênuos, crus e calouros!
Descortinou-se para nós experiências da Antiguidade, a simbologia da Idade média, as navegações da Idade Moderna, as Revoluções da contemporaneidade... Como esquecer aquela aula de História Medieval em que o Moisés utilizou de recursos didáticos visuais! Os nossos gritos ecoaram por todo o campus Dom Bosco, principalmente quando olhamos para Carlos Magno e afirmamos: “COMO ASSIM! A TERRA NÃO ERA REDONDA NA IDADE MÉDIA”! A terra nunca deixou de ser redonda caros amigos, mas para os homens daquele tempo, ela era achatada... Descobertas assim nós empolgavam e nos levavam a pensar, a começar a cultivar cada vez mais profundamente uma visão crítica da história, dos homens. Fomos aprendendo e amadurecendo. Já não gritávamos quando algo assim era nos dado pelos nossos mestres. Mesmo que ainda, nos corredores, as provas de Tempo, Memória e Patrimônio, América e Brasil II, III E IV nos tirasse o sono e nos desse uma vontade profunda de gritar SOCORRO, não desistimos, mesmo depois que elas aconteciam, o sentimento de inaptidão só piorava. Como uma amiga me disse, ao se deparar com o Lula na prova sobre Getúlio, só nos restava pular da ponte... Felizmente não pulamos, pois temos a capacidade de nos surpreender. Não sabemos o poder do nosso conhecimento até ele ser avaliado. Bem, Sabemos... Porem a duvida faz parte do aprendizado e o mestre, precisa existir para nos guiar pelos melhores caminhos.
Foram quatro anos de risos, de noites sem dormir, de festas, de choros, de médias perdidas, de provas inacreditavelmente fechadas e zeradas, de descobertas documentais inimagináveis, de encontros e desencontros. Hoje quando nos perguntarem o porque de nossa escolha, não diga simplesmente que foi porque tinha curiosidade em um tema, ou que um professor ou alguém lhe serviu de inspiração, ou ainda o fato de presenciar acontecimentos históricos ou por respirar a história. Diga que a sensação de ser um detetive do passado é a melhor do mundo. Diga que a sensação de compartilhar conhecimento com seus alunos é a mais prazerosa possível. Diga que ler em letras garranchadas do século XVIII aquele nome que procura é um êxtase sem tamanho. Diga que admirar o homem em todas as suas instâncias é tocar um mundo no qual todos nós viemos e estamos inseridos.
Diga que vivemos e que só vivemos bem quando sabemos de onde viemos. Quando mitos são quebrados e a verdade ressurge suja de pó e infestada de traça, podemos dizer enfim, que somos como poetas que escrevem a verdade nua e crua, sem a beleza dos versos. Diga que somos a poética da beleza dos fatos e dos atos e que nossa profissão é a busca pela verdade histórica, mesmo que essa verdade nunca seja completa. Diga que somos quase profetas, diga que Deus não pode mudar o passado, mas que nós Historiadores podemos. Eis o poder de nossa profissão. Eis a responsabilidade que carregamos, caros amigos. Como nosso Paraninfo nos avisou em uma de suas aulas de Teoria da História, nós temos a profissão mais influente do mundo. Somos responsáveis pela vida e, muitas vezes, pela morte. Nós somos responsáveis pelo pensamento crítico. Somos responsáveis pela visão de mundo. Somos teóricos comprometidos com a verdade, e essa verdade precisa ser levada a todos, e nós, como professores que também somos, somos aqueles que influenciam o mundo e temos a formação que muitos gostariam de ter, mas que não tiveram a nossa coragem de buscar a verdade por baixo de camadas de poeira e tinta.
Eis que somos como aquele Indiana Jones de nossa infância. Escavamos a verdade e como ele, temos obrigação de passá-la para nossos alunos, para o mundo. Somos também como os heróis de far westen, porque temos que desbravar terrenos inóspitos e enfrentar desafios para encontrar o nosso tesouro, que é o homem em toda a sua beleza e poesia, porém não apenas em ações do passado. Somos como aqueles jovens de cara pintada, pois tentamos entender o mundo atual, olhando com atenção a História que se escreve em cada segundo. Escolhemos fazer história simplesmente pelo fato de ainda acreditarmos na beleza e poesia da humanidade! O homem não pode ser o lobo do homem, e enquanto pulsar essa esperança em nós, o presente será uma dádiva e o passado não mais um exemplo, mas uma lembrança de como agimos para que existisse um futuro melhor.
Hoje podemos dizer que valeu a pena todas as noites acordados, seja estudando ou farreando. Pois hoje somos historiadores e, sobretudo, arautos da poesia da história, somos professores sim! E com o orgulho de termos a melhor profissão do mundo e a mais legal também.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Arautos do Tempo

Primeiro post do novo blog. Acho que finalmente vou conseguir ter um blog e dar continuidade para ele.
O "Arautos do tempo" tem uma finalidade bem simples, que é a de levar a poesia da história a todos. A História é tão preciosa. A minha intenção é simples perto da importância dela para todos nós.
Bem, primeiro post so para inaugurar mesmo!
saudações,

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