Hoje, procurando por imagens do século XVI, me deparei com o genial Michelangelo. o Shakespeare das artes. Magnífico em cada obra, admirador da forma nada feminina, mas da forma que contorce, que demonstra como o corpo humano é perfeito. Dentre a beleza e a genialidade dele, foi um pequeno detalhe que me tocou hoje pela manhã. Foi as mãos que se afastam. Não que se afastam assim, nitidamente, não. Não há ali algo como "sai pra lá", é a sutileza que me deixou pensando...
Reconhecem? Sim, pertence a obra magnífica na Capela Sistina. Criação do homem. Quem é quem? De quem é aquela mão que desdenhosamente se encontra a esperar o esforço da outra?

O esforço é nítido na mão que se esforça pra tocar a que está a descansar languidamente, sem nenhum tipo de preocupação. Será que somos assim também? Despreocupados com tudo, sentamos languidamente a espera de milagres?
Ora bolas, milagres acontecem todos os dias, a cada segundo! Basta saber ver! Quando vejo aqueles documentários sobre a vida dos animais, por exemplo, vejo que o mundo é tão complexo que realmente é um milagre a vida. E estamos nós, esperando languidamente a aparição divina, quando o divino se esforça para demonstrar sua virtude e beleza nas pequenas coisas... Mas parece que nós não estamos mais acostumados com as pequenas coisas, queremos ver coisas gigantes demonstrando o poder do milagre.

Michelangelo soube retratar esse desdém com o divino. Naõ que o divino seja apenas o Deus único, o divino está dentro de nós mesmos... talvez ele também queria demonstrar que nós somos tão poderosos quanto Deus, quando a feição do homem é de uma declinação quase tediosa.
O homem não exerga Deus em si e não respeita o Deus que há no próximo. Sim, o "Homem é o lobo do Homem" quando deveria ser o milagre, o compartilhar de ações, a alegria da convivência, o respeito mútuo. Enquanto não enxergarmos o esforço divino para que ocorresse o milagre da vida, não vamos ver que somos imagem e semelhança, que o Deus que há nele, há em mim, e como somos iguais, precisamos nos respeitar. Mas não é isso que ocorre.

Enquanto isso, Deus se esforça pra chegar próximo de nós. Talvez se a gente usasse o espelho de casa para ver além do que se vê, enxergaríamos o esforço divino dentro de nós, enxergaríamos o milagre que é a vida. E assim, o respeito estaria aflorado e os deuses na terra, conviveriam bem.
É, não custa lembrar que a Esperança foi o último item da Caixa de Pandora. Eles, os Deuses, mesmo sabendo da nossa ignorância e inveja, souberam deixar um alento. E minha esperança é ver esses deuses humanos, ver nós todos, em harmonia. Não há uma cidade divina, não há um paraíso ou inferno. O milagre está ai para quem quiser ver e viver, não estrague a única chance de se sentir realmente um deus.
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