Amo-te, meu querido,
não como antes,
bem mais.
Amo-te quando as tempestades se aproximam,
e quando a calmaria domina.
Amo-te bem mais do que imagina,
porque já não há mais como descrever
o que sinto.
Fica pequenininho, sem sentido, clichê.
Você acordou as borboletas.
Por um tempo pensei que você
também as mataria com sua ausência,
com seu silencio...
Foram as borboletas que não me deixaram
deixar-te partir.
Do beijo que me teve inteira,
eu queria provar todos os dias.
A janela fechada, a luz do dia quente,
e nós dois entregues ao encontro.
Mas não havia palavras,
as borboletas se alegravam e morriam.
Era como um banquete para o condenado:
alimentava a alma e cortavam-lhe a cabeça.
Tenho acordado cedo,
porque tenho sonhado muito,
fico querendo acordar logo
e pegar meu lugar no mundo.
Que mundo, me perguntam.
Eu, muito feliz digo:
O mundo que eu sonho.
O mundo que você sonha não existe.
Eis a pedra jogada, o sonho rasgado,
a realidade dura arrancando minhas entranhas.
Eu, que já tive todos os sonhos do mundo,
não quero mais ter que acordar no mesmo.
Há tempos eu via a humanidade com bons olhos,
mas hoje, já não vejo.
Acordo cedo todos os dias
e tem dias que nada me faz sorrir.
Um sorriso por dia me bastaria,
mas o sorriso muitas vezes
me vem dos animais,
que sorrindo me ligam ao mais belo do mundo.
Queria sorrir pelos homens e mulheres,
mas eles não sorriem,
eles apenas sobrevivem
ostentando aquilo que os matam.
Como eu queria olhar para o outro
e não enxergar o egoísmo de cada dia.
Enxergando esse egoísmo,
acabo me tornando assim.
Odiamos aquilo que temos
e não assumimos.
Sou uma egoísta filha da puta,
que prefere o conforto à luta.
Tenho acordado cedo,
porque tenho sonhado muito,
mas não me levanto,
pois não pertenço a esse mundo...
Minha alma cheira a mofo,
meu coração é de papel velho,
minhas palavras não são doces,
e eu não sou boa como pensam.
Por isso minha rigidez,
por isso a minha tristeza,
enxergar no mundo que amo,
todas as minhas partes de aspereza.
Prefiro o silêncio e o vazio,
na escuridão do meu quarto
me tranco para não ver a hora passar.
Tenho sonhado, mas não quero acordar...
Porque foi em Diamantina, muitas vezes ele disse, que se apaixonou por mim. Porque foi em Diamantina, eu sempre soube, que ele descobriu que era apaixonado por mim.
Esbarrei sem querer no passado. Era de manhã, fazia frio e eu não tinha ainda aberto os olhos da forma correta. Tropeçando nos meus próprios pés, para variar, entrei na casa de fora para dar bom dia ao Jack. A calopsita mais humana da face da terra já estava de pé, irritadissímo com a ausência do seu som e com o barulho da natureza. Ao ligar o rádio acabei batendo a cabeça fortemente na estante, tudo balançou e enquanto eu dizia "aiaiai, minha cabeça", algumas caixinhas despencaram. A estante velha de guerra se manteve em pé, mas fez o trabalho de mensageira do tempo (ela e minha cabeça).
No chão, duas caixas de papelão: uma roxa, de sapato, e uma redonda bonitinha, daquelas de bombons. Ao olhar para as duas caixas no chão, um turbilhão de memórias invadiu meu coração. Peguei primeiro a redonda e a abri. Ali dentro as palavras traziam de volta todo um passado, algumas coisas boas, alguns momentos lindos, muitas saudades. Eram cartas trocadas com meus amigos, eram bilhetinhos de romance escondido em sala de aula, eram fofocas, apostas, colas, saudade.
Reli alguns pedaços de papel com um sorriso bobo na face. Outra hora caia uma lagriminha, mas o sentimento era irreal. Era como se eu pudesse voltar. Como se eu pudesse sentir tudo aquilo de novo, mas sem o drama, sem a dúvida, com controle, feliz.
A segunda caixa eu sabia, que era muito especial. A caixa roxa colorida guarda apenas uma história. A história de amor mais bonita, registrada em fotos, cartas, origamis, emails, sms e mensagens no Orkut. Ao abrir a caixa me deparei com uma carta, escrita por mim, mas nunca entregue. Reli. Tudo o que justificava uma vírgula e o ponto final estavam ali. Nuas, bem fundamentadas, bonitas e sem nenhum ódio ou raiva. Fiquei orgulhosa da minha maturidade, afinal já fazem quase quatro anos que as escrevi.
Ao fechar a minha carta, abri o álbum de fotos e revi meus olhinhos de felicidade. Revi meus olhinhos de pesar. A gente sempre diz que não sabe quando o fim de aproxima, mas nossos olhos sempre sabem. Basta olharmos nossas fotografias antigas para detectar os sinais.
Ao observar aquelas fotos, todas muito bonitas (eu era mais jovem e um pouco estranha, só que tinha braços mais bonitos, rs), senti necessidade de reler algumas coisas e sabia que as coisas escritas eram muito mais bonitas que as fotografias antigas.
Reli apenas os emails e os recadinhos do Orkut. Se fosse ler as infinitas cartas, perderia meu dia (ou ganharia, não sei), só que não senti necessidade de reler tudo. O que li me deixou feliz. Vi minha teoria na prática. Essa minha história é o exemplo máximo daquilo que digo para minha jovem amiga apaixonada: Se joga. Não precisa temer o tempo. Tempo é relativo. Já levei apenas cinco dias e já levei um ano para ouvir um "eu te amo", e os dois foram sinceros.
Reler aquelas mensagens me deixou feliz por me lembrar que fui importante na vida de alguém. Que em algum momento eu fiz a diferença. Palavras são tão lindas! Escritas então, elas se eternizam. Atualmente existem outros mecanismos para o relacionamento e todos eles são ótimos e válidos. Do Whatsapp ao Skype. Elas não deixam você se esquecer e te lembram a todo momento que existe, mesmo que longe, alguém muito especial pensando em você.
Mas escrevi mais, não por causa do encontrão com meu passado. Escrevi mais para uma amiga apaixonada. Não se pode controlar tudo, tentamos sempre nos controlar. Mas quando a paixão nos pega, é preciso saber que por ela vale correr todos os riscos. Que a paixão é muito mais que palavras bonitas, é sintonia, é saudade, é esse aperto no peito quando não tem notícia. O tempo é relativo. Cinco dias ou um ano, não importa. O que importa é o rebuliço que isso trás pra alma, e na mesma intensidade desse rebuliço vem a calma, aquela coisa boa que a gente nem sabia que existia.
Medo?
Todos temos. Relacionamentos terminam, começam, terminam. Sofrer? Todos sofremos. Contudo, ficamos mais vivos! A vida passa a ter cor. E mesmo que você caia do voo, só de voar já vale a pena.
Talvez a história termine. Talvez não. E se terminar, que ela tenha valido a pena pra você. Só pra você.
Termino desejando que todos tenham uma caixa dessas em casa...
"Das marcas que tenho, as de amor são as mais belas.
Da história mais bonita,
guardo numa caixa roxa colorida,
lembranças daquilo que a memória
deixou escapar...
Mas que, sem querer,
me transformaram nessa melodiosa
romântica desesperançada..."
Kell e os Origamis que ganhava de presente. Debaixo deles, a caixa roxa.
Quando me sento calada, ao lado de lembranças tão distantes, me sinto como um passarinho preso na gaiola, com saudades daquilo que não vai voltar.
Dos meus olhos lacrimosos, o que tenho mais saudade é daquele sorriso largo, que se abria cada hora que eu falava algo bobo ou de quando, juntos, descobríamos algo novo. Nada disso mais volta, nem o nascer do sol daqueles dias eternos em que eu me sentia unicamente a mulher da vida de alguém.
Anos se passam num piscar de olhos e as lembranças acabam se tornando um bom lugar para revisitar em dias de chuva, de frio ou de passeio de ônibus. Sentir o que já não existe mais, mas que continua em algum canto vivo, é bom. É bom saber que tudo o que se foi, foi bem feito, foi único, acabou bem acabado, mas deixou uma pontinha de saudade.
Tem coisas que não se repetem (e ainda bem que não). Há aqueles amores quentes que amolecem a alma e que quando acabam, não rompem com o coração, pelo contrário, o deixa mais forte para receber o próximo presente da vida. No meu curto espaço de vida tive alguns amores. Alguns partiram meu coração, outros colaram, muitos tantos eu joguei fora. Daqueles que ficaram me ensinaram a ser uma pessoa mais feliz, mais humana e cada vez mais romântica.
Sou uma menina sonhadora e um pouco romântica... tudo na mesma proporção da mulher realista e dura que existe em mim. Na grande maioria do tempo vivo com a pele da mulher dura, difícil, que não acredita mais na humanidade mesquinha. Debaixo da carcaça dura, tem lá aquela moça sonhadora, que acredita que o mundo pode melhorar. Quando essa face vem a tona, assusta e mostra toda a incoerência da minha alma. E esse é um ponto a ser dito: sou incoerente, sou de lua e mudo de opinião quando me dão bons argumentos. Entretanto, não leiam isso como uma personalidade volúvel. A única coisa que sei que não sou.
O romantismo me atrapalha. E a racionalidade também. Parece que nunca estou satisfeita, que sempre há algo que me falta e eu acabo cobrando demais de quem está ao meu redor e, sobretudo, de mim mesma.
Ando pensando muito na vida e nas cobranças que ela me faz, e nas que me faço. Parece que não tenho mais tempo ou que eu tenho todo o tempo do mundo. Acho que a crise dos vinte e poucos anos finalmente me alcançou, trazendo com ele toda a carga vivida nesses vinte e sete anos.
Não me arrependo de nada. Faria tudo novamente. Dos fins aos meios, dos meios ao começo. Não preciso mais me sentir como a única mulher na vida de alguém, pois hoje eu tenho a certeza e as provas mais lindas do mundo. Cada lembrança acumulada deixa marcas. As minhas tem sido boas. Os caminhos tem sido generosos e os sabores, os melhores. Acho que tudo o que vivemos é importante para valorizamos sempre as nossas conquistas, nossas paixões, nossa alma.
As saudades se misturam, as lembranças mudam a cada segundo. A vida é boa, mesmo o mundo sendo tão ruim (nem sempre). Acho que tudo isso é pra dizer que estou feliz por ter em meu coração algumas incertezas gostosas (nem sempre). O ar falta, mas agora não a certeza. A direção que meu coração aponta é para a felicidade. Mesmo nadando contra as marés e deixando olhinhos de decepção para trás. Não dá mais para parar e é isso que me preocupa.
Acho que isso é uma página de diário.
Assim, com carinho, me despeço.
Assinado: Eu.
Todos os dias meus olhos marejam quando o vejo, erguido solenemente no meu caminho. Nossa relação é mais antiga do que imaginam. Na barriga da minha mãe eu já te visitava. Você é a minha casa, quintal da minha infância, sonho da minha adolescência, refugio da minha vida adulta. Você é o lugar onde eu encontro a felicidade na sua forma mais pura, onde o transbordar dos mais variados sentidos é o que completa minha alma.
Todos os dias eu penso nisso, quando da janela do meu ônibus, eu te circulo. E ao te circular eu lembro de todas as batalhas que presenciei, ao vivo ou a cores pela tv. Cada vez que passo por ali, meu coração dispara, minha mente viaja no tempo, me encontrando pequena ainda, agarrada ao meu pai, andando em volta de árvores e carros estacionados. Era tão bonito aquele verde... Era tão bonito ver as pessoas se misturando ao marrom do chão batido, com o verde das árvores, com as cores dos carros, com os gritos dos ambulantes. Desde sempre ali era meu lugar. Nunca me senti tão bem em um lar, como me sentia ali e como me sinto hoje.
Quando passo por você e o vejo imponente em sua nova forma cinzenta e fria, meu coração se alegra de uma forma que eu não consigo explicar. Você é meu lar, a extensão do meu quintal. Onde eu levo meus problemas e os jogo para o alto, pegando de volta apenas sensações que fazem a vida valer a pena.
Exagero? Creio que não, pois a vida só tem sentido quando despertamos em nós coisas boas, quando despertamos o melhor que podemos ser.
Muitas vezes, o gigante cinzento de alma azul aguça o lado ruim das pessoas e isso me mata lentamente. É como se uma faca fosse entrando devagarinho na minha alma, dilacerando cada momento inesquecível que vivi e vivo ali. É terrível pensar que ele desperta nas pessoas coisas ruins. Não consigo acreditar que pessoas possam matar por causa do que o gigante defende e guarda em suas entranhas.
Contudo, para mim, o lar que meu pai me deu ainda quando nem entendia de bola, é o melhor lugar para criar laços. Criar laços de amizade, companheirismo, solidariedade na tristeza, mesmo que por 90 minutos, apenas.
Apenas 90 minutos que mudam a vida de qualquer pessoa.
Não foi meu pai que me fez gostar de futebol, e não foram as visitas ao Mineirão que me transformaram em amante desse gigante e não foi por influência ou forçação de barra que eu amo o Cruzeiro Esporte Clube, foi a vivência, foi o enxergar a vida, foi sentir aquela pulsação dentro de mim de forma involuntária. Não se torna cruzeirense, você nasce. E você nasce torcendo pra qualquer time, você não se torna torcedor, você é torcedor!
Só aqueles que tem amor ao futebol e uma entrega involuntária ao seu time de coração entende o que eu falo. Você pode esquecer da vida e da hora do jogo, mas quando lembra... Ah, quando lembra, quantas sensações percorrem seu corpo, mente e alma? Só é amor aquilo que te causa alegria, tristeza, raiva, entrega. E todo dia, quando eu passo pelo Gigante cinza de alma azul da Pampulha, eu lembro de quem eu sou, de onde eu vim e das coisas que aprendi com o futebol: respeito, companheirismo, amizade.
Trabalho cada vez mais para melhorar minha conduta como pessoa, nas entranhas do gigante. Ali, os companheiros que estão sentados ao meu lado, são meus irmãos. Ali, estamos todos juntos. Nós pulsamos o coração do gigante. Nós somos a alma, nos somos uma nação inteira de guerreiros da paz. E não importa que em 90 minutos o céu se torne o inferno, pois sempre teremos a possibilidade de reverter o inferno em paraíso. E sempre temos a certeza dos rastros da memória, das conquistas da História. Porque como já dizia aquela música, a história não mente, jamais vai mudar, sempre verei meu Cruzeiro jogar pra ganhar.
Somos Cruzeiro. Mas também somos futebol, e ser futebol é ter a alma cheia de emoções. E ter a alma cheia de emoções é viver!
Se você é torcedor, você também é futebol e sabe que, se por um segundo você desisti, sempre tem a possibilidade humilde de voltar.
Porque o futebol é amor sofrido e lindo. Aquele amor que você sabe que é eterno, com altos e baixos, com chacota ou não... Amor é amor, não se explica, se sente.
Eu amo futebol e estou fechada com o Cruzeiro. De todas as batalhas, de todos as derrotas e vitórias, a retribuição é sempre prazerosa. Cair faz parte do show. E levantar de forma épica, é dar o show.
"Eu queria não ganhar todos os títulos da minha carreira e ganhar o título contra o preconceito contra esses atos racistas. Trocaria por um mundo com igualdade entre todas as raças e classes. A gente tenta esquecer, competir em campo. Fico chateado com isso em pleno 2014, um país tão próximo da gente, mas infelizmente aconteceu. Já joguei longe, joguei vários anos na Alemanha e nunca vi isso na minha vida." Paulo César Tinga, após o jogo contra o Real Garcilaso em Huancayo, no Peru.
OS LIBERTADORES DA AMÉRICA Roberto Saavedra Walker - fonte: http://blogdodelamuta.blogspot.com.br/2010/07/origem-do-nome-copa-libertadores-da.html
A competição mais importante e tradicional da América começou para o time do Cruzeiro. Começou com um jogo difícil e triste, e não difícil e triste pela estrutura, pelos jogadores adversários, pela ausência da água no vestiário, pela altitude ou do placar de 2x1 para o Real Garcilaso. Difícil e Triste pela atuação da torcida peruana em meados do segundo tempo de jogo.
Tinga, um dos jogadores mais carismáticos do Cruzeiro, sempre se destaca na partida, seja pelos toques de bola, correria ou seja pelos dreads que ostenta. Contudo, ontem Tinga não se destacou por nenhum desses motivos. Infelizmente, o buraco foi mais embaixo e deixou uma legião (e que bom!) de pessoas indignadas:
Toda vez que o Tinga colocava o pé na bola, o estádio vinha abaixo com vaias e com sons que pareciam imitar um macaco.
Parece mentira, se a gente conta assim. Mas infelizmente foi verdade e acendeu em mim várias perguntas sobre o cotidiano de nosso futebol, que acaba sendo um reflexo de nosso dia-a-dia.
O Brasil é mestiço, isso não se pode negar. Contudo, o preconceito existe e atua de forma tão sutil quanto atroz. Disfarçada de "brincadeira", as ofensas enchem os lugares. E nesse quesito, o racismo faz companhia a intolerância religiosa e a homofobia. Tinga ficou chateado de ver um povo mestiço como a gente, o vaiar em pleno século XXI. E isso não serve apenas para os peruanos, serve para nós também, brasileiros.
Não somos uma democracia racial. Não somos um país que respeita as minorias. Não somos um país que cuida de suas feridas, ao contrário, nós somos um país que gosta de deixar feridas abertas e sangrando.
Sangrei ontem e continuo sangrando. A Libertadores tem esse nome em homenagem aos "libertadores da América". Homens que lutaram para libertar a América do controle das metrópoles europeias e que queriam instaurar um sistema mais justo para aqueles que estavam vivendo aqui. Simon Bolívar foi um dos mais notáveis libertadores. Bolívar era um dos libertadores que queria o fim da escravidão. O nome da competição foi duramente maculado ontem a noite em Huancayo e deixou milhões de pessoas em estado de perplexidade.
Será?
O futebol é um dos esportes onde a manifestação das torcidas é sempre algo que chama atenção, seja pela festa bonita que faz no estádio, apoiando o clube e seus jogadores ou seja em atos de vandalismo, violência e preconceito. O estádio de futebol é o local onde todas a máscaras caem. Lá, xingar o juiz ou a torcida adversária abre caminho para a "brincadeira do cotidiano" se transformar em violência, tanto física quanto moral. Os atos de violência são, nada menos, que a materialização das palavras de "brincadeira" (e aqui, eu infelizmente acabo me enquadrando) e ofensivas que usamos contra os adversários.Nem todos possuem a capacidade de abstração para separar uma brincadeira de uma ofensa (isso porque a dita brincadeira não é brincadeira pra quem é o alvo) e nem todos que ofendem estão brincando. Eis o ponto.
Todo dia a gente "fala, zoa, humilha" o outro e diz que é brincadeira. Aí, quando chega em um estádio de futebol, onde as emoções estão a flor da pele, o monstro criado pela inocente brincadeira sai. Sai porque não se tem abstração do que se faz. E cá pra nós, quem faz esse tipo de brincadeira cotidianamente sabe muito bem o monstro que alimenta. Se brinca aqui, se fala ali... "O que tem de errado fazer uma brincadeira em um lugar de distração, como o estádio de futebol?". "Bicha, viado, filho da puta, macaco, o juiz vai morrer"... Qual a diferença desses xingamentos em um meio de brincadeiras entre amigos e um estádio de futebol?
Aí eu friso a hipocrisia da sociedade: O problema é que no estádio todos estão vendo!
Se não nos policiarmos contra isso, o ato criminoso do racismo continuará existindo. Falta conscientização, falta educação (e educação que eu falo é aquela dada por PAI E MÃE, porque filho malcriado não pode ser salvo apenas pelo coitado do professor), falta humanidade de se enxergar no outro.
A ofensa aqui é gerada todo dia: contra a mulher que é chamada de puta quando usa uma roupa mais curta, contra o homossexual que é chamado de viadinho só porque expõe sua sexualidade, contra o negro que é chamado de macaco por causa da cor de sua pele, contra o índio que é chamado de folgado porque sua cultura sempre foi diferente da ocidental, contra as religiões afro-descendentes que cultuam orixás e dançam a macumba e são chamadas de "seitas do capeta".
"É só uma brincadeira". Não, não é. Sabe porque? Porque toda brincadeira tem um fundo de verdade e se isso fosse mentira, esse ditado não seria ditado e nem seria popular. Tudo o que falamos e fazemos causa bem ou algum dano. Somos responsáveis por todos os nossos atos, seja em meio a uma roda de amigos, seja publicamente, seja no escuro de quatro paredes. Somos responsáveis por todos os nossos atos e palavras "ditas e malditas".
Nesse ponto, "Liberdade de expressão" não pode ser usada como argumento, porque liberdade de expressão perde a legitimidade quando ela passa a ofender, a humilhar, a machucar o outro.
Reflitam, meus amigos. Nossas brincadeiras inocentes causam danos irreparáveis e muitas vezes ignoramos isso, porque nunca nos colocamos no lugar do outro. Além de tomarem proporções que abominamos, como a de ontem.
E aí eu pergunto: Libertadores, quem somos?
Paulo César Tinga - Jogador do Cruzeiro Esporte Clube que foi hostilizado em jogo da primeira fase da Libertadores 2014.
Sou
historiadora e tenho minha formação voltada para o campo da Historia da Arte. Já trabalhei com
restauração de documentos e sei muito bem os problemas e os riscos de se tocar
em objetos históricos, obras de arte, documentos...
Eu
sei, não deveria dizer isso, mas eu tento tocar. Eu tenho uma necessidade
imensa de sentir com meus dedinhos aquela coisa, tentar pegar com meus dedos as
emoções que transpiraram da mão do artista ou da pessoa que escrevia
determinado documento. Contudo, eu me mantenho firme racionalmente e sigo as
regras de "não tocar", afinal, se todos nós tocássemos nas coisas, elas já teriam
se deteriorado há muito.
Contudo, há
lugares que posso exercer essa vontade, esse desejo, esse fetiche em paz. Em paz
com meu eu racional e em paz com meu eu vândalo poético. Sempre, onde eu
chego, quem chega primeiro é a mão. Ela corre pra tocar a pedra, o aço, a
folha. Os olhos correm para cima, mas as mãos seguem o ritmo lento das superfícies
irregulares, tentando absolver lembranças antigas, sentimentos antigos. Quantas
pessoas já passaram por esses lugares, caminhos, casas, igrejas, castelos e
tocaram o mesmo lugar que eu toco? Quando penso nisso, nesse momento do toque,
eu me sinto conectada há milhões de sentimentos. Já detectei o medo, já
detectei o gozo, já detectei a tristeza.
Ser
historiadora aumentou a minha sensibilidade, que era um pouco afetada para
picos de clichês sentimentais. Quem chora ao sentar numa varanda e tocar o
parapeito e sentir o medo daquelas pessoas que ali estavam, quando avistaram o
exercito inimigo? Quem ri ao tocar pedras pontiagudas e desajeitadas de muros construídos
pelo suor dos escravos? Lugares que despertariam sentimentos inversos, quando
tocados, trazem sua história, ou, o que imaginamos para elas. Da varanda e do
muro, o medo e o amor se traduzem de forma desigual, as vezes equivocada. Porque
sorrir ao passar a mão por cima de tanto sofrimento? Porque chorar ao tocar um
lugar onde se tem a vista das mais belas paisagens? Não sei. São os sentimentos
que me despertam quando eu tento chegar mais perto das coisas que nos tocam por
si mesmas. O meu tato intruso tenta sentir mais daquilo que ninguém vê, daquilo
que traduz sentimentos diversos.
Das
coisas que se tocam, eu gosto dos muros, das paredes, das portas, das igrejas,
dos túmulos, das escadas, das mesas... É uma conversa silenciosa entre a minha
alma e as almas que ali passaram. É como se minha alma precisasse tocar aquilo
para se acalmar. Meu coração disparou tanto quando toquei pela primeira vez um
forro de igreja. Era como se naquele momento eu estivesse ali, conectada com o
artista que realizou a obra. Era como se eu sentisse todos os sentimentos dele:
o medo de cair, o medo de não fazer um bom trabalho, o prazer de pintar, as
tintas nos dedos, os desejos de aumentar a fama de seu trabalho... cinco
segundos de uma conversa inteira.
Das
coisas que tocam por si mesmas, eu só posso dizer que tenho as obras de arte em
grande conta! As pinturas, esculturas, papeis, música... Essas coisas não são
para serem tocadas por nós, pois tocam mais fundo. Sem o tato, utilizo dos
outros sentidos e não sou eu mais que as toco para senti-las, ao contrário,
são elas que me tocam e conversam comigo. São elas que querem entender meus
sentimentos, minha angustia, minha euforia, minhas sentimentalidades mesquinhas.
E quando elas me tocam, tudo o que eu sinto, por instantes, fica estático e eu
sorrio ou eu choro. Não se passa nada nesse hiato de tempo que dura milésimos de
segundo. O choro cai ou a gargalhada salta inesperadamente para quem ta comigo:
São as coisas que tocam por si mesmas enchendo minha alma de vida, e eu não controlo.
Eu nunca controlei.
Acho
que é por isso que gosto tanto de viajar e de conhecer lugares diferentes, para
sentir, para dialogar, mesmo que tudo isso seja apenas minha imaginação
histórica misturada com a poesia da vida...
Convento de Cristo
Não tô encochando o aqueduto não, viu gente!