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"O diabo desta vida é que entre cem caminhos temos que escolher apenas um, e viver com a nostalgia dos outros noventa e nove." Fernando Sabino

domingo, 8 de março de 2015

Mais um esforço por algo que vale a pena esforçar.

Parece mais uma carta do que um simples post poético. Na verdade, é uma carta que nunca será lida pela pessoa a quem de destina, porque essa pessoa, por motivos dela, não faz mais questão de nenhum esforço feito pelo lado de cá.

Mas não me importo. O último esforço vai se fazer agora.

Das coisas que mais me entristece, é perder pelo caminho pessoas que eu amo. Perdê-las para a morte é inevitável. Dolorido, mas é o curso natural da vida. Contudo, perdê-las para a vida, é caso de sentar e chorar. Porque quando perdemos as pessoas que a gente considera, gosta, ama, quer bem, para a vida, é sinal de que houve uma falha grave.

Falhas graves acontecem. Pedimos desculpas, mas dizem que o machucado não fecha, nem cicatriz vira, é amputado mesmo, não deixando nem mais rastro. Tristeza.

Eu tinha uma melhor amiga que foi se perdendo aos pouquinhos pelo caminho. Esforço de cá, esforço de lá, a vida puxando cada uma pra um lado... puf! Puxou. E puxou em um período feliz, extraordinariamente especial para minha amiga. Momento que eu não compartilhei, momento que eu não pude estar presente carnalmente. Pessoalmente. 

Não há desculpas, não há nada que se diga para remediar. Eu não pude estar presente, e por mais que eu saiba que realmente eu não tenho culpa nenhuma na minha ausência (porque tinha meu lado da vida, coisas aconteceram de forma inesperada, datas, prazos, correria, risco de ficar sem ter onde morar...), eu sei que tenho culpa. Culpa porque não deixei o meu lado emocional falar mais alto, de jogar tudo pro alto e correr em direção ao momento mais brilhante e especial da minha melhor amiga dos piores tempos da minha vida.

Falo sério quando digo que minha vida pré-adulta foi um lixo. Não me sentia feliz, somente em horinhas azuis de descuido, onde podia vibrar e torcer pelo meu time sem ter nada a temer. Sobreviver ao inferno sem uma mão amiga não é fácil. EU tive uma grande mão amiga, que não sabia nem a metade das dores que eu tinha que enfrentar para estar ali, porque eu nunca fui também de falar. Foram os poetas que me salvaram, sempre digo isso. Mas foram os poucos amigos que eu tinha, que mesmo sem saber, não me deixaram desistir. 

E hoje eu nem posso mais conversar com ela, porque criou-se uma barreira invisível. Insisti o quanto eu pude para quebrá-la, mas sinto que, infelizmente, não somos todos iguais, não temos as mesmas vivencias, sentimentos ou simplesmente lidamos diferente com as questões que a vida nos coloca.

Na minha defesa de Mestrado, momento mais importante, até hoje, da minha carreira como Historiadora, minha melhor amiga, aquela que conviveu durante os quatro anos da graduação, os dois de mestrado e que esteva sempre comigo, não pode comparecer. Fiquei arrasada, chorei, emburrei, achei um absurdo ela não fazer o minimo de esforço para estar comigo no momento mais importante da minha vida. Era minha defesa, era meu trabalho, era o momento que eu poderia ser destruída, e não teria a minha melhor amiga ao meu lado para secar minhas lágrimas. Mas  foi o momento de glória, o coroamento de muitos anos de trabalho e ela não estava comigo para brindar o esforço, o meu esforço, a minha alegria.

Doeu muito, mas superei muito rápido. No outro dia já estava com ela no telefone, mesmo de forma um pouco ríspida, mas estava. Depois tudo se dissolveu e continuamos amigas. Não sei se é maturidade ou uma forma leve de encarar a vida. Fazemos o melhor que podemos, infelizmente nem sempre podemos agradar a quem nos realmente amamos. Sofremos sim por causa disso, mas esperamos sempre que nosso amigo entenda. Eu esperava que minha amiga fosse entender e que tudo ficaria bem... Mas não ficou. Infelizmente parece que quebrou e não vai mais colar. Eu tentei com cola, durex, superbonder, mágica, amor. Não foi.

Não gastamos mais tempo jogando conversa fora. Não gastamos mais tempo dando um simples bom dia ou perguntando simplesmente como está sendo a vida, o dia, o namoro, o cotidiano. Não gastamos mais esforço nenhum em querer o bem, mesmo que em dias assim, em dias que o coração da gente se alegra de ver a pessoa no mundo virtual, o dedo coce para enviar uma mensagem, mas se retrai por saber que não é mais bem-vindo.

Por perder um grande momento da vida da minha amiga, acabei perdendo todos. Meu ultimo esforço é esse post vazio, sem nada diretamente concreto pra ela. Se ela ler um dia, que saiba que meu coração ainda se alegra quando vê que ela se transformou numa pessoa muito mais bonita do que um dia imaginei. E que mesmo distante, e mesmo que afastada, tenho meus dias cheios de orgulho dela.

Felicidade é bom, ver quem a gente realmente ama feliz é a dádiva maior da vida.
Que todos os dias sejam felizes, e mesmo que não seja, que tenha forças pra buscar a alegria que sempre carregou no coração.

Saudade sempre tem, mas já dou um jeito nela.
Desculpe novamente por ser uma péssima amiga (mesmo já não sendo).

Um carinhoso abraço...

Kell.

p.s. Não é o último esforço. Sempre vou voltar a encher o saco, ainda mais se ela não der bola mesmo pra mim. Caprinos são chatos.

Uma estória oriental conta de uma árvore solitária que se via no alto da montanha. Não tinha sido sempre assim. Em tempos passados, a montanha estivera coberta de árvores maravilhosas, altas e esguias, que os lenhadores cortaram e venderam. Mas aquela árvore era torta, não podia ser transformada em tábuas. Inútil para os seus propósitos, os lenhadores a deixaram lá. Depois vieram os caçadores de essências em busca de madeiras perfumadas. Mas a árvore torta, por não ter cheiro algum, foi desprezada e lá ficou. Por ser inútil, sobreviveu. Hoje ela está sozinha na montanha. Os viajantes se assentam sob a sua sombra e descansam.

Um amigo é como aquela árvore. Vive de sua inutilidade. Pode até ser útil eventualmente, mas não é isso que o torna um amigo. Sua inútil e fiel presença silenciosa torna a nossa solidão uma experiência de comunhão. Diante do amigo sabemos que não estamos sós. E alegria maior não pode existir.
Rubem Alves

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